Premiê Hassan Diab renuncia após dois dias de protestos no Líbano
O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou sua renúncia em pronunciamento em rede de TV na quarta-feira, dia 10. Ele já havia dito, no dia anterior, que “somente com eleições antecipadas o Líbano consegue sair da crise e formar uma nova classe política”.
Com a capital Beirute tomada por protestos que já duram dois dias, invasões a ministérios e cerco ao parlamento, Diab declarou que está “dando um passo atrás para se colocar ao lado do povo e lutar na batalha pelas transformações junto a ele”.
Hassan entregou a carta de renúncia ao presidente, Michel Aoun, após renunciarem todos os ministros integrantes de seu gabinete.
O movimento foi decidido depois da renúncia da ministra da Informação, Manal Abdel Samad; do Meio Ambiente, Damianos Katter; da Justiça Marie-Claude Najm e das Finanças Ghazi Wazni.
Coube ao ministro da Saúde, Hamad Hassan, ao final da reunião ministerial, anunciar à imprensa da renúncia do gabinete e informar que Diab se dirigia ao Palácio Presidencial para entregar a renúncia.
Durante a reunião do seu gabinete, antes da declaração de renúncia, foi aprovado o envio de uma moção ao Conselho Judicial reforçando a necessidade de uma rápida conclusão das investigações sobre as explosões que levaram à morte de mais de 200 pessoas, mais de 5.000 feridos e 300 mil desabrigados, além da destruição do porto da capital e devastação dos bairros vizinhos.
Diab assumiu em janeiro deste ano após a queda do neoliberal Saad Hariri e após meses de luta para manter a soberania, o funcionamento do Estado e tomar as rédeas das finanças do país, inclusive suspendendo o pagamento de três parcelas de pagamentos da dívida em títulos europeus, em paralelo com a apresentação de um plano de renegociação negado pelo FMI, que colocava qualquer acordo dependente da aprovação de “reformas” (termo elegante para a entrega de todo o patrimônio público do país). As negociações foram interrompidas unilateralmente com a negativa de seu governo de entregar o patrimônio público.
Os Estados Unidos deixavam claro, inclusive mediante sanções ao país, que se chocava com qualquer apoio ao Líbano enquanto houver um governo, como o atual, com a participação do partido Hezbollah que resistiu e vendeu a ocupação israelense ao sul do país e ajudou o governo sírio a resistir à tentativa de entregar o país vizinho à sanha de terroristas financiados pelos EUA em aliança com a monarquia saudita.
No pronunciamento em que anunciou a renúncia, declarou que o “crime” (referindo-se à explosão no porto) resultou de “uma corrupção endêmica pela qual é responsável uma elite que tomou conta do país”.
“A corrupção está enraizada em toda parte da vida do Estado” e referindo-se aos poderosos que o antecederam: “Eles sabiam que nós éramos uma ameaça e que o sucesso deste governo significaria uma mudança real contra essa classe que governou o país até asfixiá-lo na fedentina de sua corrupção”.
De acordo com a legislação libanesa, tanto o premiê quanto o seu gabinete ministerial se mantêm no governo do país, mas na qualidade de interinos e discutindo no parlamento a formação do novo governo ou, como sugere Diab, a convocação de novas eleições.