O prefeito Bill de Blasio alertou para a insuficiência de equipamentos nos hospitais novaiorquinos. Ele advertiu que os hospitais da cidade de Nova Iorque estão se aproximando da “falta generalizada” de suprimentos críticos para o combate à pandemia Covid-19, como “respiradores, máscaras cirúrgicas”, as coisas necessárias para manter o sistema de saúde “funcionando”.

O alerta foi feito em entrevista ao programa Meet the Press, da NBC. Nova Iorque e seus subúrbios já são o epicentro da pandemia nos EUA, cujo número de casos confirmados supera os 35 mil, com pelo menos 465 mortes. Em contágios, os EUA só ficam agora abaixo da Itália e da China.

Quase metade dos contágios norte-americanos são no Estado de Nova Iorque, onde houve quase 17 mil casos – a maior parte na cidade de Nova Iorque – com pelo menos 150 mortes até à noite de domingo.

De Blasio disse acreditar que abril será “muito pior” do que março e pediu a mobilização dos militares para ajudar na resposta à pandemia.

“Está apenas piorando” , disse ele, acrescentando que “os nova-iorquinos e americanos merecem a verdade”.

O prefeito de Nova Iorque tem criticado duramente a incúria diante da pandemia por parte do governo Trump, a quem chamou de o “Herbert Hoover dos tempos modernos”, em referência ao presidente no poder durante o crash de 1929 e que, como Trump faz agora, chamava a economia à beira da catástrofe de “fantástica” só porque a especulação em Wall Street era descomunal.

Embora tenha passado a encenar que está “no comando” do combate à pandemia, há menos de duas semanas Trump simplesmente minimizava a doença, comparando-a a uma gripe, e dizendo ao país que “vai passar, só fiquem em calma”, é só o tempo esquentar.

De Blasio tem cobrado do presidente que aja para fazer com que sejam produzidos imediatamente no país as máscaras, respiradores e outros itens essenciais para conter a Covid-19.

Ele assinalou que Trump não fez o suficiente para ajudar a cidade em que nasceu durante esta pandemia. “Se o presidente não agir, morrerão pessoas que poderiam ter vivido de outra forma”, alertou o prefeito.

O prefeito pediu 3 milhões de máscaras N95, 50 milhões de máscaras cirúrgicas, 15 mil respiradores e 25 milhões de roupas cirúrgicas, luvas, macacões e outros itens para lidar com a escalada de casos da Covid-19 em curso.

Por sua vez o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, relatou o absurdo de, sob a inércia de Trump, os Estados estarem sendo forçados a competir entre si para “comprar, em algum lugar do mundo, recursos cada vez menores”.

Mesma denúncia feita pelo governador de Illinois, J.B. Pritzker, à CNN. “Precisamos de milhões de máscaras e centenas de milhares de vestes de proteção e luvas e o resto. E, infelizmente, ainda estamos apenas com uma fração disso. Então, estamos no mercado aberto competindo por esses itens que tanto precisamos. … É um oeste selvagem”.

A situação é tão vexatória que o CDC – o órgão federal que centraliza o combate às epidemias – aconselhou oficialmente aos médicos e enfermeiros que prestam atendimento a pacientes infectados a  improvisarem com lenços ou badanas em caso de falta de máscaras cirúrgicas para se protegerem da Covid-19. O que exacerba o risco dos profissionais de saúde serem infectados e que o contágio se espalhe ainda mais.

Apesar de Trump se dizer um “presidente de guerra” e ter feito um decreto que permite a ele, como em época de guerra, determinar às empresas privadas que produzam com urgência os suprimentos críticos para o enfrentamento da pandemia, a ação nesse sentido tem se caracterizado pela lerdeza e omissão, ainda mais para um presidente que é um gatilho tão ligeiro quando se trata de tuitar sandices ou de cortar impostos para ricaços como ele.

Em entrevista ao programa de rádio Democracy Now, de Amy Goodman, a ex-secretária municipal de Saúde de Baltimore e professora de Saúde Pública da Universidade George Washington, Leana Wen, traçou um quadro dramático da situação vivida pelos profissionais de saúde.

“Meus colegas estão implorando pelas mídias sociais. Eles vão para a Home Depot e Lowe’s durante o horário de folga para ver se conseguem apenas uma máscara” e até já têm “pavor de voltar para casa” – por temerem infectar seus entes queridos.

Wen alertou que “primeiro, ficaremos sem máscaras, e depois ficaremos sem médicos e enfermeiros, porque eles ficarão doentes e não poderão trabalhar”. E é injusto – destacou – que, neste momento de uma emergência nacional, “não estejamos mobilizando nossos recursos nacionais para ajudar os mais necessitados”.

A médica relatou como profissionais de Saúde, se viram como podem para evitar o contágio: “então vamos descobrir como pulverizar essas máscaras muito frágeis com álcool, de uma maneira que não seja baseada em evidências e desintegrará essas máscaras, mas ainda é melhor que nada”.

“Meu Facebook está cheio de colegas, com quem eu treinei – enfermeiras, médicos assistentes, médicos – perguntando aos membros da família se eles podem, de alguma forma, procurar em suas comunidades e pedir que seus vizinhos doem máscaras”. Isso simplesmente “não pode estar acontecendo em nosso país”, sublinhou.

“Eu entendo que existem indivíduos que são bons cidadãos e se oferecem como voluntários para costurar máscaras e usar suas impressoras 3D, e as empresas estão fazendo doações. Quero dizer, tudo isso é muito bom e agradável de ver, mas precisamos de um esforço coordenado nacional”, convocou.

“Esta é uma emergência nacional. Se fosse uma guerra, e centenas de milhares de pessoas, talvez milhões, iriam morrer, você não pediria aos cidadãos comuns que fabricassem armaduras e máquinas. Você não estaria pedindo aos soldados que comprassem sua própria munição e a procurassem nas lojas locais. Mas é isso que está acontecendo agora, e é simplesmente inaceitável”