Portugal amplia investimento estatal na saúde e estende quarentena

Com 535 mortos e 16.934 casos registrados de covid-19 até esta segunda-feira, a menor taxa de crescimento de casos na Europa, Portugal anuncia que vai ampliar a quarentena, fortalecer o investimento estatal no cuidado à saúde pública e o apoio a trabalhadores e empresas.
Obedecendo desde o início – e à risca – as recomendações da Organização Mundial da Saúde, o país transformou-se em referência no combate à pandemia esvaziando as ruas, fechando o comércio, barrando o turismo, higienizando ambientes e colhe agora os frutos com menos casos por habitantes. Com isso, aumentam imensamente as chances de que os doentes sobrevivam.
Tendo como foco o combate ao coronavírus foram realizados mais testes entre os dias 1º e 12 de abril do que durante todo o mês de março, diminuindo a taxa de crescimento de casos para 2,1%, a menor desde o início do surto.
Por decisão do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o parlamento havia aprovado “Estado de emergência” durante 15 dias em 18 de março, aumentando o prazo de quarentena em mais 15 dias até 17 de abril. Diante da necessidade do combate à pandemia, o governo português propõe agora que a data seja estendida a 1º de maio, o que deve ser respaldado pelo parlamento.
“Temos que nos concentrar sobre uma batalha que ainda não ganhamos inteiramente”, ressaltou Marcelo Sousa. Diferente de Bolsonaro, o líder português ficou isolado por duas semanas em março, apesar de ter testado negativo para covid-19. “Não podemos baixar a guarda”, enfatizou o presidente, que também garantiu um pacote de medidas econômicas para respaldar trabalhadores e empresários.
Reforçando a posição, o primeiro-ministro António Costa se somou à conclamação e defendeu que é necessário manter a quarentena, apesar de que a estabilidade indica que a doença já alcançou o pico no país. “Seria enviar um sinal errado para o país levantar o estado de emergência, pois ainda não há luz no fim do túnel”, sublinhou Costa.
TRATAMENTO EM CASA
Nestes primeiros dias de abril foram feitos mais testes (55%) do que durante todo o mês de março (45%). Há 1.187 pessoas internadas e 188 pessoas em unidades de cuidados intensivos.
Na coletiva de imprensa diária, a ministra da Saúde, Marta Temido, esclareceu que a taxa de letalidade em Portugal é de 3,2%, sendo 86% nas pessoas com mais de 70 anos. De acordo com Temido, 88,2% pessoas com diagnóstico de covid-19 estão sendo tratadas em casa, 7% estão internadas (das quais 5,9% em enfermaria no hospital) e 1,1% em Unidades de Cuidados Intensivos – como chamam as UTIs.
A ministra anunciou para esta semana a chegada de 19 milhões de máscaras, que serão distribuídas a todas as pessoas vulneráveis e aos profissionais de grupos mais expostos, como bombeiros e trabalhadores de funerárias. Em locais fechados onde eventualmente as pessoas possam se encontrar, ressaltou, poderá ser considerada essencial “a utilização da dita máscara social”. “Temos resultados encorajadores” no combate à pandemia, avaliou Marta Temido, “não queremos perder os resultados adquiridos e temos de ponderar os passos que damos”. Além disso, o governo comprou um milhão de respiradores FFP2, batas e luvas, que serão considerados equipamentos de proteção individual essenciais à defesa da vida.
Em relação ao número de ventiladores, a ministra destacou que “até ao momento não houve nenhuma situação que não tenha sido possível resolver pela coordenação dos hospitais”. “A doença vai ficar conosco até ser encontrado um tratamento e por isso o reforço das Unidades de Cuidados Intensivos é importante”: se alguma coisa se complicar, há que garantir “um ventilador para todos”.
MEDIDAS DE APOIO SOCIAL
Entre as medidas de apoio social estão a atribuição de faltas justificadas para os trabalhadores que tenham de ficar em casa para acompanhar os filhos até 12 anos; um apoio extraordinário de formação profissional, no valor de 50% da remuneração do trabalhador até ao limite do Salário Mínimo Nacional, acrescida do custo da formação, para as situações em que estejam sem ocupação em atividades produtivas por períodos consideráveis, subsídios de assistência a filho e a neto em caso de isolamento profilático, linhas de crédito e incentivo financeiro a empresas, e medidas de aceleração de pagamentos às empresas pela administração pública.
Com mais de 932 mil infectados e 77 mil mortos até a manhã desta segunda-feira, o continente europeu é o que registra o maior número de casos. A Itália é o segundo país do mundo com mais vítimas fatais, somando 19.899 óbitos e mais de 156 mil casos confirmados, seguido pela Espanha com 17.489 mortos e mais de 64 mil infectados.