Premiê Boris diz que “não renuncia” por festas no governo sob lockdown
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson, abalroado pelo escândalo das festinhas na sede do governo durante o lockdown, reiterou no parlamento na quarta-feira (26): “Não renuncio”.
Nas últimas semanas, o escândalo “Partygate” – as festinhas em Downing Street 10, a sede governo e sua residência oficial – colocou o boquirroto primeiro-ministro nas cordas, diante da indignação no país inteiro por ele violar as normas sanitárias instituídas por seu próprio governo, e obrigatórias para todos sem exceção, em meio a pior pandemia em um século, e com a Grã Bretanha fortemente afetada.
Por sua vez, a Scotland Yard anunciou que passou a se considerar competente para investigar as festinhas do lockdown de Johnson, que, quando não está tentando se esquivar do impacto de mais uma efeméride comemorativa recém descoberta, se dedica a insuflar a beligerância contra a Rússia e a tentar tirar as castanhas do fogo para os EUA na Ucrânia.
No parlamento, o líder dos trabalhistas, Sir Keir Stamer, perguntou a Johnson se ele acreditava que a parte do código ministerial que diz que os ministros que conscientemente enganam o parlamento devem renunciar se aplica a ele.
Desde que o escândalo eclodiu, a cada ‘explicação’ o primeiro-ministro se enrola e mente mais descaradamente, o que não o impediu de dizer a Starmer que “não” – “não tenho a menor intenção de renunciar”.
O louro premiê também alegou que o líder da oposição estava tentando fazê-lo comentar algo com antecedência que ele ainda não pode comentar, em alusão à investigação policial em curso.
Starmer insistiu em que “se [Boris] enganou o Parlamento, deve demitir-se”. O que teve a anuência do líder dos nacionalistas escoceses do SNP, Ian Blackford, que ressaltou que o primeiro-ministro estava sendo investigado pela polícia “por violar suas próprias leis”.
Johnson prometeu que irá publicar na íntegra o relatório oficial sobre as festinhas, que está sendo elaborado por uma funcionária sênior, Sue Gray, e irá prestar contas ao parlamento.
No início do mês, o primeiro-ministro se vira forçado a pedir desculpas na Câmara dos Comuns por participar de um dos eventos festivos, que ele alegou ter achado que era uma “reunião de trabalho”.
A mais nova polêmica sobre as festinhas do primeiro-ministro – são tantas, ironizou uma opositora, que é melhor dizer que dia não houve uma -, é a do aniversário de Johnson, em junho de 2020, supostamente organizado pela esposa Carrie Johnson e a qual compareceram 30 pessoas. Inclusive a muito cara e elegante designer de interiores responsável pela reforma de sua residência, Lulu Lytle.
De novo, Johnson asseverou que de nada sabia e que havia sido surpreendido pela festinha surpresa. Um deputado conservador, em defesa do premiê, disse que Johnson “havia sido emboscado” com o bolo.
O que valeu uma infinidade de memes nas redes sociais, sobre “emboscadas com bolos” e outros quitutes.
Como registrou o portal progressista inglês Morning Star Online, “a razão pela qual esses incidentes são tão tóxicos para o primeiro-ministro é porque eles falam de um sentimento de direito e desrespeito às convenções que o povo britânico como um todo observou no que foi uma luta coletiva para lidar com uma ameaça quase sem precedentes à saúde e bem-estar”.
“Para cada um que perdeu um ente querido, foi incapaz de confortar um parente moribundo, forçado a viver isolado, privado das delícias que ser avô confere, ou mesmo forçado a arriscar a exposição ao vírus no trabalho e na prestação de serviços vitais, essas transgressões não são menores. Para milhões de pessoas, isso se tornou pessoal”. “Para eles, Johnson tem que ir”, conclamou.
Segundo a mídia, as investigações incluem, inclusive, fotos de Johnson, durante o lockdown, com outros personagens em mesas com garrafas de vinho, Johnson dançando livre, leve e solto, e outras inconveniências.
Polícia em Downing Street
Embora o escândalo esteja rolando faz tempo, só no início desta semana a Scotland Yard finalmente se considerou competente para investigar os ilícitos. “Posso confirmar que o Met está investigando uma série de eventos que ocorreram em Downing Street e Whitehall nos últimos dois anos em relação a possíveis violações dos regulamentos do COVID-19”, disse Cressida Dick, chefe da Polícia Metropolitana, em uma reunião da Assembléia da Grande Londres na terça-feira.
Dick disse ao comitê que entendia a “profunda preocupação pública com as alegações”.
No parlamento, os deputados conservadores se viram como podem para defender o indefensável. O deputado Mark Jenkinson acusou os trabalhistas de estarem “em conluio” com a mídia para minar Johnson em um momento crítico.
Outro conservador, Stuart Anderson, afiançou que repetidos pedidos de renúncia de Johnson feitos pela oposição estavam “fortalecendo a mão de Putin e desestabilizando as negociações” – afirmação recebida com gargalhadas das bancadas da oposição.
A vice-líder trabalhista, Angela Rayner, renovou os apelos da oposição para que Johnson renuncie. “Com a Downing Street de Boris Johnson agora sob investigação policial, como ele pode pensar que pode continuar como primeiro-ministro?” perguntou.