PF investiga empresa que causou rombo na Saúde na gestão de Barros
Polícia Federal deflagrou, na terça-feira (21), a Operação Pés de Barro, que investiga fraudes em licitações e um golpe de R$ 20 milhões que a Global Saúde, empresa irmã da Precisa Medicamentos, deu no Ministério da Saúde durante a gestão de Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara.
A Global Saúde recebeu o pagamento adiantado de R$ 20 milhões para entregar cinco medicamentos de alto custo, mas nunca o fez.
Estima-se que ao menos 14 pessoas morreram por não terem recebido os remédios.
A operação envolveu sessenta e um policiais federais que cumpriram 15 mandados de busca e apreensão nos Estados de Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e em Brasília.
A investigação trata de uma relação de cinco medicamentos que o governo federal foi obrigado a adquirir por decisões judiciais, movidas por pacientes que demandaram o medicamento exigindo direito à saúde. Os remédios foram o Aldurazyme, Fabrazyme, Myozyme, Elaprase e Soliris/Eculizumabe.
O pagamento aconteceu por ordem direta do então ministro Ricardo Barros, mesmo que os documentos necessários não tivessem sido entregues. Barros não está entre os alvos da operação.
Barros alega em nota que “não se comprovará qualquer irregularidade” na sua conduta. Não falou se houve irregularidades da parte da Global/Precisa. Repetiu que “não houve irregularidade”, na prática, assumindo a defesa e limpando a barra da empresa fraudulenta.
O dono da Global Saúde, Francisco Maximiano, é o mesmo da empresa Precisa Medicamentos, que tentou aplicar, em conluio com funcionários indicados por Bolsonaro no Ministério da Saúde, um golpe na venda das vacinas Covaxin.
Apesar da Global ter praticado esse crime, o governo Bolsonaro assinou contrato este ano com a Precisa para adquirir 20 milhões de doses da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, no valor de R$ 1,6 bilhão.
Ricardo Barros não se manifestou contra, sabendo dos antecedentes criminais da Global/ Precisa.
Fazendo jus ao seu DNA, a Precisa aplicou também irregularidades na compra na Covaxin, como pedido de pagamento adiantado, superfaturamento e falsificação de documentos. O pedido de adiantamento foi de US$ 45 milhões, que não estavam previstos em contrato.
Ricardo Barros ganhou de Bolsonaro a liderança do governo na Câmara.
A mulher de Ricardo Barros, Cida Borghetti, foi nomeada por Bolsonaro para o cargo de Conselheira de Itaipu, com mandato até maio de 2024, e com salário de R$ 27 mil.
A nomeação dela aconteceu dois meses depois de Bolsonaro tomar conhecimento através dos irmãos Miranda (Luis Ricardo Miranda e o deputado federal Luis Miranda – DEM/DF) de que a Precisa estava armando um golpe de US$ 45 milhões aos cofres públicos na compra da Covaxin.
Segundo os irmãos Miranda, Bolsonaro ao saber do assunto reagiu dizendo que a mamata era “coisa do Ricardo Barros”. E disse que iria levar a denúncia para a Polícia Federal investigar. Mas Bolsonaro nunca fez nada, não encaminhou a denúncia dos irmãos Mirada para a PF apurar como tinha prometido a eles.
As investigações da CPI da Pandemia conseguiram impedir que a fraude da Precisa prosperasse e também apontaram as ligações entre Ricardo Barros e a Precisa Medicamentos.
A Operação Pés de Barro teve como alvo dois ex-diretores de Logística do Ministério, Tiago Pontes Queiroz, que hoje atua como secretário no Ministério do Desenvolvimento Regional, e Davidson Tolentino.
Davidson teve um cargo na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) durante o governo Bolsonaro.
A Polícia Federal afirmou que tem indícios de inobservância da legislação administrativa, licitatória e sanitária, e descumprimento de reiteradas decisões judiciais para favorecimento da Global.
“Os envolvidos podem responder pelos crimes de fraude à licitação, estelionato, falsidade ideológica, corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e corrupção ativa”, afirma a Polícia Federal, em nota.
O nome da operação, Pés de Barro, é uma metáfora de origem bíblica.
“A expressão pés de barro é uma metáfora com origem no antigo testamento, referente à interpretação de um sonho do rei Nabucodonosor II pelo profeta Daniel. No trecho bíblico, verificam-se belas promessas, porém contraditórias na execução”, diz o comunicado.