É a maior queda da história brasileira. Do primeiro para o segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil tombou 8,7%, a maior queda do índice na história do país, informou o Monitor do PIB apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Na comparação com o segundo trimestre de 2019, o recuo na atividade econômica foi de 10,5%, conforme os dados divulgados nesta terça-feira (18).

A FGV observa que a atividade econômica do segundo trimestre sofreu grande impacto da pandemia do novo coronavírus, derrubando o PIB para um patamar 14% abaixo do pico observado no primeiro trimestre de 2014.

Essa rápida deterioração do PIB foi influenciada por fortes quedas na indústria (-12,8%) e nos serviços (-8,4%) e por praticamente todos os componentes da demanda, à exceção da exportação que cresceu 1,3% no 2º trimestre.

Pelo lado da demanda, houve grande queda no consumo das famílias, calculado pelos pesquisadores em -11,6% sobre o mesmo período do ano passado. Isso se explica pela avalanche de desemprego gerado pelo fechamento dos serviços não essenciais, mas também pela incipiência das medidas de renda emergencial e proteção do emprego. O auxílio de R$ 600 aprovado pelo Congresso sofreu grande resistência do governo. As empresas, em especial as de pequeno e médio porte, tiveram grande dificuldade de acessar crédito nos bancos para manter o capital de giro e pagamento dos salários.

Sobre a oferta, a FGV calcula que o setor de serviços – que representa em torno de 70% da formação do produto interno do país – caiu 9,1% pelas previsões do Monitor. Além do impacto da demanda e da necessidade de fechamento de serviços não essenciais no pico da pandemia, o setor também sofreu as consequências da falta de política de proteção emergencial e acesso ao crédito.

A pesquisa também antecipou uma queda recorde nos investimentos no segundo trimestre. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens em um determinado período, bens que servem para produzir outros, como máquinas, equipamentos e material de construção, caiu -20,9% no segundo trimestre ante mesmo trimestre no ano passado, com recuo em todos os componentes de investimento. A retração mais expressiva foi a de máquinas e equipamentos (-35,9%), que foi responsável por aproximadamente 70% da redução da FBCF. “Estamos longe de ter investimento que tínhamos antes da recessão [de 2014-2016]”, diz Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.

Segundo ele, antes mesmo da pandemia, economia brasileira crescia norteada não por investimentos, e sim pelo consumo de serviços. “E o consumo nem era por bens e produtos, e sim por serviços”, completou ele. Isso, na prática fez com que a economia brasileira crescesse a ritmo de 1% ao ano, uma “marcha lenta”.

A taxa de investimento do segundo trimestre de 2020 foi de 15,8%, na série a valores correntes. “Apesar de estar acima da taxa de investimentos média de 2015 em diante e de apresentar uma melhora com relação à taxa de investimento do 4º trimestre de 2019 e o 1º deste ano, o atual nível da taxa de investimentos está mais de 2 p.p. abaixo da taxa de investimentos média da economia brasileira desde 2000”, diz o Monitor do PIB.

Para a economia crescer, Considera destaca a necessidade de foco nos investimentos e FBCF, como obras e construções, para, inclusive, aquecer o mercado de trabalho, com posterior geração de renda e aumento de consumo. “Sem investimento a economia não volta a crescer”, resume o pesquisador.

O entrave para investir, dizem economistas, vem da tese do “dogmatismo fiscalista” da qual o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, é grande arauto.

“A única coisa que se discute é o equilíbrio fiscal”, afirma o economista, ex-presidente do Banco Central e do BNDES, André Lara Resende. “A ideia de suprimir, de asfixiar a capacidade de investimento do Estado é o caminho mais curto para a paralisia completa da economia e é onde nós estamos, num completo atoleiro, onde estamos há várias décadas sem capacidade de sair, sobretudo na últimas década”. Resende ressalta que levar o Brasil pelo rumo do ajuste fiscal, especialmente em um momento de pandemia e de consequências pós-pandemia, vai na contramão dos esforços das grandes economias do mundo.

O monitoramento da FGV se alinha às previsões de José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, a soma de fatores (baixo crescimento) associada à pandemia levará o país a encerrar 2020 com o PIB de 12% a 14% abaixo do que o de 2013. “Ou seja, o Brasil está numa depressão. A gente tem que dizer o nome correto da situação brasileira, não é recessão, nós estamos numa depressão, porque são duas crises muito próximas temporalmente, a de 2014/2016 e a de 2020”.

“Nós temos que nos assegurar que o investimento público seja de qualidade, mas que é absolutamente necessário fazer investimento público, é. Não só como instrumento de política anticíclica, mas também como política de desenvolvimento econômico e de recuperação da infraestrutura brasileira, que se deteriorou muito nos últimos anos”, ressaltou o professor Oreiro no debate intitulado “Gestão Macro na Pandemia”, promovido pelo Fórum Nacional INAE e pelo movimento Direitos Já! Fórum pela Democracia.

O Monitor do PIB é como se fosse uma “prévia” do PIB, assim como o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), porém, ao contrário do BC, o Monitor se baseia em dados e metodologia usadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela divulgação oficial do Produto Interno Bruto.