Manifestantes jogam ao rio estátua de Edward Colston, traficante de escravos - foto AFP

A Prefeitura de Londres anunciou na terça-feira (9) que irá revisar cada uma das estátuas da cidade e estuda remover aquelas que estiverem ligadas a donos e comercializadores de escravos ingleses.

A decisão foi comunicada pelo prefeito trabalhista Sadiq Khan, logo após uma estátua de Edward Colston, um mercador de escravos, ter sido derrubada na cidade de Bristol, durante os protestos deste final de semana contra o racismo e a violência policial. Na oportunidade, os manifestantes também se solidarizaram e pediram justiça para George Floyd, negro estadunidense brutalmente assassinado por policiais brancos nos Estados Unidos.

“É uma verdade desconfortável que o nosso país e a nossa cidade devam uma boa parte do seu bem-estar ao seu papel no comércio de escravos”, afirmou Sadiq Khan. Segundo o prefeito, que é muçulmano, “enquanto isso está refletido em domínio público, a contribuição de várias de nossas comunidades à vida em nossa capital tem sido voluntariamente ignorada”. “Isso não pode continuar”, sublinhou.

A Prefeitura irá criar uma comissão que analisará os nomes de estátuas, ruas e edifícios públicos com objetivo de garantir que reflitam os valores de diversidade de Londres. Para isso, o grupo também fará um estudo para decidir quais os legados que deverão ser comemorados na hora de sugerir novas estátuas.

“Os protestos do Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] trouxeram isso corretamente à atenção pública, mas é importante que nós tomemos os passos corretos para trabalharmos juntos para trazer mudanças e garantir que nós podemos ser orgulhosos da nossa paisagem pública”, destacou Khan.

Dando uma demonstração de ignorância histórica, um porta-voz do primeiro ministro Boris Johnson disse que pensava que o Reino Unido não era um país racista. No domingo, o fracassado ministro da Saúde, Matthew Hancock, ainda se esforçou em tentar desviar o foco dizendo que “a resposta foi por coisas que se passam nos Estados Unidos e não no nosso país”. “Não somos uma sociedade racista”, declarou Hancock, para quem o que existem na Inglaterra são tão somente “injustiças pendentes”.

“RACISMO ESTRUTURAL”

Referencial histórico na luta contra o racismo, a ex-secretária da Juventude, Dawn Butler, acusou o governo de negar deliberadamente o problema pois “há um racismo sistemático e estrutural no Reino Unido”. Agora com a pandemia do coronavírus, a grande quantidade de mortos e contagiados, assinalou, “vemos que isto não é um problema importado”.

O prefeito de Bristol, Marvin Rees, justificou o derrubamento da estátua de Colston, e ressaltou que “é importante escutar os que pensam que esta estátua era uma ofensa contra a humanidade”.

Para o delegado responsável por investigar o derrubamento da estátua, Andy Bennett, disse que compreendia a fúria dos manifestantes em colocar abaixo Edward Colston, “porque era muito simbólica”. Conforme Bennett, “Colston é uma figura histórica que causou um profundo mal-estar na comunidade negra nos últimos anos”.

Historiadores recordaram que a figura de Colston é a existente de um Reino Unido imperialista, com toda a perversão de seu significado. Vale lembrar, apontaram, que Colston transportou cerca de 100 mil escravos da África para o Caribe e os Estados Unidos entre 1672 e 1689, dos quais cerca de 20 mil morreram no trajeto.

O historiador David Olusoga registrou em sua coluna no The Guardian que os britânicos ainda não lidaram com seu passado imperial, como demonstra o lugar central que ainda ocupa nos primeiros lugares do debate um homem que morreu há 299 anos.