O articulista do Wall Street Journal, Jinjoo Lee, diz que alta do gás “é sal na ferida da Europa" e agrava divergências

A política de sancionar a Rússia ditada pelos Estados Unidos e obedecida pela liderança da União Europeia (UE) está se desintegrando devido à crise de combustíveis com os altos preços do gás, afirmou o articulista do The Wall Street Journal, Jinjoo Lee.

Segundo assinala Lee, na terça-feira (14) aconteceram fatos que agitaram o mercado energético global. Nos EUA, a empresa Freeport LNG reconheceu que sua fábrica, que produz gás natural liquefeito (GNL) no Texas e que foi fechada após uma explosão em 8 de junho, só recomeçará a funcionar no final de 2022. Essa realidade reduzirá em 18% o volume de exportações do GNL dos EUA e, consequentemente, a Europa receberá menos combustível.

O problema agravou-se com a parada de uma parte das turbinas no Nord Stream, pela Gazprom russa, resultante na queda do volume das entregas de gás para a União Europeia que fica em 67 milhões de metros cúbicos por dia em vez dos programados 167 milhões. A causa disso não é nenhuma retaliação pelas sanções contra Moscou, mas foi o atraso no trabalho da empresa alemã Siemens na estação Portovaya, o que impede a compressão de gás necessária para transportar o volume planejado, de acordo com comunicado.

Conforme publicou o jornal Wirtschaftsdienst, 58% das empresas alemãs acreditam que não serão capazes de substituir o gás russo no curto prazo. A pesquisa também mostra que 20% das empresas não teriam como substituir parcialmente os insumos russos. Diante dos dados, o periódico sustenta que o risco de barrar o gás russo é alto para a economia alemã.

O levantamento identificou que 70% das companhias registraram um aumento no preço da eletricidade. Além disso, 25% apontaram problemas na cadeia de suprimentos — o que as empresas ligaram à crise ucraniana.

Esses eventos provocaram alta brusca nos preços de gás na UE até US$ 1.300 (R$ 6.570) por mil metros cúbicos. A disparada dos preços de combustível, levando ao fechamento dos negócios, “é sal na ferida para o continente”, notou Jinjoo Lee.

Mesmo assim, nos Estados Unidos o fechamento da fábrica de GNL no Texas fez diminuir o custo da matéria-prima em 17% graças à redução da exportação para a Europa.

Conforme as palavras do colunista, os industriais americanos que perceberam essa ligação devem pressionar para que as entregas à UE se reduzam a fim de manter o nível de preços no seu país, afinal para eles quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro. Se conseguirem sua meta, isso causará uma divisão entre Washington e Bruxelas, acredita o jornalista.

Os EUA até garantiram que serão capazes de fornecer sem problemas aos países europeus o GNL, relembrou Lee. Porém, a queda brusca de custo de gás para um lado, escassez e problemas financeiros aumentam o risco de que os interesses das partes divirjam, resumiu ele.