Petro defende “acordo nacional por uma Colômbia forte e justa”
Na solenidade diante de multidão na Praça Bolívar, Gustavo Petro e a vice Francia Márquez assumiram compromissos de desenvolver a indústria nacional, gerar emprego e renda; combater a desigualdade, respeitar e ampliar o Acordo de Paz e fazer um “governo pela vida”.
“Quero uma Colômbia forte, justa e unida. Os desafios que temos como nação exigem uma etapa de unidade e consensos básicos. É nossa responsabilidade”, afirmou Gustavo Petro, ao tomar posse ao lado da vice-presidente, Francia Márquez, neste domingo (7), com a Praça Bolívar, em Bogotá, completamente lotada pela multidão.
Trazida pelos soldados em um ato emocionante até a solenidade, Petro sublinhou que “esta espada representa muito para nós e para nós e queremos que nunca mais seja enterrada”. Sob aplausos e vivas, o novo presidente assegurou que “só será embainhada quando não houver injustiça no país” e que “seu verdadeiro dono é o povo”.
Citando inúmeros projetos que pretende desenvolver para interiorizar o desenvolvimento, assegurou que a partir de agora os soldados do Exército “estarão ao lado da sociedade e da produção” para se unir “em uma nova ética social indestrutível”. “Helicópteros e aviões, fragatas, não servem apenas para bombardear ou atirar, mas também para criar a primeira infraestrutura de saúde preventiva do povo colombiano”, enfatizou.
Condenando a postura do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial de parasitar recursos imprescindíveis ao crescimento econômico e à própria segurança do planeta, Petro recordou que “se o FMI ajudar a trocar dívidas por ações concretas contra a crise climática, teremos uma nova economia próspera e uma nova vida para a humanidade”. “Um dos pilares do equilíbrio climático e da vida no planeta é a floresta amazônica. Vamos deixar essa selva ser destruída para chegar ao ponto sem volta na extinção da humanidade? Ou vamos salvá-lo com a própria humanidade que quer continuar vivendo nesta terra? Onde está o fundo global para salvar a floresta amazônica? Discursos não vão salvá-la”, enfatizou.
Com a presença de dezenas de autoridades de toda a América Latina, Petro reiterou que “hoje necessitamos estar mais juntos e unidos do que nunca. Como disse certa vez Simón Bolívar: ‘A união deve nos salvar, assim como a divisão deve nos destruir se chegar a introduzir-se entre nós’. Porém a unidade latino-americana não pode ser uma retórica, um mero discurso”.
De forma didática, o novo presidente expôs o decálogo do governo do Pacto Histórico, aquele que defende como imprescindível para gerar emprego, renda e “viver saboroso”. “Trabalharei para conseguir a paz verdadeira e definitiva, como ninguém, como nunca. Cumpriremos o Acordo de Paz e seguiremos as recomendações do informe da Comissão da Verdade. O ‘governo da vida’ é o ‘governo da paz’ “.
O segundo ponto chave é a atenção aos mais fragilizados. “Cuidarei de nossos avós e avôs, de meninos e meninas, das pessoas portadoras de deficiência, das que a sociedade há marginalizado. Faremos uma política sensível ao sofrimento e à dor alheia com ferramentas e soluções para criar igualdade”.
Em terceiro, assinalou, “governarei com e para as mulheres da Colômbia. Hoje, aqui, começa um governo paritário e com um Ministério de Igualdade. Finalmente. Com nossa vice-presidenta e ministra Francia Márquez trabalharemos para que o gênero não determine quanto ganha nem como vives. Queremos igualdade real e segurança para que as colombianas possam caminhar tranquilas e não temer por suas vidas”.
Para combater sectarismos, reiterou, como quarto ponto, este será um governo aberto a todos e todas que queiram construir consensos. “Dialogarei com todos e todas, sem exceções nem exclusões. Será um governo de portas abertas para todo aquele que queira dialogar sobre os problemas da Colômbia, se chame como se chame, venha de onde venha. O importante não é de onde viemos, mas para onde vamos. Nos une a vontade de futuro, não o peso do passado. Vamos
construir um Grande Acordo Nacional para definir a rota da Colômbia para os próximos anos. Este diálogo será o meu método, os acordos meu objetivo”.
O quinto compromisso é que não se governará de costas para a realidade, nem distante das necessidades. “Escutarei às colombianas e colombianos como tenho feito em todos estes anos. Não se governa à distância, afastado do povo e desconectado de suas realidades. Ao contrário: se governa escutando. Vamos desenhar mecanismos e dinâmicas para que todo colombiano se sinta ouvido por este governo. Eu não ficarei preso entre as cortinas da burocracia. Estarei próximo dos problemas. Caminharei ao lado e junto aos colombianos de todos os cantos”.
A referência nas vidas humanas, será o sexto ponto. “Defenderei das violências e trabalharei para que as famílias se sintam seguras. O faremos com uma estratégia integral de segurança. A Colômbia necessita uma estratégia que vá além dos programas de prevenção, desde acabar com a fome, a perseguição das estruturas criminosas até pôr fim à modernização das forças de segurança. As vidas salvas serão nosso principal indicador de êxito. Quero defender as famílias da insegurança diária e cotidiana: seja da violência machista ou de qualquer outra. Segurança se mede em vidas. O Estado é pra ser um Estado social de direito”.
O sétimo ponto, frisou Petro, é que “lutarei contra a corrupção com mão firme e sem distinção”. “Um governo de ‘tolerância zero’. Vamos recuperar o que roubaram, vigiar para que não volte a repetir e transformar o sistema para desincentivar este tipo de prática. Nem família, nem amigos, nem companheiros, nem colaboradores, ninguém ficará excluído do peso da lei, do compromisso contra a corrupção e de minha determinação de lutar contra ela”.
Em defesa da soberania nacional, permanentemente ultrajada por distintos governos, o novo presidente colocou que o oitavo compromisso é “proteger nosso solo e subsolo, nossos mares e rios, pois nosso ar e céu, nossas paisagens nos definem e nos enchem de orgulho. E, por isso, não vou permitir que a avareza de uns poucos ponha em risco nossa biodiversidade. Vamos enfrentar o desflorestamento descontrolado de nossos bosques e impulsionar o desenvolvimento de energias renováveis. A Colômbia será potência mundial da vida”.
Defesa da indústria nacional
Diante de uma situação catastrófica da economia, “em que 10% da população concentra 70% da riqueza”, Petro afirmou que o combate a esse “despropósito” será feito “não naturalizando esta desigualdade”. E este será o nono item, mas estratégico para o avanço do conjunto. “Desenvolverei a indústria nacional, a economia popular e o campo colombiano. Sem distinções nem preferências. Vamos acompanhar e apoiar todo aquele que se esforça pela Colômbia: o agricultor que se levanta ao amanhecer, o artesão que mantém viva nossa cultura, o empresário que gera empregos. Necessitamos de todos e todas para crescer e redistribuir riqueza. A ciência, a cultura e o conhecimento são o combustível do século 21. Vamos desenvolver a sociedade do conhecimento e da tecnologia”, defendeu.
Concluindo como décimo item, o novo presidente jurou diante dos presentes que cumprirá e fará cumprir a Constituição. “E desenvolveremos, também, uma nova cobertura legal para fazer sustentável, justo e igualitário nosso desenvolvimento. Necessitamos melhores e novas leis a serviço das grandes maiorias e garantir o seu cumprimento. Confio muito em que os debates nas nossas assembleias legislativas sejam frutíferos e ofereçam resultados para a sociedade colombiana. Há muito trabalho a ser feito e confio plenamente em nossos representantes”, concluiu.