Trump precisava nocautear Biden e nunca esteve perto de conseguir isso durante o debate | Foto: AP

Quatro pesquisas rápidas realizadas logo após o ultimo debate Donald Trump-Joe Biden da atual eleição nos EUA confirmaram que o vencedor foi o candidato democrata. Para a CNN, Biden venceu Trump por 53% a 39%.

Já a YouGov registrou vitória de Biden por 54% a 35%. Para a consultoria Data for Progress, quem se saiu melhor no debate foi Biden, por 52% a 41%.

Na pesquisa da US Politics, Biden também foi considerado o vencedor por 52% a 39%, com 9% considerando empate. A pesquisa foi feita com 772 prováveis eleitores.

Pesquisa antes do debate, com os mesmos participantes, mostrou a evolução de opinião diante do desempenho de cada candidato. Opinião favorável a Trump caiu 3 pontos percentuais, para 39%. Desfavorável, aumentou 2 pontos percentuais, para 57%. Não sabe aumentou de 3% para 4%.

A opinião favorável a Biden subiu 3 pontos percentuais, para 53%. Desfavorável, caiu 1 ponto, para 47%. Não sabe caiu de 5% para 3%.

Biden venceu nos temas Combatendo a Covid-19 (56% a 37%; empate 7%); Famílias Americanas (49% a 39%; empate 12%); Liderança (44% a 39%; empate 17%); Raça na América (51% a 40%; empate 9%) e Mudança Climática (55% a 39%; empate 6%). Trump venceu apenas no quesito Segurança Nacional (48% a 36%; empate 16%).

O que bate com a percepção de grande número de analistas norte-americanos de que a eleição que se tornou em um referendo sobre os quatro anos de Donald Trump e, em especial, sobre seu desastre completo no enfrentamento da pandemia de Covid-19, e que se traduziu em mais de 220 mil mortos e mais de 8 milhões de contágios.

Desastre agravado pelo obscurantismo, apologia do racismo e da xenofobia e favorecimento dos magnatas.

Trump precisava nocautear Biden e jamais esteve perto de conseguir isso nos 90 minutos do debate. Para Biden, a quem as pesquisas favorecem, até mesmo um empate não seria desastroso.

Assim, o principal resultado do debate foi que Trump fracassou em sair das cordas.

Nesta sexta-feira, os votos por antecipação já chegaram a 52 milhões, além de que as pesquisas mostraram que 90% dos que viram o debate mantiveram o voto que já tinham optado.

Na maioria dos estados campos de batalha Biden está na frente, mesmo que em alguns estados a diferença esteja até aqui na margem de erro.

No debate, Trump também não conseguiu trazer de volta os idosos, vítimas preferenciais da pandemia e do negacionismo do bilionário. O eleitorado feminino em geral e em particular o dos subúrbios mais abastados também está com Biden, apesar do empenho de Trump de assustar as votantes com a ameaça de uma invasão de moradias baratas, além do “caos nas ruas”.

Biden é ainda a escolha da juventude e dos negros – apesar de Trump asseverar que é “o melhor presidente para as comunidades negras, com possivelmente a exceção de Abraham Lincoln”.

O New York Times ironizou o comportamento mais normal do presidente bilionário, dizendo que no debate ele tentou parecer o menos possível com ele mesmo.

Também virou um fiasco a tentativa de entabular, com o oponente Biden, um ‘debate’ sobre a ‘corrupção na família’ – logo de parte de alguém como Trump, que se delicia com o estilo do escracho mafioso e evasor de impostos.

Aquela imagem que Trump tentou colar em Biden, de que estaria com demência e quase morto, além de ser joguete da ‘esquerda’, ficou desmoralizada pela capacidade de raciocínio e ironia mostrada no debate pelo ex-vice-presidente.

Também era muito melhor a mensagem de Biden sobre resgatar a “alma da nação” e escolher a “ciência em vez de ficção, esperança em vez de medo”, confrontada com a raivosa arenga de Trump sobre o “vírus chinês”.

O portal Político registrou que os republicanos estavam “rezando” para que Trump tenha conseguido “estancar a sangria”.

O dia seguinte não foi dos melhores. O número de contágios disparou para 83 mil e em grande medida é a América Rural, base de Trump, que foi atingida em cheio. Em setembro, as hospitalizações em decorrência do coronavírus cresceram 40% em relação ao mês anterior.

Novo estudo advertiu que o total de mortos de Covid até o final de fevereiro poderá ultrapassar o meio milhão – e que 130 mil mortes poderiam ser evitadas se 95% das pessoas usassem a máscara facial. O que reforça a pandemia como tema central para a decisão do voto.

Biden também anunciou seu plano para controle da pandemia. A campanha de Trump está na expectativa de que a declaração de Biden, favorável à transição para uma geração de energia mais sustentável e ambiental, que crie milhões de empregos, assuste eleitores ligados ao fracking, tornando menos difícil a situação crítica na Pensilvânia.

No domingo, irá ao ar o “60 Minutes”, o principal programa dominical da televisão norte-americana, que terá um especial com as duas chapas em disputa. Trump interrompeu a entrevista, acusando a respeitada apresentadora Leila Stahl de ser “falsa” e “tendenciosa” e, para tentar reduzir o impacto, postou no Twitter a reprodução dos 40 minutos que já concedera.

O que fez Trump ficar furibundo foi a pergunta da jornalista sobre qual era a ligação dele com os milicianos do Michigan, que foram presos por conspirarem para sequestrar e matar a governadora democrata Gretchen Whitmer. No mais recente comício que fez em Michigan, Trump se referiu a que “estavam dizendo” que ela havia sido ameaçada, propiciando a turba trumpista a retrucar aos berros, com “Prendam-na” e insistindo em dizer que ela havia transformado Michigan em uma “prisão”. Para não perder a viagem, Trump insuflou seus cabos eleitorais a “prendam todos eles”.

Até a eleição, Trump vai fazer dois comícios por dia, insuflando sua gente de boné vermelho MAGA, chamando o QAnon – aqueles malucos que acham que os democratas fazem parte de uma seita de canibais pedófilos – de ‘gente boa que gosta de mim’, e intensificando a divisão nos EUA.

Com todas as agora notórias deformações do sistema eleitoral norte-americano – que incluem o colégio eleitoral, a supressão de votos das minorias, o liberou-geral para uma avalanche de dinheiro sujo e até mesmo a falta de uma justiça eleitoral unificada, para evitar qualquer surpresa, a ordem é chamar a votar para despachar Trump. Às urnas, cidadãos!

É disso que se trata: fora Trump e garantir a democracia. Mesmo essa tão avacalhada e tão manipulada pelo poder da grana, em vigor nos EUA.

Como registrou a revista Time, “esta eleição não é sobre Biden, e todo mundo, inclusive Biden, sabe disso”.