Milhares de pessoas se manifestaram em Santiago, na sexta-feira (6), na Praça da Dignidade, como foi batizado o local onde, desde outubro de 2019, ocorrem os grandes protestos contra o governo de Sebastián Piñera. Com bandeiras, bandas de música, faixas e cartazes com consignas criadas nas escolas, nos bairros, e até fogos de artifício lançados desde a base do monumento no centro da praça, os estudantes secundaristas, no dia de volta às aulas, ficaram à frente dos protestos no Chile.

Sob o lema “Mochilaço estudantil” organizaram novos pulos às catracas das estações do metrô de Santiago. Também cortaram as ruas em diversos pontos da capital. Os protestos aconteceram em várias cidades do país como Valparaíso e Concepción.

A Associação de Estudantes Secundaristas (ACES) e a Coordenadora Nacional de Estudantes Secundaristas (Cones) foram as principais organizações que convocaram a marcha.

Além das bandeiras e faixas com a frase “Fora Piñera”, os estudantes manifestaram sua rejeição ao modelo educativo que desde há décadas impera no Chile, onde os jovens não conseguem sair da universidade sem uma dívida astronômica para pagar ao longo da vida, as crianças não ingressam na escola sem pagar taxas que a maioria da população não consegue sustentar. Com cartazes exigindo “Educação Pública gratuita de qualidade” ocuparam o centro da cidade.

À tarde, com as principais estações do metrô fechadas e os “carabineiros” – polícia – usando um forte operativo de repressão, com carros lançadores de jatos de água e de gás lacrimogêneo, os manifestantes recuaram, mas não se dispersaram, se mantiveram nos arredores e cantaram todos juntos que “Piñera continua sendo um ladrão”. Ou que “o que não pula é polícia”.

“Os que querem privatizar tudo, os que querem nos manter fora da escola ou no ensino com uma qualidade rasteira, fiquem sabendo que não vamos parar de ocupar as ruas. A sexta-feira representa o símbolo de que a revolta não só não para, mas que ela cada semana cresce”, disse Víctor Chanfreau, porta-voz da ACES, de 18 anos.

Depois do ápice do operativo policial, milhares de pessoas com bandeiras nacionais, mapuches e de times de futebol, a maioria do Colo Colo, voltaram a se congregar na praça para ouvir o grupo Illapu e o cantor e compositor Nano Stern. Mais uma vez tentaram dispersar a multidão, mas não conseguiram e outras bandas de música, performances, vendedores ambulantes, tomaram conta do centro.

Os atentados das forças da repressão contra os manifestantes causaram vítimas. Três jovens sofreram lesões oculares, mostrando que a política criminosa dos ‘carabineiros’ continua avalizada por Sebastián Piñera. O último informe do Instituto Nacional de Direitos Humanos  (INDH), divulgado em 19 de fevereiro, diz que durante as manifestações se registraram pelo menos 445 pessoas com dano ocular provocado por disparos intencionais. Em quase cinco meses de protestos, 31 pessoas morreram.

Em Puerto Montt, milhares de pessoas marcharam sob um dilúvio. Em Antofagasta e em Valparaíso também houve enormes passeatas. Em Concepción, a polícia reprimiu com balas de borracha e de chumbo.

Os protestos tiveram como causa inicial o aumento da tarifa do metrô. As reivindicações rapidamente se voltaram contra o modelo do Chile que durante anos foi divulgado como um “oásis” em meio a um continente em crise.

Em 26 de abril ocorrerá um plebiscito para decidir se mudam ou não a Constituição do país, reivindicação que unificou toda a oposição. Isso porque, até hoje a Constituição chilena é a mesma instituída pela ditadura de Pinochet (1973-1990), e todas as privatizações promovidas durante os 20 anos daquele regime seguem vigentes. Até a água foi privatizada, além do gás, cobre e outros minerais, os sistemas de Previdência, Saúde, Educação, Transporte e rodovias