À véspera do convescote de bilionários e personalidades de Davos, pesquisa realizada em 28 países por uma instituição norte-americana, o Barômetro Edelman de Confiança, com 34 mil pessoas, revelou que a maioria – 56% – concorda com a afirmação de que “o capitalismo como existe hoje faz mais mal do que bem no mundo”.
Uma maioria ainda mais expressiva – 78% – concordou com a afirmação de que “as elites estão ficando mais ricas enquanto as pessoas comuns lutam para pagar suas contas”.
Resultados que confirmam a ampla rejeição, no mundo inteiro, da obscena desigualdade de riqueza em favor de uns poucos magnatas enquanto quase todos ficam à míngua e não param as reformas de políticas públicas que só fazem cortar direitos de todos e liberar dinheiro público para os privilegiados e os bancos.
Conforme a Reuters, a pesquisa ocorre desde 2000, tendo como ponto de partida verificar as concepções de Francis Fukuyama de “Fim da História”, com a derrota do socialismo e prevalência do capitalismo e das chamadas democracias liberais.
Este ano, pela primeira vez o “Edelman Trust Barometer” buscou entender como o próprio capitalismo é visto. A motivação foi que as pesquisas anteriores mostravam “um crescente sentimento de desigualdade” entre os entrevistados. O que levou os pesquisadores a investigarem se os cidadãos estavam começando a ter “dúvidas mais essenciais” sobre o sistema em vigor.
“A resposta é sim”, disse David Bersoff, pesquisador principal do estudo da Edelman. “As pessoas estão questionando nesse ponto se o que temos hoje, e o mundo em que vivemos hoje, é otimizado para que elas tenham um bom futuro.”
A pesquisa foi realizada em países como os EUA e a França, e outros de trajetória diferente, como a Rússia e a China. O crescimento da rejeição a como as coisas estão atualmente se repetiu tanto por faixa etária como gênero e nível de renda.
Em apenas seis países/regiões a maioria ainda considera que o capitalismo faz mais bem do que mal: EUA, Canadá, Japão, Austrália, Coreia do Sul e Hong Kong.
O mais alto nível de rejeição foi encontrado na Tailândia (75%) e o menor, no Japão (35%). Mesmo nos EUA, 47% revelaram concordar com que o capitalismo como está “faz mais mal do que bem”.
A pesquisa também descobriu que 48% dos entrevistados consideram que o sistema está falhando com eles, enquanto os que acreditam que está funcionando a seu favor ficou em apenas 18%. Em 15 dos 28 países a maioria se mostrou pessimista quanto à sua situação financeira daqui a cinco anos. Nos EUA, o pessimismo aumentou 7 pontos percentuais em relação ao ano passado.
No quesito de percepção de instituições – no caso, empresas, governo e ONGs – a pesquisa mostrou que os entrevistados acham por 64% a 10% que as ‘empresas’ levam vantagem em comparação ao ‘governo’ em matéria de “ser bom no que faz”, o que se inverte quando se trata de “proteger o meio ambiente” e “fechar a lacuna da desigualdade de renda”, quando o ‘governo’ tem o dobro da avaliação das ‘empresas’. Nas questões éticas, as ‘ONGs’ são melhor avaliadas que o ‘governo’ (diferença de 31 pontos) e ‘empresas’ (diferença de 25 pontos).
As tendências mostradas na pesquisa do Barômetro de Confiança Edelman convergem com outros estudos sobre a percepção de desigualdade nos EUA. Como registrou o Common Dreams, pesquisa Harris para Axios/HBO revelou que, do ano passado para cá, a porcentagem de mulheres entre 18 e 54 anos que preferiam que existisse nos EUA um sistema mais abrangente de direitos e proteção social aumentou drasticamente de 40% para 55%.
Essa evolução foi analisada no portal Axios por Felix Salmon e Alexi McCammond, em artigo intitulado “Descontentamento com o capitalismo”: “quando os americanos dizem que querem viver em um país socialista, não querem dizer que querem viver em uma economia de comando marxista. Em vez disso, querem dizer que desejam assistência médica universal, educação gratuita, e um salário decente por uma jornada de trabalho decente”.
Na conclusão dos dois, esse debate poderá vir a ter um impacto real nas eleições de novembro. Pesquisa da Gallup em maio de 2019 já havia mostrado que aproximadamente 40% dos americanos acreditam que o socialismo é uma “coisa boa”, o que provavelmente refletia o aumento da popularidade do senador Bernie Sanders e da bancada progressista eleita.
“O capitalismo falhou com a maioria dos americanos nas últimas décadas. Em vez disso, criou uma economia que parece – e é – profundamente injusta”, argumentam Salmon e McCammond. “Aproveitar essa fonte de ressentimento será uma importante fonte de apoio político para todos os candidatos bem-sucedidos em 2020”. “Tornou-se impossível ignorar, política e economicamente, a desigualdade maciça, especialmente agora que os EUA são liderados por um presidente bilionário”, enfatizaram