Prêmio Nobel diz que o governo brasileiro não levou a pandemia a sério
Vencedor do Nobel de Medicina em 2020, o virologista estadunidense Charles Rice esclareceu em entrevista à BBC que, “como aconteceu nos Estados Unidos, o governo brasileiro não levou a pandemia a sério e, como consequência, muitos morreram desnecessariamente”.
O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia no mundo: tem o terceiro maior número de casos confirmados de coronavírus (mais de 14 milhões) e o segundo maior número de mortes (395 mil).
De acordo com o Nobel de Medicina, “embora Bolsonaro e sua administração sejam responsáveis, a prioridade agora deve ser seguir em frente, agir e enfrentar a pandemia”. “Será um desafio, principalmente com a atual liderança, mas talvez a vontade do povo e a imprensa ajudem”, acrescentou.
Recentemente, Rice também foi um dos três ganhadores do prêmio Nobel a assinar um documento com mais de duas centenas de nomes, entre cientistas e pesquisadores de todo o mundo, para defender a ciência no Brasil e criticar o criminoso descaso do governo.
No documento, os signatários dizem que Bolsonaro “deve ser responsabilizado pela condução da crise sanitária no Brasil, que não somente fez explodir o número de mortes mas acentuou as desigualdades no país”. A carta lembrou do significado perverso do presidente ter se referido à Covid como “gripezinha”, de ter criticado as medidas preventivas, como isolamento físico e uso de máscaras, e de, por “diversas vezes, ter provocado aglomerações”, além de “propagar o uso da cloroquina” e “desencorajar a vacinação”.
“Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária, o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da saúde”, acrescentou o documento.
Na carta, os signatários também destacaram que a ciência no Brasil “vem sofrendo diversos ataques”. “Cortes e mais cortes orçamentários que ameaçam pesquisas e colocam o trabalho de cientistas em xeque; instrumentalização da ciência à fins eleitoreiros como bem mostram as declarações do presidente desacreditando o trabalho de cientistas durante a crise sanitária. Esses ataques, no entanto, vão além do contexto da Covid”, sublinharam.