PIB do Japão encolhe 1,6% puxado pela queda do consumo

A economia do Japão encolheu no ritmo mais rápido em quase seis anos no trimestre encerrado em dezembro, 1,6% em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Foi a maior queda desde o segundo trimestre de 2014, quando o consumo desmoronou após um aumento do imposto sobre as vendas (IVA) em abril daquele ano.
Novamente, um dos fatores que mais pesou para o pior desempenho em cinco trimestres foi o aumento do imposto sobre vendas, que passou a valer em outubro passado, que afetou os gastos de consumidores e empresas.
O que, somado a temperaturas excepcionalmente quentes que reduziram a aquisição de roupas de inverno, se refletiu na queda nos gastos das famílias de 2,9% em relação ao trimestre anterior.
A queda do Produto Interno Bruto (PIB) já era esperada, mas foi quase o dobro das previsões dos economistas – o que indica que as medidas compensatórias anunciadas pelo governo para atenuar o efeito da alta fiscal não surtiram efeito.
Houve, ainda, perdas decorrentes da temporada de tufões e dos efeitos colaterais da guerra comercial entre os EUA e a China.
As despesas de capital retrocederam 3,7% no quarto trimestre em comparação ao terceiro, mais do dobro das previsões. Foi a primeira redução no investimento em três trimestres. As exportações sofreram uma queda de 0,1% em relação ao terceiro trimestre. O investimento público aumentou 1,1% em relação ao trimestre anterior, devido aos estímulos do governo Abe para mitigar o impacto negativo da alta do IVA.
Agora, com o impacto da epidemia de coronavírus, o Japão se coloca seriamente à beira da recessão. Um analista ouvido pela Reuters assinalou que “há uma boa chance de a economia sofrer outra contração entre janeiro e março” – o que implica em entrar em recessão.
Taro Saito, do NLI Research Institute, disse acreditar que o vírus “atingirá principalmente a entrada de turistas e as exportações, mas também poderá pesar bastante no consumo doméstico”.
Mas pode piorar, esclareceu. “Se essa epidemia não for contida na época dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os danos à economia serão enormes”.
“Prevemos outra contração no primeiro trimestre no Japão. Simplesmente não há fatores positivos para basear uma previsão de crescimento positiva”, disse à Bloomberg a economista-chefe da Daiwa Securities, Mari Iwashita.
Gigantes como Toyota e Nissan, as duas maiores montadoras do país, foram forçadas a interromper ou reduzir temporariamente as operações de suas fábricas na China, e até mesmo no Japão, em razão de problemas na cadeia de suprimentos e outras dificuldades ligadas à epidemia Covid-19.
Uma pesquisa da Reuters com oito analistas, realizada após a divulgação do PIB do quarto trimestre do ano passado, previu que a economia do Japão irá contrair 0,3% anualizado no primeiro trimestre de 2020, embora a previsão esteja sujeita a alterações.
O governador do BOJ (o BC do Japão), Haruhiko Kuroda, chamou o surto do coronavírus, que forçou o fechamento das fábricas na China e secou o fluxo de turistas chineses para o Japão, de “a maior incerteza” da economia. Ele prometeu “considerar uma flexibilização adicional” – leia-se dinheiro a rodo para bancos e monopólios – se o surto de coronavírus ameaçar significativamente a economia, informou o jornal Sankei na segunda-feira.