Preço da carne dispara e produto some da mesa do brasileiro
O preço da carne subiu 4,83%, na prévia de outubro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), que mede a inflação oficial do País. Foi o quinto aumento consecutivo. De janeiro a outubro de 2020, a alta é de 11,04%.
Os preços dos alimentos tiveram o maior impacto sobre o índice e, segundo analistas, o preço da carne bovina continuará seguindo em alta em novembro e dezembro, o que significa que mais uma vez os brasileiros, principalmente os mais pobres, cortarão a carne das festividades de final de ano, como ocorreu no mesmo período do ano passado.
“Para o último bimestre a tendência é de um movimento de alta ainda mais consistente, mantendo a conjuntura de oferta restrita, somada a uma demanda aquecida, com ênfase nas exportações”, diz o analista de Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias.
Mas não será só a carne que deve faltar na mesa do brasileiro, os preços dos alimentos, como o arroz, feijão, óleo de soja, tubérculos e leguminosa, leite, entre outros, continuam em disparada nas gôndolas dos supermercados.
Com a pandemia, o agronegócio brasileiro aproveitou o momento para elevar seus ganhos com a valorização do dólar sobre o real, ampliando as exportações, já que países exportadores frearam suas exportações para protegerem os seus mercados internos da alta de preços e de escassez de alimentos.
Já Bolsonaro, diante da exportação alucinada do agronegócio, pediu aos produtores de soja, por exemplo, para “deixar um pouco aqui”. No domingo (25), ficou irritado com um senhor numa feira do Cruzeiro, no Distrito Federal, que reclamou do preço do arroz. O produto básico na cesta do brasileiro acumula alta de 20% no ano. “Quer que eu baixe na canetada? Você quer que eu tabele? Se você quer que eu tabele, eu tabelo. Mas vai comprar lá na Venezuela”, disse Bolsonaro irritado.
De janeiro a setembro, o Brasil exportou 10% a mais de carnes, 1,3 milhões de toneladas, frente ao mesmo período de 2019. Segundo o analista da DATAGRO, João Otávio Figueiredo, em outubro deste ano, o total embarcado foi de 170,55 mil toneladas, na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Na primeira quinzena já embarcamos 90 mil toneladas e se manter esse ritmo podemos alcançar a 180 mil toneladas”, disse.
Para o economista da Fundação Getúlio Vargas, André Braz, outra questão que estimula as altas nos preços das carnes é que “o preço das rações usadas para o trato desses animais são commodities, cujo preço é cotado em dólar. Então temos o milho e a soja. Esses dois grãos ficaram mais caros, porque os seus preços subiram em dólar. Isso é bom para a balança comercial, mas é ruim para o mercado brasileiro, porque desabastece”.
Nos nove primeiros meses de 2020 (janeiro a setembro), as exportações do agronegócio do Brasil registraram um novo recorde ao atingir um volume de 16% (170 milhões de toneladas), superior ao registrado em igual período do ano de 2019, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Além disto, o total embarcado de milho nos dez primeiros meses de 2020 deverá somar 25,1 milhões de toneladas, de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que reclama que houve queda de 8,6 milhões de toneladas na comparação com o mesmo período de 2019, quando os embarques atingiram um recorde.
A conta das exportações desenfreadas sobressaiu em alta nos preços e redução de oferta no mercado interno brasileiro – que enfrenta uma recessão. No entanto, Bolsonaro, sem demonstrar nenhuma empatia com as famílias brasileiras, já deixou claro que não vai fazer nada para proteger a população das altas dos preços dos alimentos, pois segundo o próprio Bolsonaro, em seu governo impera a lei da “livre oferta e demanda”.
De acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no IPCA-15, a inflação percebida pelos brasileiros mais pobres frente aos preços dos alimentos mais que triplicou em relação à dos mais ricos. De janeiro a outubro, a inflação das famílias de renda muito baixa foi de 3,68%, enquanto a da alta renda ficou em apenas 1,07%.
Para a população de baixa renda, comer e beber está 9,75% mais caro entre janeiro e outubro de 2020, aponta os dados da inflação pelo IPCA-15, que subiu 2,31% no período. Considerando apenas os alimentos consumidos no domicílio, aqueles comprados em supermercados, o avanço de preços no ano foi de 12,69%.
Já a inflação percebida pelas famílias de renda mais baixa subiu a 5,48% nos 12 meses encerrados em outubro. Entre os mais ricos, a inflação foi de 2,50% no período.
De acordo com Maria Andréia Parente Lameiras, que é, responsável pelo cálculo do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda do Ipea, “os alimentos no domicílio representam 30% do cálculo da inflação da baixa renda. Enquanto entre a dos mais ricos não chega a 10%. Então o impacto do aumento de preços acaba sendo muito menor entre os mais ricos”.
Na cadeia dos preços dos alimentos, a alta de um alimento gera o aumento de outros, é um efeito dominó. No Brasil os preços dos alimentos que não são exportados também sofrem influências da alta dos produtos que são dolarizados. A regra não é a mesma para os salários dos brasileiros. No governo Bolsonaro os trabalhadores e a classe média não podem ter ganhos reais, só quem podem ter são os bancos, rentistas e demais parasitas, que não produzem um parafuso, não plantam uma semente.