Linha de montagem de veículos em fábrica localizada em Fujian (Reuters)

O Produto Interno Bruto (PIB) da China superou as expectativas e cresceu 8,1 % no ano passado, para 114 trilhões de yuans (US$ 17,7 trilhões), anunciou o Escritório Nacional de Estatística (NBS) chinês na segunda-feira (17).

É o maior salto desde 2011 – além da meta de “mais de 6%” estabelecida pelo governo chinês e um pouco acima dos 8% das projeções do FMI e do Banco Mundial.

Em 2020, a China havia sido a única grande economia do mundo a conseguir uma expansão do PIB, 2,3%.

A participação da China na economia global ultrapassou 18% em 2021, segundo o NBS. De acordo com economistas chineses, a China contribuiu com impressionantes 50% para o crescimento do mundo, destacando o papel do país como âncora e estabilizador da economia global.

“A expansão robusta [em 2021], que supera as expectativas do mercado e eclipsa a maioria das outras grandes economias nos últimos dois anos”, registra o Global Times, “indica um caminho de recuperação econômica estável – com base na estratégia epidêmica de tolerância zero do país na qual Pequim tem confiado”, apesar de críticas do Ocidente, “e ventos contrários ao longo do ano, que variaram de surtos esporádicos de coronavírus, problemas no setor imobiliário, aumentos de preços de commodities a granel a uma crise de energia”.

Resultado que mantém a China como a segunda maior economia do mundo em termos nominais de dólares – embora já seja a primeira pela paridade de poder de compra desde 2014.

Como comparação, a Alemanha anunciou que sua economia cresceu 2,7% em 2021, enquanto a projeção dos EUA de crescimento encolheu para 5,6%, assim como as do Reino Unido e Japão, para respectivamente 6,9% e 2,4%.

Cresceu “uma Itália”

Em relação ao ano anterior, isso significa um aumento de US$ 2 trilhões, isto é, a China cresceu no ano passado aproximadamente o equivalente ao PIB da Itália de 2020, com base nos cálculos do GT.

Na realidade, houve mais “ventos contrários” do que citado antes – desde inundações até o fato de que o governo Biden, no fundamental, não tenha alterado a política anti-China perseguida pelo antecessor Trump, como explicitado pela manutenção das tarifas adicionais, proibição do fornecimento de microchips e cerco ao 5G.

Tudo somado, “é notável que a economia chinesa haja alcançado os objetivos duplos de maior crescimento e menor inflação”, acrescenta o portal, que observa que em 2021 o impacto da pandemia de Covid-19 no mundo continuou e “a economia global tem lutado para buscar a recuperação”.

As vendas no varejo da China, principal indicador de consumo, subiram 12,5% em 2021, para 44,08 trilhões de yuans (US$ 6,95 trilhões). Uma reviravolta em relação à queda de 3,9% em 2020, ressaltando a resiliência geral do poder de compra na China em um ano cheio de desafios.

As vendas de bens de consumo aumentaram 11,8% em 2021 em comparação com o ano anterior, enquanto a receita com serviços de alimentação aumentou 18,6%, de acordo com o NBS.

Segundo Ning Jizhe, chefe do NBS, as despesas de consumo contribuíram com 65,4% para o crescimento do PIB da China em 2021. Contribuição que fora de 54,3% em 2020 – o que mostra como o papel do consumo no crescimento econômico chinês se expandiu significativamente e o sucesso da política de “dupla circulação”, com o fortalecimento do mercado interno a par com o da exportação.

A contribuição das despesas de consumo em 2021 superou o nível médio de 60% de 2013 a 2019, embora ainda seja inferior à das economias desenvolvidas, de aproximadamente 70-80%.

Por trás desse crescimento robusto das vendas no varejo na China, estão um quadro de emprego estável e um aumento na renda pessoal disponível per capita.

O PIB per capita chegou a US$ 12.551, o que “superou a média mundial”, disse Ning. “De acordo com estimativas preliminares, o PIB mundial per capita em 2021 será de cerca de US$ 12.100”.

Ele alertou que “ainda há uma grande lacuna (entre o PIB per capita da China) e os países desenvolvidos” e que a China “ainda é o maior país em desenvolvimento do mundo”. O PIB per capita da China ultrapassou a marca de US$ 10.000 em 2019 .

Comércio exterior passa de US$ 6 tri

Outro ângulo desse desempenho é dado pelo volume do comércio exterior da China, que atingiu US$ 6,05 trilhões em 2021, ultrapassando a marca de US$ 6 trilhões pela primeira vez, conforme números da Administração Geral de Alfândegas (GAC) na sexta-feira.

