O deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) afirmou que sua desistência à candidatura a
prefeito, nas eleições municipais deste ano, representa um chamado à formação de uma
frente ampla democrática contra o governo retrógrado de Bolsonaro, que não foi conseguida
até agora.
“Todos deveriam estar juntos no projeto para derrotar o Bolsonaro. Não tem cabimento nesse
momento ataque entre nós. Não tem nenhum sentido, diante do risco à democracia, um
conflito nesse ponto”, explicou Freixo em entrevista para o jornal O Globo.
Freixo ficou em segundo lugar nas eleições de 2012 contra o ex-prefeito Eduardo Paes e em
2016 contra Marcelo Crivella.
Para ele, a desistência é um gesto “doído”, mas que é “preciso que a gente sacuda um pouco
esse processo para tentar a construção de um projeto no Brasil”.
“Estou fazendo isso em nome de algo que é maior do que qualquer coisa. Considero o governo
Bolsonaro uma ameaça à democracia”.
“E por que tanta gente competente está assistindo a um incompetente no poder? Algum erro
todos nós cometemos e estou me incluindo”, declarou.
O deputado diz que sua decisão não tem volta. “Não faz sentido. Repetiríamos uma situação
como em 2016 e não vejo cabimento, diante de uma ameaça fascista e de um governo
autoritário como o do Bolsonaro, nós nos comportarmos como sempre nos comportamos:
divididos e fragilizados. Se é para isso, eu, antes de pedir para alguém tomar esse gesto, tomo
uma atitude”.
Freixo diz reconhecer que as diferenças políticas entre os partidos existem e as respeita. “Mas,
não é possível que o tamanho dessas diferenças sejam maiores do que a ameaça do fascismo”.
“Não pode as pessoas se matarem nessas disputas. É muito ruim”, completou.
O deputado pediu maturidade da esquerda nesse momento difícil que o Brasil passa.
“A gente precisa ter maturidade. Muitas vezes conseguimos no Congresso. Mas a maturidade
precisa sair dessas relações congressuais para as relações estratégicas de disputas eleitorais
nas cidades”, recomendou.
“O Bolsonaro é tosco, violento e autoritário. Para derrotar o bolsonarismo é preciso mais que
responder as crises que ele provoca. Tem que ir além. Temos que vencê-lo com um projeto
que seja melhor que o dele. Qual é o nosso projeto? E aí acho que o desafio que está colocado
é construir uma proposta calcada no combate à desigualdade e na garantia de direitos. Temos
que retomar a Constituição de 1988”, afirmou o parlamentar.
“É importante que eu tome essa decisão agora, em que as pesquisas apontam chance de irmos
para o segundo turno. Mas, ir para o segundo turno com a esquerda dividida? Para quê?
Vamos tentar ganhar o Rio, mas vamos perder o Brasil e a democracia, com o campo

democrático se enfrentando e se engolindo, correndo o risco de não ter eleição em 2022”,
advertiu.
Num segundo turno, Freixo admite apoiar um candidato que, mesmo sendo fora do campo da
esquerda, tenha condições de derrotar o representante de Bolsonaro na eleição da capital.
“Vou defender quem represente a vitória contra o bolsonarismo”, disse.
Pelas redes sociais, Freixo publicou um texto em que defende “Unidade em defesa da
democracia”.
Diz o deputado do Psol:
“Depois das duas catástrofes que se abateram sobre o Brasil, Bolsonaro e a pandemia, não
podemos pensar como pensávamos antes, nem agir como agíamos antes”.
“Estamos enfrentando um dos maiores ataques da nossa história à democracia e à vida dos
brasileiros. Bolsonaro se comporta como um aspirante a ditador que usa ilegalmente o cargo
mais importante do País para alimentar uma guerra à democracia. Seu projeto de poder
autoritário está retirando direitos e destruindo a dignidade do povo brasileiro com uma
voracidade inédita”.
“Chegou a hora de termos grandeza: ou demonstramos desprendimento e capacidade de
diálogo, já, ou mereceremos o pior julgamento da história, por não nos unirmos para impedir a
destruição da democracia e da vida do povo brasileiro”.