Em imagens divulgadas nas redes sociais, policiais militares aparecem em vídeos, agredindo dois jovens na Escola Estadual Emygdio de Barros, no Jardim Bonfiglioli, na Zona Oeste de São Paulo, na noite desta terça-feira (18).
O Conselho Tutelar do Rio Pequeno também apura as imagens. Nos vídeos, compartilhados nas redes sociais policiais aparecem desferindo socos, uma rasteira e chutes nos estudantes. Os alunos foram presos por desacato e liberados na manhã desta quarta-feira (19). Os policiais ainda apontam a arma para os estudantes que registravam a ação.
Os dois meninos foram encaminhados ao 91º Distrito Policial, onde prestaram depoimento na manhã desta quarta-feira (19). Agora, o Conselho Tutelar aguarda o boletim de ocorrência para produzir um relatório que será encaminhado ao Ministério Público.
A Polícia teria sido chamada pela direção da escola após um dos alunos questionar a ausência de seu nome na lista de matriculados. Ele teria ainda se negado a sair da escola. Na manhã desta quarta, estudantes da Escola Emygdio de Barros realizaram uma manifestação contra a ação policial realizada na noite anterior.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que vai analisar as imagens e adotar as medidas cabíveis. A Secretaria Estadual da Educação também afirmou que apura o caso e colabora com as investigações. Após a divulgação do caso, a PM decidiu afastar os policiais.
ABUSO DE AUTORIDADE
Para Dimitri Sales, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), essa “foi mais uma ação desastrosa da Polícia Militar, permeada por muita violência e abuso de autoridade”.
A mãe de um dos jovens agredidos, Raquel Rodrigues disse que “ali não era o lugar adequado para aquela violência toda”. “Estavam lá para o serviço de policial. Não levar violência. Me pergunto como mãe, será que dentro da escola é um lugar seguro?”, disse em entrevista.
A ação contra os estudantes foi criticada pelo deputado federal Orlando Silva (PCdoB). “Vivemos uma completa inversão de valores quando policiais militares invadem uma escola para apontar armas, ameaçar e agredir estudantes. Será que nossa juventude negra e pobre não pode estar em paz nem na sala de aula? Assim se destrói um país. Revoltante!”, condenou Orlando em sua rede social.
O conselheiro tutelar que atua na região da escola, Gledson Deziatto disse que situação ocorrida ontem é “inaceitável”. “Tanto por parte dos policiais quanto da diretora. Havia outro caminho, havia o diálogo.”
Gleidson afirma que, além da polícia, a escola também deve responder pelos fatos de acordo com a lei. “Alguém da direção deveria ter feito a mediação de conflitos entre professores, policiais e alunos”, diz. “A ronda escolar que deveria estar lá para verificar a entrada dos adolescentes poderia ter verificado que o ex-aluno entrou sem a carteirinha. Ele queria estudar.”
Foi uma ação bárbara e injustificável, diz presidente da UMES
Para o presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes) Lucas Chen, o descaso e o despreparo de alguns policiais que atuam junto às escolas não é tolerável. “O que aconteceu ontem foi uma ação bárbara, injustificável de nenhuma maneira”, disse.
Ele destacou que a situação precária das escolas em São Paulo incentiva a evasão escolar e uma atitude com esta por parte de policiais está longe de ser a solução.
“Os estudantes não querem mais suas escolas sucateadas, que não tenham espaço para poder ter uma aula digna, falta de professores e ainda ter que se preocupar de não estarem seguros dentro da escola inclusive por quem deveria nos proteger. É necessária uma apuração rápida do caso, uma investigação concreta sobre o que aconteceu e que os responsáveis sejam punidos pela ação”, destacou Chen.
O líder estudantil destaca que o exemplo dado pelo presidente da República incentiva tal comportamento contra a população. “No último período a política de ódio, de agressão, de violência tem tomado espaço inclusive, por validação do presidente da República Jair Bolsonaro, que no seu discurso, deixa bem claro que o ódio é a forma que ele irá tocar o seu governo”, pontuou.
“Por isso, se faz necessário que todo cidadão nesse momento, tão conturbado da política brasileira, defender os princípios básicos democracia, nós queremos uma escola que seja livre de opressão, onde não tenham mais cenas como essas, de um jovem apanhando dentro da escola”, concluiu.