Preço de alimentos aumenta 28% em plena recessão
O arroz é um alimento protagonista da mesa do brasileiro. Diariamente, o alimento consta na cesta do povo brasileiro e nas mesas de almoço e jantar sucessivamente. Porém, o aumento no preço do produto em supermercados brasileiros tem sido criticado pela população, que confirma cada vez mais o preço abusivo do alimento aos consumidores.
Conforme divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-Esalq/USP) na última sexta-feira (28), o preço da saca de 50 quilos de arroz bateu o marca de R$ 93,05, com variação de 4,48%. Um recorde. O aumento do preço da saca acaba se refletindo diretamente no consumidor.
Nesta semana, um pacote de arroz de 5 quilos pode ser encontrado pelo preço de R$ 24 em alguns supermercados de Goiânia (GO), Palmas (TO), Campo Grande (MS), Rondonópolis (MT) entre muitos outros. Desta mesma forma, de acordo com a variação de alguns supermercados, o mesmo produto chegou a custar R$ 42 em diversas localidades.
O aumento na alta do dólar, a entressafra do grão, juntamente com redução da produção nacional e crescimento das exportações também pode estar na lista para esse aumento. A alta no preço dos alimentos acontece ainda em meio a uma recessão de 9,7%, com uma taxa de desemprego de 13,6%.
CESTA BÁSICA
O aumento na cesta básica resulta em grandes dificuldades na vida do povo brasileiro. O governo até então não demonstrou qualquer ação de regulação ou redução na situação, o que leva milhares de famílias a ter que escolher o que vai eliminar de sua alimentação básica.
André Braz, coordenador de índices de preço do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), afirma que um grupo de produtos formado por arroz, farinha de trigo, açúcar refinado, açúcar cristal, frango em pedaços, carne bovina, carne suína e óleo de soja acumula alta de 28,98% no atacado em 12 meses até agosto. Ao consumidor, essa mesma cesta de itens subiu 23,8% em 12 meses.
Quando olhamos item a item, apenas a alimentação em casa subiu bem acima no mesmo período: mais de 11%, de acordo com um levantamento feito pela Fecomércio São Paulo.
O músculo, que é uma opção para economizar, ficou quase 28% mais caro em 12 meses. A laranja-pêra e o leite longa vida também subiram. E até a dupla feijão e arroz não escapou. O arroz, 22% a mais, e o feijão carioca disparou 46%.
“Isso mostra que as famílias estão tendo dificuldade no equilíbrio do orçamento doméstico, principalmente aquelas famílias com renda mais baixa. Então elas estão tirando de algum outro lugar, seja de habitação, seja de saúde para poder ter a manutenção nos gastos de alimentos e bebidas”, diz Guilherme Dietze, assessor econômico da Fecomércio.
Ao invés de tabelar os preços, ou fazer uso de estoques reguladores para impedir a especulação com os produtos básicos da alimentação dos brasileiros, o governo avalia como medida reduzir as tarifas de importação de arroz, milho e soja.
A medida não teria qualquer efeito já que apenas ampliaria a margem para a especulação.
Para o presidente da Associação Goiana de Supermercados de Goiás (Agos), Gilberto Soares, um dos fatores que mais pesou para a alta do preço do arroz foi a grande quantidade de exportações.
Segundo Soares, é preciso uma política mais rígida de exportações que evite a falta do produto internamente. “A oferta do arroz em casca está baixa. Nunca se exportou tanto arroz quanto nesse ano, em especial para o Peru, México e Venezuela. Faltou um regramento, políticas de exportações. Teriam que ter regulado isso daí, com maiores taxações, pra não acontecer o que aconteceu”, diz.
Entre vender dentro do país e mandar para o exterior, o produtor brasileiro tem escolhido a exportação, porque está ganhando mais dinheiro, diz o economista Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor/Fipe.
“O dólar acima de R$ 5 favorece quem exporta esses alimentos, então o consumidor, na verdade, está competindo pela soja, pelo milho, pela carne, pelo frango, com o consumidor chinês, e em desvantagem, porque ele está pagando mais caro em reais por conta um pouco dessa cotação do câmbio”, avalia Guilherme Moreira.
ENTIDADES
Associações representativas do setor de supermercados lançaram nesta quinta-feira (3) cartas públicas chamando a atenção para a alta de preço de itens da cesta básica, que chega a superar 20% no acumulado de 12 meses em produtos como leite, arroz, feijão e óleo de soja.
As entidades avaliam que a alta, que tem se acelerado no período recente, se deve ao efeito do câmbio sobre o aumento das exportações e diminuição das importações desses itens, além do crescimento da demanda interna impulsionado pelo auxílio emergencial.
Até julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice de preços oficial do país, acumula alta de 2,31% em 12 meses. Mas, no mesmo período, o item de alimentação e bebidas já subiu 7,61%.
“O setor supermercadista tem sofrido forte pressão de aumento nos preços de forma generalizada repassados pelas indústrias e fornecedores. A Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), que representa as 27 associações estaduais afiliadas, vê essa conjuntura com muita preocupação”, escreveu a entidade em nota oficial.
“Reconhecemos o importante papel que o setor agrícola e suas exportações têm desempenhado na economia brasileira. Mas alertamos para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtornos no abastecimento da população, principalmente em momento de pandemia”, completa a entidade.
Ronaldo dos Santos, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), conta que o setor tem tratado do tema com o governo. “Entendemos que estamos sob um regime de livre mercado, os produtores precificam de acordo com o mercado internacional e a exportação é livre. Mas pedimos para que o governo olhasse para a taxa de importação para itens básicos como o arroz, para talvez conter um pouco a alta de preços interna”, diz Santos.