Porta-voz do Comitê de Paralisação deixa Colômbia após ameaças
O porta-voz do Comitê Nacional de Paralisação (CNP) e tesoureiro da Federação Colombiana de Educadores (Fecode), Nelson Javier Alarcón, teve de deixar o país com sua família, segunda-feira (21), após um vertiginoso crescimento das ameaças de morte.
“Me diziam de tudo, que iam me assassinar sem se importar que tivesse com seguranças [da Unidade Nacional de Proteção], e temo por minha vida. Foram mais de 1.200 ameaças nos últimos oito dias, por isso saí do país”, afirmou Alarcón, em entrevista à rádio RCN.
“Eu responsabilizo o presidente Iván Duque por qualquer situação que possa acontecer comigo. Depois de suas declarações, as ameaças contra minha vida se intensificaram. Defender a democracia e o estado social de direito são o meu crime”, ressaltou o dirigente sindical.
A Fecode repudiou a perseguição e disse que a saída de Alarcón é “difícil” para a organização, adiantando que “por questões de segurança” nada será informado sobre o seu paradeiro.
Solidária ao ativista e seus familiares, a Central Unitária de Trabalhadores (CUT) da Colômbia também “rechaçou as ameaças de terror e intimidação que pretendem impor o medo, a incerteza e calar as vozes que se levantam contra tanta desigualdade social, pobreza e falta de oportunidades”. Em sua página, a central também “responsabiliza o governo do presidente Duque por qualquer situação que atente contra a integridade física do companheiro Nelson e sua família”. A entidade solicita ainda à Promotoria e ao Ministério do Interior que investiguem estes fatos e punam os responsáveis.
Após 49 dias de marchas e protestos, iniciadas no dia 28 de abril, o Comitê Nacional de Paralisação suspendeu temporariamente o movimento. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos apura a denúncia de até 700 casos de desaparecimentos, dezenas de mortos e centenas de feridos neste breve período.
Desde a assinatura do Acordo de Paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia já são mais de mil os militantes e dirigentes assassinados pelas milícias fascistas e por agentes da Força Pública. Foi a brutalidade da política de “terrorismo de Estado” de Duque que fez com que, apesar da pandemia, organizações estudantis e juvenis fossem às ruas para exigir um basta à carnificina.