Polícia alemã descobre nazistas infiltrados na corporação
A polícia do estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália executou na quarta-feira (16) uma operação contra um grupo de extrema direita dentro da própria polícia estadual que fazia em chats apologia do nazismo.
Até agora, os investigadores encontraram 126 imagens divulgadas nos grupos de chat, incluindo fotos de Adolf Hitler, suásticas e montagens que mostram refugiados em câmaras de gás. “É uma vergonha para a polícia”, afirmou o secretário estadual do Interior, Herbert Reul, em Düsseldorf.
Ele anunciou que são 29 os extremistas, todos afastados das funções e incursos em processos disciplinares. 14 já foram afastados definitivamente da corporação policial. Para o secretário de Interior, diante da dimensão do caso, “não se pode mais falar em casos isolados”.
Sindicatos de policiais se manifestaram sobre a operação, apontando que combater o extremismo de direita “faz parte do DNA da polícia alemã”. As entidades reiteraram que o grupo de acusados não reflete as posições da maioria da corporação.
Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra os 14 policiais afastados e também contra 34 unidades da polícia nas cidades de Duisburg, Essen, Moers, Mülheim e Oberhausen.
Reul disse que os investigadores chegaram ao grupo por acaso. Um policial de Essen, que era suspeito de repassar informações sigilosas a um jornalista, estava sob investigação por isso. O exame do celular dele permitiu chegar à rede de extremistas.
Dos 29 acusados até o momento, 25 são da polícia de Essen. Reul disse que metade dos acusados postava mensagens extremistas, de conteúdo racista e neonazista, e a outra metade apenas lia.
Entre os acusados estão também policiais com origens migratórias, disse o secretário. Nas operações foram apreendidos outros celulares e por isso o total de acusados pode aumentar.
Reul anunciou que a polícia de Essen passará por uma inspeção e que criará o cargo de encarregado de extremismo de direita para a polícia do estado. A maioria dos 29 acusados trabalham ou trabalharam em algum momento na delegacia de Mülheim an der Ruhr, subordinada à polícia da cidade de Essen.
O antro de nazistas de Essen não é um caso isolado na moderna Alemanha, como mostraram o massacre de Hanau em fevereiro, em que nove pessoas foram mortas em quiosques frequentados por turcos e imigrantes, e o julgamento do autor do ataque em que foram mortas duas pessoas em uma sinagoga em Halle, no final de julho.
Em sua condenação ao massacre de Hanau, Olaf Scholz, o vice de Ângela Merkel, enfatizou que nosso debate político “não pode ignorar o fato de que há terrorismo de extrema direita na Alemanha 75 anos após a ditadura nazista”, advertiu.
Em junho de 2019, o deputado democrata-cristão Walter Lübcke, favorável à imigração, foi morto a tiros no terraço de sua casa por um ultradireitista, no estado de Hesse. Em fevereiro do atual ano, 12 membros de um grupo de extrema direita foram presos por planejarem ataques imitando o massacre da mesquita de 2019 na Nova Zelândia. Entre 2000 e 2006, o grupo neonazista NSU matou nove estrangeiros.
Outra manifestação disso é o crescimento do partido extremista e anti-imigração Alternativa pela Alemanha (AfD), que boa parte da classe política alemã acusa de incitar o ódio.
Em comunicado sobre Hanau, a vice-presidente do parlamento alemão, Claudia Roth, convocou a barrar o extremismo. “Depois do NSU, do assassinato de Walter Lübcke e de Halle, fica claro novamente: o terror de direita é uma realidade na Alemanha. As redes extremistas de direita são uma realidade na Alemanha”.
Então – exigiu a deputada verde -, “vamos chamá-los pelo nome, em vez de falar calmamente sobre ‘tiroteios’ ou ‘assassinos solitários’ ou ‘xenofobia’”. “Vamos finalmente agir à altura”, concluiu.
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