Após oferecer vantagens, Netanyahu ameaçou o editor de um dos jornais de maior circulação em Israel - foto AFP

“Se você me botar para baixo, vou para cima de você com tudo que eu tenho”, diz o primeiro-ministro de Israel, Bibi Netanyahu, em gravação divulgada no sábado, 26, pela TV israelense Canal 13.

O trecho acima faz parte de uma conversa em que Bibi ameaça retaliar o editor e principal acionista do jornal Yedioth Achronot (Últimas Notícias), o de maior circulação de Israel, Arnon (Noni) Mozes.

A conversa foi gravada em 2014, por Ari Harow, então chefe de Gabinete de Bibi. Harow, que confessa que esteve presente à reunião do premiê com o editor, entregou a gravação à Procuradoria-Geral de Israel, que está prestes a indiciar Netanyahu em três casos nos quais incorreu, segundo a acusação, nos delitos de “suborno, fraude e quebra de confiança”.

Pouco antes da conversa, Netanyahu havia prometido a Noni Mozes apoiar uma lei que prejudicaria o concorrente, jornal Israel Hayom. A aprovação da lei teria como contrapartida posicionamento e noticiário favorável a Netanyahu no jornal de Mozes.

A lei, conhecida como Lei Israel Hayom (Israel Hoje), já havia passado no parlamento por 43 a 23 votos e, com este placar, se vetada pelo primeiro-ministo, dificilmente teria o veto derrubado no Knesset.

O jornal Israel Hayom, é um jornal bancado por Sheldon Adelson, o maior capo de cassinos de Las Vegas e, até o acordo com Mozes, apoiador decidido de Bibi. O jornal é distribuído gratuitamente e a lei aprovada no Knesset, em 2014, oficialmente denominada “Lei de Defesa da Imprensa Escrita”, obrigava qualquer jornal a cobrar de seus leitores no mínimo a metade do preço do concorrente mais barato. Uma lei especificamente contrária ao jornal de Adelson.

Impressiona o fato de que o jornal e seu dono eram defensores de Bibi durante os sete anos de sua circulação mas, o premiê, interessado em ficar bem nas páginas de um jornal de maior prestígio, não hesitou em dar as costas a seu antigo “amigo” na primeira oportunidade.

Agora, com a divulgação das gravações, fica mais claro o porquê desta lei não ter sido promulgada: as reportagens do Yedioth não estavam – na opinião do premiê – suficientemente laudatórias a ele e seu governo.

Principais trechos de gravação, conforme divulgado pela TV israelense:

Netanyahu a Mozes: – Se você me botar para baixo, virei para cima de você com tudo que eu tenho. Vai ser a missão de minha vida. Não deve haver nenhuma situação em que eu fique sob ataque. Tenho aqui as reportagens que você escreve. Elas são todas parciais.

Mozes responde: – Estou dizendo a você. Mande-me um redator. Onde está o colunista com as opiniões?

Netanyahu retruca:  – Não se trata de opiniões. São suas manchetes. Elas são parciais. Tudo é parcial.

Depois de uma longa investigação policial sobre este e mais dois outros casos, a Procuradoria arguiu Netanyahu há pouco mais de uma semana e, segundo os jornais israelenses, deve indiciá-lo oficialmente no início de dezembro.