Portugal, Espanha e Grécia se opõem à redução do consumo de gás em 15%
Portugal, Espanha e Grécia repudiaram na quinta-feira (21) proposta apresentada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, para cortar em 15% o consumo de gás de 1º de agosto até à primavera de 2023, como parte do plano ‘Economize gás para um inverno seguro’, voltado para ajudar as nações europeias mais vulneráveis a “sobreviver ao inverno” em caso de interrupção completa do fluxo de russo de gás.
Em declarações ao jornal Expresso, o secretário de Estado do Ambiente e da Energia de Portugal, João Galamba, anunciou a rejeição de seu país à proposta de “redução voluntária”. Segundo ele, a proposta é “insustentável” porque obriga o seu país a ficar “sem eletricidade”.
“Isso não se aplica a Portugal. Portugal é contra esta proposta da Comissão, porque [o plano] não tem em conta as diferenças entre os países. Somos totalmente contra”, afirmou Galamba.
Ele advertiu que Bruxelas não levou em consideração que a Península Ibérica é uma região com infraestruturas de abastecimento energético muito diferentes das de outros países membros da União Europeia.
O governo de Espanha também manifestou a sua rejeição categórica à proposta de Bruxelas. “Defendemos os valores europeus, mas não podemos assumir um sacrifício sobre o qual nem sequer nos foi pedido parecer prévio”, disse a terceira vice-presidente e ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera.
Para Ribera, a ideia proposta pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “não é necessariamente a mais eficaz, nem a mais eficiente, nem a mais justa”.
“Aconteça o que acontecer, as famílias espanholas não vão sofrer cortes de gás ou eletricidade nas suas casas”, assegurou a ministra, que adiantou que o seu país não pretende assumir “obrigações que estão acima, em termos de esforço”, ao que corresponde a ele e é solicitado a outros parceiros da comunidade.
O anúncio do rechaço grego ao plano da Comissão Europeia foi feito pelo porta-voz do governo grego, Giannis Oikonomou, citado pela Reuters.
“O governo grego não concorda, em princípio, com a proposta da UE de reduzir o uso de gás em 15%”, afirmou. “Apresentamos uma série de propostas sobre preços e oferta de gás e vamos insistir em apoiá-las como uma solução europeia”, acrescentou.
A Grécia sugeriu um mecanismo para limitar os preços atacadistas de eletricidade nos países do bloco comunitário, bem como a compra conjunta de gás para ajudar a reduzir os custos crescentes da energia.
A proposta de Von der Leyen teve, como pano de fundo, o pânico em Bruxelas com a realização da manutenção anual do Nord Stream 1, que ocorre todo ano nessa época há 10 anos, pois supostamente a Rússia iria reagir às “sanções do inferno” desligando completamente o gás. O que também coincide com a sétima rodada de “sanções do inferno” contra a Rússia.
O desligamento do gás já foi claramente negado pelo presidente Vladimir Putin que, porém, advertiu aos aprendizes de feiticeiros que, se bloquearem equipamentos levados para revisão, como visto no Canadá, o fluxo de gás terá que ser interrompido pela necessidade de preservar turbinas e compressores em uso.
Em Moscou, o chanceler russo Sergei Lavrov se reuniu com o homólogo húngaro, Peter Szijjarto, e se comprometeu a que a Rússia examinará imediatamento o pedido de fornecimento adicional de gás russo, 700 milhões de metros cúbicos.
“A realidade é que é impossível comprar mais 700 milhões de metros cúbicos de gás sem ir para a Rússia”, disse Szijjarto. “É possível sonhar e construir castelos no ar, mas essa é a realidade. Sem suprimentos russos, é impossível comprar tantos volumes de gás na Europa”, enfatizou o chefe da diplomacia húngara.
Szijjarto reiterou que Budapeste quer garantir a sua segurança nesta área para os próximos meses e em geral e deve fazê-lo “o mais rapidamente possível”, tendo em conta que a época de aquecimento começa no próximo dia 15 de outubro. “Queremos garantir que ninguém na Hungria se encontre em uma situação difícil”, disse ele.
Ele explicou que os depósitos de gás do seu país estão cheios a 27,3% da sua capacidade, um nível superior ao de outros países europeus.
Em setembro do ano passado, a empresa húngara MVM assinou dois contratos com a gigante russa Gazprom para o fornecimento de um total de 4,5 bilhões de metros cúbicos por ano via gasodutos que passam pela Sérvia e Áustria e não via Ucrânia. Os acordos terão duração de 15 anos.
Por sua vez, Lavrov lamentou que a política “abertamente russófoba” dos EUA e da União Europeia dificulte a cooperação prática entre Moscou e Budapeste e denunciou as novas sanções “descontroladas e sem uma análise sólida do impacto” impostas por Washington e Bruxelas.
“Não estamos interessados que esse tipo de coisa [sanções] interfiram em nossa cooperação. E vamos buscar e encontrar soluções que tornem nossa cooperação em todas as áreas independente desses caprichos e tentativas punitivas, por assim dizer”, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia.
O presidente Vladimir Putin tachou de “delirantes” os chamamentos na Europa a “lavar-se só quatro áreas” do corpo para “enfurecê-lo”.
“Enlouqueceram completamente”, acrescentou, referindo-se às chamadas para economizar água e eletricidade, que estão se espalhando no Ocidente.
“Cometeram [múltiplos] erros, agora não sabem o que fazer com eles e procuram os culpados”, ele salientou no fórum da Agência de Iniciativas Estratégicas na quarta-feira (20).
A paúra vem de cima. No final de junho, o vice premiê e ministro da economia da Alemanha, Robert Habeck, disse numa entrevista que está ficando menos tempo no chuveiro para poupar energia face à diminuição do fornecimento de gás russo.
Ele disse que segue as recomendações do seu ministério e está até mesmo pensando em não aquecer a sua casa no inverno, embora reconhecesse que as pessoas que trabalham em casa e “aposentados com pensões pequenas” não teriam condições para pagar.
O Ministério da Economia alemão publicou de fato em 10 de Junho uma série de dicas para cidadãos comuns, ilustrando qual seria a sua contribuição para a poupança de energia: “poupar água quente”.