Paulo Guedes, ministro da Economia

O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior. Uma ducha de água fria no discurso do governo Bolsonaro, quando divulgou o resultado do primeiro trimestre (1,2%), com Guedes à frente, dizendo que o Brasil estaria entrando em um momento “robusto” da economia.

O PIB continua no patamar do fim de 2019 ao início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,2% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

O principal impacto negativo veio da Agricultura, que registrou uma queda de -2,8%, a Indústria também teve uma variação negativa de -0,2%. Os Serviços tiveram uma variação positiva de +0,7%.

Os números ficaram muito abaixo das expectativas do governo, mas também do mercado financeiro. A previsão em pesquisa da Reuters era de um crescimento de 0,2%.

A Indústria de Transformação respondeu pelo maior encolhimento da indústria em geral, com um recuo de -2,2%, além do recuo de -0,9% na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos.

Com 5,3% de aumento na produção as indústrias extrativas, no embalo das exportações de minérios com preços em alta no mercado internacional, deram um fôlego para o setor junto com os +2,7% na construção, sem contudo reverter o resultado geral negativo.

O ministro Guedes reiterou que o Brasil ainda vai crescer 5,3% ou 5,4% neste ano. É muito pouco factível a economia crescer 3,86% nos próximos dois trimestres. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), neste trimestre, ficaram na lona: -3,6% e o Consumo das Famílias teve ZERO de crescimento.

A realidade se impõe. Com a informalidade respondendo por quase 40% da mão de obra com alguma ocupação, com 35% dos trabalhadores recebendo até um salário mínimo, mais os desalentados, miseráveis e outros, não há como a economia se sustentar.

“Foi este o resultado do atraso da vacinação e da piora da pandemia, em um ambiente de alto desemprego, aceleração inflacionária e persistente desarranjo das cadeias produtivas, que continua impondo gargalos na obtenção de insumos. Os ruídos na esfera política, ao introjetar incertezas na economia, também cobraram seu preço”, manifestou em nota o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre o resultado do PIB.

Não adianta o segmento de alto padrão da construção civil estar bombando em São Paulo, quando o Programa Casa Verde Amarela, que poderia girar toda economia está travada, entregando muito pouco além das unidades remanescentes do Minha Casa Minha Vida.

Portanto, não convence o discurso de que o PIB, apesar de encolher 0,1%, cresceu 12,4% frente ao 2º trimestre de 2020, a maior taxa trimestral de toda a série histórica do PIB, iniciada em 1996. “Estamos comparando este resultado [interanual] com o pior trimestre da pandemia”, destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. No segundo trimestre de 2020 a economia foi no fundo do poço com queda de 0,9%.

Numa comparação com outras nações, conforme lista da Austin Rating, agência classificadora de risco de crédito, o desempenho do PIB do Brasil no 2º trimestre ficou em 38º em ranking de 48 países.

O Reino Unido (Inglaterra) teve um aumento de 4,8%. A Espanha, de 2,8%, e a Itália conseguiu crescer o PIB em 2,7%. Com crescimento mais modesto temos a Alemanha com 1,6%, os EUA com mesmo índice. China com 1,3% e Chile com 1%. Brasil -0,1%.

A transformação da economia nacional em exportadora de produtos primários agrícolas, minerais e petróleo, com a indústria de transformação asfixiada, como que vem sendo implementada nos últimos 30 anos, se manifesta nos números divulgados.

“Este último resultado divulgado pelo IBGE para a economia brasileira indica que a saída da crise da Covid-19 pode ser mais complicada do que muitos previam. Não é por acaso que muitos países estão adotando planos robustos de recuperação, como os EUA e os europeus, calcados em investimentos em infraestrutura, auxílio a empresas e famílias fragilizadas pela crise e na modernização de suas estruturas produtivas”, diz o Iedi, alertando para as incertezas diante da “variante delta, da ameaça de apagão, aumento da inflação e do nível de juros”.

Em valores correntes, o PIB, que é soma dos bens e serviços finais produzidos no país, chegou a R$ 2,1 trilhões.

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