População de Myanmar protesta contra o golpe militar
Nesta segunda-feira (8), milhares de pessoas participaram de manifestações pacíficas contra o golpe militar ocorrido em Myanmar, antiga Birmânia. Os atos continuam pelo terceiro dia consecutivo, neste domingo os manifestantes foram dispersos com canhões de água. Os manifestantes exigem a libertação dos dirigentes do país, incluindo a primeira-ministra, lá denominada de Conselheira de Estado e líder da Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi.
Em 1º de fevereiro, o Exército anunciou que deteve os principais líderes políticos em resposta às denúncias de “fraude” durante as eleições parlamentares de 8 de novembro, nas quais o resultado oficial favoreceu a LND com 396 assentos de um total de 476.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou a prisão de Aung San Suu Kyi e de outros políticos e “exortou os líderes militares a respeitarem a vontade do povo de Myanmar”.
O Papa Francisco pediu, na segunda-feira, aos líderes militares birmaneses que libertem os prisioneiros políticos e retomem o caminho “abruptamente interrompido” para a democracia. “Rezo para que, quem tem responsabilidade no país, se coloque, com disponibilidade sincera, ao serviço do bem comum, promovendo a justiça social e a estabilidade nacional, para uma harmoniosa convivência democrática”, afirmou o Pontífice após a celebração do Angelus, no domingo (07).
Além das marchas, opositores ao atual governo de fato estão organizando uma campanha de desobediência civil e convocando greves. A campanha é liderada por profissionais de saúde e funcionários públicos. Muitos jovens compareceram aos protestos.
Sucessivas juntas militares governaram Myanmar até que, em 2011, o governo começou a abertura do país. As novas gerações não querem o retorno aos tempos difíceis enfrentados pela população ao longo de décadas.
Na terça-feira (02) seria empossado o novo parlamento, e eleito o novo presidente e vice-presidentes. A recusa da Liga de adiar a posse serviu de senha para o golpe. Suu Kyi é filha do herói da independência de Myanmar, o general Aung San, assassinado um ano antes da conquista da libertação do jugo britânico.
O país de 52 milhões de habitantes e 135 minorias étnicas, viveu entre 1962 e 2011 sob sucessivos governos militares, e Suu Kyi passou 15 anos em prisão domiciliar. Foi agraciada em 1991 com o Prêmio Nobel da Paz.
Na redemocratização, a Liga saiu vitoriosa no pleito de 2015 e os militares respeitaram o resultado. Suu Kyi não pôde se tornar presidente porque a Constituição proibia, por ser casada com um britânico e ter dois filhos britânicos.
Acabaram criando especialmente para ela o cargo de ‘Conselheira de Estado’, em que na prática era a primeira-ministra.
Nos últimos anos, os laços de Myanmar com a China – com quem faz fronteira – veem se intensificando, com o país participando da iniciativa da nova Rota da Seda. A China espera que todos os lados em Myanmar possam lidar adequadamente com suas diferenças sob a Constituição e o quadro legal e salvaguardar a estabilidade política e social, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin.
“Estamos acompanhando a situação em Myanmar e estamos no processo de melhor compreender o que se passa”, disse Wang em uma coletiva de imprensa regular.