A costureira Silvana de Souza, 39 anos, é a mulher que aparece no vídeo que foi divulgado nas
redes sociais, onde aparece sendo agredida em frente a sua casa pela Polícia Militar de Santa
Catarina. A ação foi filmada por celulares de testemunhas e divulgada nesta terça-feira (10),
mesmo o caso acontecendo há quase um mês, em Mafra, no Planalto Norte do Estado.
O vídeo mostra o momento em que Silvana está sendo conduzida e, de repente, leva uma
rasteira e é jogada no chão. Tatiana de Souza, irmã de Silvana, gravou as imagens que mostram
a costureira com o rosto machucado, sangrando e a fratura exposta na perna. “Ele quebrou
minha perna”, gritava Silvana.
“Eu me senti um nada, um lixo, um zé ninguém para eles, como se eu fosse um animal. Não
tinha necessidade de eles fazerem aquilo comigo”, lamenta, em entrevista ao portal Ponte.
A costureira estava em casa com a mãe quando, por volta das 18h30 daquela quarta-feira,
policiais passaram em alta velocidade em direção à casa dos fundos. A ação, inicialmente, era
uma perseguição ao vizinho de Silvana, que estaria pilotando uma moto com a placa
adulterada.
A movimentação incomum no bairro Novo Horizonte, na zona rural do município, chamou a
atenção da vizinhança que foi tratada com truculência. Tatiana conta que os policiais logo
partiram pra cima dos moradores, inclusive da sua família, com gás pimenta. Ao questionar a
ação, o marido foi ameaçado de prisão.
“Entraram na minha casa, com arma apontada, espirrando gás pimenta até nas crianças, com
arma apontada. O meu menor, de quatro anos, não pode escutar uma sirene e já pergunta se é
sirene, se é polícia, está traumatizado”, conta.
Foi neste momento que Silvana, que mora ao lado com a mãe, chegou para saber o que estava
acontecendo. “Vi um monte de PM, as crianças com os olhos vermelhos, minha irmã, meu
cunhado e fui perguntar. Já fui abordada por um policial com spray de pimenta. Eu comecei a
discutir com o policial porque achei abuso de autoridade. A ocorrência não tinha nada a ver
com a gente e já entraram no nosso terreno com violência, apontando arma pra todo mundo”,
conta.
A costureira ressalta que não houve nenhuma agressão ou ameaça dos moradores, como
afirma a polícia, mas admite que a família xingou os policiais por conta da truculência. Ela
recebeu voz de prisão ainda dentro do terreno e foi conduzida. Pelo menos seis policiais
participaram da ação.
Enquanto a irmã filmava toda a ação, Silvana foi derrubada com violência. Instantaneamente o
rosto começou a sangrar e a fratura na perna foi exposta. Tatiana também foi derrubada

enquanto tentava ajudar a costureira e filmava. Ela conta que teve arranhões leves, mas que o
celular foi recolhido pela PM. Ela só conseguiu reaver o aparelho oito dias depois.
“Foi muito revoltante, até nisso a gente mostra que não é violento, eu fui filmando e falando
com eles, acabei xingando. Mas em momento nenhum tentei agredir. Se fôssemos violentos
teríamos tentado agredir. Quando eu tentei chegar perto, não deixaram e me derrubaram
para pegar meu celular”, lembra.
Silvana conta que tentou levantar e não conseguiu e foi nesse momento que percebeu que
havia quebrado a perna. Ela lembra ainda que ficou por cerca de uma hora no chão enquanto a
ambulância dos bombeiros era acionada, trabalho que ficou a cargo dos vizinhos. “Eles
[policiais] não prestaram atendimento nenhum”, ressalta.
A costureira lembra ainda que o policial tentou se esquivar da responsabilidade afirmando aos
socorristas e também no hospital que ela tinha “escorregado”. “Ele disse que eu caí sozinha,
que eu reagi e que quando ele caiu por cima de mim, o material de trabalho dele fraturou a
minha perna”, diz.
Durante os dois dias e meio no hospital, a costureira passou pelo procedimento cirúrgico para
corrigir a fratura na perna, o que a tem impossibilitado de trabalhar. O retorno ao médico para
avaliar a necessidade de nova cirurgia será no dia 25 de março.
“É uma situação muito complicada, não tinha nada a ver conosco e eles falam como se nós
fôssemos bandidos, falam de violência e não foi assim. É constrangedor, não posso trabalhar,
tenho filhos para sustentar e agora, nos sentimos ameaçados né, porque querendo ou não,
eles têm poder”, relata.
Ela conta ainda que o mesmo policial que a agrediu, colheu o depoimento para gerar a
ocorrência ainda no hospital. Silvana só foi liberada do hospital para casa porque a irmã pagou
a fiança.
Em nota, a Polícia Militar de Santa Catarina afirmou que os moradores teriam se aproximado,
iniciado a discussão e ameaçado os policiais, inclusive com um facão, o que teria motivado a
utilização de gás lacrimogêneo. A PM declarou ainda que Silvana teria continuado a desacatar
os policiais e demonstrado resistência no momento da prisão “razão pela qual o policial fez uso
da força, derrubando-a no chão”.
A nota ressalta ainda que os agentes “são treinados a fazer o uso progressivo da força, bem
como, observarem os protocolos operacionais padrão”. A PM afirma que um Inquérito Policial
Militar será instaurado.