O porta-voz do GAC, Li Kuiwen, disse que a resiliência da economia da China e a recuperação da economia global ajudaram o país a manter um forte impulso de crescimento no comércio.

As exportações e importações da China cresceram, respectivamente, 29,9% e 30,1% em todo o ano de 2021, em dólares americanos.

Na avaliação do economista-chefe do Hang Seng Bank , Wang Dan, o trabalho eficaz de prevenção e controle de surtos de pandemia do país permitiu manter a operação estável das cadeias industriais. Ele assinalou que a dependência global da produção chinesa “continuou a aumentar”.

Os cinco principais parceiros comerciais da China em 2021 foram a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), a União Europeia, os EUA, o Japão e a Coreia do Sul, registrando um volume de, respectivamente, 5,67 trilhões de yuans, 5,35 trilhões de yuans, 4,88 trilhões de yuans , 2,4 trilhões de yuans e 2,34 trilhões de yuans.

Espera-se que o comércio entre a China e os países da ASEAN atinja um novo recorde sob a Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP) – que também inclui o Japão e a Coreia do Sul -, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2022, e é o maior bloco comercial do mundo.

Já o comércio da China com países ao longo da Iniciativa do Cinturão e Rota em 2021 se expandiu 23,5%.

Por sua vez o investimento estrangeiro direto (IED) na parte continental da China cresceu 14,9% ano a ano, para um recorde de 1,15 trilhão de yuans em 2021, disse o Ministério do Comércio chinês na quinta-feira.

“No passado, o capital estrangeiro entrava na China na esperança de usar a terra e mão de obra barata da China para o comércio de processamento de exportação, mas agora a situação mudou. O investimento estrangeiro está entrando na China para ter acesso ao enorme mercado, visando retornos de longo prazo”, disse Wang ao portal CGTN.

As indústrias de alta tecnologia viram os fluxos de IDE saltarem 17,1% em relação ao ano anterior.

BC chinês corta juros

Essas conquistas não impedem o governo chinês de já anunciar medidas para fortalecer o desempenho da economia em 2022, que será o segundo ano de vigência do 14º Plano Quinquenal.

No quarto trimestre de 2021, houve uma significativa desaceleração do crescimento, para 4% sobre igual período do ano anterior, o que reflete os “ventos contrários” também descritos por autoridades chinesas como “tripla pressão”: “contração da demanda, choques de oferta e enfraquecimento das expectativas”.

Assim, o crescimento dos gastos do consumidor caiu para apenas 0,2% em dezembro, ante 3,9% no mês anterior, sob o impacto dos surtos de novas variantes da Covid.

Na sequência de cancelamentos e adiamentos de projetos no setor imobiliário, os investimentos em fábricas, imóveis e outros ativos fixos desaceleraram para 1,7%.

Embora na indústria manufatureira o valor agregado para a alta tecnologia e para equipamentos haja aumentado em 18,2% e 12,9% respectivamente.

Para combater essa desaceleração, o Banco do Povo da China (o BC chinês) baixou em dezembro sua taxa básica de empréstimos de um ano (LPR). Também cortou seu índice de compulsório em 50 pontos-base, liberando 1,2 trilhão de yuans (US$ 190 bilhões) em liquidez de longo prazo.

As taxas de juros para empréstimos de médio prazo (MLF) de um ano foram reduzidas de 2,95% para 2,85%. O BPC também abasteceu linhas de crédito de médio prazo de 700 bilhões de yuans e realizou recompras reversas (100 bilhões de yuans) de sete dias para manter a liquidez no sistema bancários.

Esses movimentos estão na contramão, por exemplo, do que o Federal Reserve norte-americano anda se propondo a fazer.

Infraestrutura

Ouvido pelo Global Times, o pesquisador especial do Gabinete de Conselheiros do Conselho de Estado, Yao Jingyuan, sugeriu que o governo chinês antecipe a liberação de megaprojetos – são 102 – previstos no 14º Plano Qüinqüenal, para sustentar o investimento.

Na base atual da economia chinesa, um ponto percentual de crescimento do PIB gera 2 milhões de empregos, um crescimento de 5% para 2022 difunde a pressão do mercado de trabalho e garante lucros corporativos e renda dos trabalhadores. Também não é tão rápido a ponto de prejudicar a busca por um crescimento de alta qualidade, disse Yao.

“Esses megaprojetos foram cuidadosamente estudados e deliberados e não há risco de bolhas. Esse impulso do setor de infraestrutura por si só poderia estabilizar a demanda doméstica”, disse Yao, observando que a China já fez esse movimento inicial antes e tem a experiência necessária.