A economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institutte for International
Economics (PIIE), defende a adoção de medidas de curto prazo, como investimentos públicos e
a revisão do teto de gastos, para o enfrentamento da crise econômica agravada pela pandemia
do coronavírus.
Em entrevista à Agêngia Pública, ela criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes, por
apresentar medidas que se baseiam nas reformas que tramitam no Congresso Nacional,
medidas que para alguns economistas vão agravar a crise.
Segundo Monica de Bolle, a atual crise não tem precedentes na história das crises recentes.
“Não temos como comparar isso que está acontecendo com o cenário, por exemplo, de 2008.
São crises de natureza muito diferentes. Em 2008, foi uma crise de natureza financeira. Uma
crise causada por uma epidemia, ou seja, quando você junta uma crise econômica com uma
crise de saúde é algo inédito”, afirma.
Defensora das reforma neoliberais, Monica Bolle no entanto afirma que o Brasil precisa reaver
as prioridades de política econômica neste momento e deixar as reformas de médio prazo de
lado por um tempo. “Temos que parar para pensar no que pode ser feito dentro das restrições
que o país têm para evitar o pior cenário”.
“O debate não pode mais ser reforma de médio prazo, mas o que a gente vai fazer para
enfrentar uma situação absolutamente inédita, que outros países avançados estão tendo
dificuldades em enfrentar. Minha proposta é que o país aja na área de investimento público,
sobretudo em infraestrutura. O investimento público no Brasil desabou e é uma área
fundamental para movimentar a economia”, afirmou.
“O governo teria que sentar e delinear essa estratégia para começar hoje um programa de
investimentos públicos para tentar conter a situação que vem por aí. Isso pode exigir que o

teto de gastos seja modificado ou até deixado de lado por um tempo dentro do possível? Sim.
Sei que não cumprir o teto é crime de responsabilidade, mas estamos falando de uma situação
excepcional, o que a maior parte dos economistas do Brasil não conseguem entender”.
Ele ressalta a situação de fragilidade da economia brasileira “de crescimento muito baixo, uma
taxa de desemprego muito alta e um mercado de trabalho muito fragilizado”.
“Centenas de milhões de pessoas vão depender do SUS, que é um bom sistema de saúde, mas
não tem capacidade de absorver o tipo de dano que essa doença pode causar, haja visto o
colapso no norte da Itália, uma região desenvolvida, onde há bons hospitais e o sistema de
saúde é público. O Brasil tem uma vulnerabilidade da população extrema comparado a outros
países, um percentual considerável de idosos, muitos dos quais sem amparo nas redes de
proteção social. É uma situação de quase tempestade perfeita para que uma doença como
essa, sem a devida resposta das autoridades brasileiras, gere uma destruição imensa de vidas,
de sistema de saúde e da economia”, enfatizou. “Eu fico espantada com como as pessoas no
Brasil estão cegas para o que está se passando e para o que pode vir pela frente”.
Para ela, a revisão do teto de gastos “é uma questão fundamental pela qual deveria estar
passando o debate econômico no Brasil e onde deveria estar a cabeça das autoridades.
Infelizmente, não é o que estamos vendo”.
“Quem diz que não pode mexer no teto de gastos fala isso sem embasamento econômico
algum, mas essencialmente, com embasamento ideológico. Quem diz que o governo não pode
gastar, fala isso puramente com o embasamento ideológico”.