Com os novos casos de contágio da Covid-19 na Itália chegando a 1.200 em 24 horas e com 233 mortos pelo coronavírus desde o início da epidemia, o governo Conte decidiu no sábado (7) colocar em quarentena a região mais rica do país, a Lombardia, cuja capital é Milão, o centro financeiro do país, pelo menos até 3 de abril. A quarentena incluirá, ainda, Veneza, o norte de Emília-Romanha e o leste de Piemonte.

O vazamento da notícia da quarentena na mídia italiana trouxe certa confusão, mas na noite de sábado o primeiro-ministro Giuseppe Conte assumiu em entrevista a decisão.

Com 5.883 novos casos registrados no sábado, a Itália é o país europeu mais atingido pela epidemia do coronavírus e o terceiro maior em nível mundial em contágios, atrás da Coreia do Sul, que tem 7.134.

Mas em óbitos, é pior a situação da Itália: 233 a 50. Mais grave também do que o Irã, que com um número de casos semelhante (5823) teve 145 mortos.

Trata-se do maior número de mortos por Covid-19 em qualquer país fora da China.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), na sexta-feira havia instado a Itália a manter “um forte foco nas medidas de contenção”, depois que o vírus se espalhou para todas as 22 regiões italianas e começaram a ser registradas mortes no sul da Itália, menos equipado do ponto de vista da assistência médica.

As regiões do norte da Lombardia, Emília-Romanha e Veneto são as mais atingidas, representando 85% dos casos e 92% das mortes registradas.

“Eu assumo a responsabilidade política por este momento, nós o faremos”, enfatizou Conte. “Proibição absoluta de mobilidade para aqueles que estão em quarentena, devemos limitar a infecção pelo vírus e evitar sobrecarregar as instalações hospitalares”, destacou.

“Essas medidas causarão desconforto, mas este é o momento de auto-responsabilidade, e não de ser esperto. Acima de tudo, proteger a saúde de nossos avós”, afirmou.

Aos jornalistas, o primeiro-ministro italiano disse que “a partir de agora é recomendável que aqueles com febre superior a 37,5 graus centígrados e infecções respiratórias fiquem em casa, independentemente de serem positivos ou não” e aconselhou às pessoas nessa situação a “entrarem em contato com o médico”.

“Manifestações, eventos, espetáculos de qualquer natureza, inclusive cinema e teatro estão suspensos em qualquer local, público ou privado”, anunciou Conte. Também museus, academias e piscinas.

“As forças policiais terão o direito de inquirir cidadãos que se movem nos territórios afetados pelo coronavírus conforme as novas regras: não é uma proibição absoluta, mas uma redução da mobilidade”, apontou. O objetivo é que as pessoas fiquem em casa o máximo possível e a entrada e saída das zonas de quarentena só ocorra por “razões sérias”.

Bares e restaurantes poderão permanecer abertos das 6 às 18, desde que garantam pelo menos um metro de distância entre os clientes: em caso de violação, a sanção será a suspensão da atividade. De acordo com o rascunho vazado, as violações das restrições poderão ser punidas com multas e prisão por até três meses. Grandes eventos esportivos, como os jogos de futebol da Série A, serão disputados a portas fechadas.

“Venceremos essa batalha se nossos cidadãos adotarem uma atitude responsável e mudarem sua maneira de viver”, disse o chefe da agência de proteção civil da Itália, Angelo Borrelli.

Antes disso, as aulas já haviam sido suspensas nas escolas e universidades do país inteiro até 15 de março. 11 aldeias do norte estavam sob quarentena, abrangendo 50 mil pessoas. A Lombardia tem 10 milhões de habitantes e Milão, 1,4 milhão.

Nem todos se mostraram muito contentes com a intensificação das medidas de contenção, que sem dúvida terão reflexos na economia.

“Não posso deixar de enfatizar que o projeto de decreto do primeiro-ministro está – para dizer o mínimo – bagunçado”, reclamou o presidente da região da Lombardia, Attilio Fontan, ao canal de notícias italiano Sky TG24. Apenas no setor do turismo, as perdas da economia italiana são estimadas em mais de 7 bilhões de euros.

No Vaticano, o Papa fará a oração do Angelus de domingo na Biblioteca do Palácio Apostólico e não na Praça de São Pedro, pela janela, para evitar aglomerações. A oração será transmitida por streaming de vídeo ao vivo “de modo a permitir a participação dos fieis”, segundo a sala de imprensa da Santa Sé. A audiência geral da quarta-feira (11) ocorrerá da mesma maneira.