Com este ato queremos abrir uma nova fase de diálogo, de reconciliação", afirmou Sanchez

O governo da Espanha aprovou, nesta terça-feira (22), o indulto para nove líderes catalães que foram presos acusados de atividades separatistas em 2017.

“Com este ato queremos abrir uma nova fase de diálogo, de reconciliação e parar, de uma vez por todas, com as divisões e confrontos”, disse o primeiro-ministro Pedro Sanchez em pronunciamento televisionado em Barcelona, capital da Catalunha.

“A razão fundamental dos indultos é sua utilidade para a convivência. Com este ato, retiramos nove pessoas da prisão, mas somamos simbolicamente milhões e milhões de pessoas à convivência“, assinalou.

“A confrontação não ajudou a resolver nenhum problema, para chegar a um acordo alguém precisa dar um primeiro passo, e o governo espanhol vai dar esse primeiro passo agora”, afirmou Sanchez.

Para a Espanha que é um país multinacional, com diferentes povos e idiomas, como o castelhano, o catalão, o basco e o galego, o direito à autodeterminação acaba sendo o preceito para garantir uma adesão voluntária e mutuamente proveitosa à unidade.

Mas é um desafio. As pesquisas de opinião indicam que cerca de 60% dos espanhóis são contra a libertação dos nove políticos e ativistas que foram presos por sua participação em eventos ligados à tentativa de separação da Catalunha.

Sánchez argumenta que com os indultos pode-se tentar construir um país diferente e mais unido. “Trata-se de oferecer um caminho onde todos possamos caminhar juntos. Minha proposta é dar um passo para um novo projeto de país. Um novo espaço livre dos erros do passado. Já perdemos muito tempo com brigas antigas. O novo mundo que nasce depois a Covid-19 não vai esperar por nós. Esta é a oportunidade de criarmos o novo país juntos para as novas gerações. Não é a ruptura, é a união que é o grande instrumento de mudança. Queremos um novo projeto de país que se expresse em todas as línguas de nossos povos. Poderíamos continuar com o memorial das cobranças, poderíamos continuar indefinidamente com um único e triste brinquedo, como diz Juan Marsé, a discórdia. Ou apostar na harmonia. Foi isso que o Governo decidiu”, disse Sanchez, que terminou o seu discurso expressando que “não podemos começar do zero, mas podemos recomeçar. Catalunha, catalães, nós amamos vocês ”.

“Construir pontes”

Sánchez também enfatizou que os independentistas beneficiados não estão sendo solicitados a “renunciar às suas idéias” e insistiu que seu executivo “continuará a trabalhar pelo entendimento” e quer “construir pontes de harmonia, diálogo, entre pessoas que estamos muito distantes politicamente, mas não podemos nos ignorar”.

Os nove indultados são os ex-membros do governo regional catalão Oriol Junqueras, Joaquim Forn, Jordi Turull, Josep Rull, Dolors Bassa e Raúl Romeva, a ex-presidente do Parlamento Catalão, Carme Forcadell, e os dirigentes associativos Jordi Sánchez e Jordi Cuixart.

Ainda não está claro o quanto a decisão de Sánchez melhorará o diálogo entre Madri e o governo regional catalão, chefiado desde maio por Pere Aragones, um separatista moderado.

Pouco depois da fala do premiê, Aragones disse que os perdões “corrigem uma pena injusta”, mas eram “uma solução parcial e incompleta”. “Nossa proposta é a anistia, bem como o exercício do direito à autodeterminação”, disse.

Aragones pertence ao partido de esquerda ERC, liderado por Oriol Junqueras, o prisioneiro que cumpria a sentença mais longa, de 13 anos, pelo seu papel na crise de 2017.

“Os indultos são um elemento importante, a chave que abre as portas, porque a situação na Catalunha estava totalmente bloqueada”, disse Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona. Mas ele afirma que “o caminho não será fácil”, uma vez que os separatistas catalães exigem o direito de realizar um referendo de independência, ao qual o governo de Sanchez se opõe.