A revista médica “The Lancet” publicou nesta sexta-feira (22) uma pesquisa multicêntrica, envolvendo 671 hospitais de seis continentes e 96 mil pacientes, apontando que a hidroxicloroquina e a cloroquina não apresentam benefícios contra a Covid-19.

Os resultados mostram que também não há melhora na recuperação dos infectados e que existe um risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização pela infecção.

Este é o maior estudo feito com pacientes infectados e internados com a Covid-19 e o prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia afirmado na quarta-feira (20) que as substâncias podem causar efeitos colaterais e não têm eficiência contra doença. Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças comunicáveis da Opas, também disse que “não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina”.

Segundo o resultado da pesquisa, os pacientes medicados com as substâncias, incluindo em combinações com outros medicamentos aprovados, apresentaram um risco maior de morte hospitalar e de desenvolvimento de arritmia cardíaca.

Esta parte da pesquisa, que aponta a gravidade dos efeitos colaterais, deixa mais evidente a quais riscos a população brasileira está sendo exposta pelas autoridades brasileiras ao promoverem as modificações no protocolo sobre o uso desta droga. Jair Bolsonaro impôs ao Ministério da Saúde uma orientação para que a cloroquina seja usada de forma ampla pela população afetada pela Covid-19.

“Este é mais um estudo em larga escala a encontrar evidências robustas estatisticamente de que o tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não traz benefícios a pacientes com Covid-19”, disse o autor Mandeep Mehra, líder da pesquisa e diretor do Brigham and Women’s Hospital Center for Advanced Heart Desease, em Boston, nos Estados Unidos.

Em 8 de maio, outra revista, a britânica “The New England Journal of Medicine”, publicou os primeiros resultados robustos internacionais sobre a efetividade do tratamento da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com coronavírus. De acordo com os autores, não foram encontradas evidências de que a droga tenha reduzido o risco de entubação ou de morte.

A pesquisa revisada por outros cientistas (pares) antes da publicação foi feita no Presbyterian Hospital, em Nova York, e observou pacientes com teste positivo para o vírus. Todos estavam em um quadro moderado a grave, definido pelo nível de saturação de oxigênio no sangue inferior a 94%. Foram admitidas 1.446 pessoas com a doença entre 7 e 8 de abril de 2020, e 70 delas foram excluídas por já terem recebido alta, morrido ou sido entubadas.

A primeira pesquisa divulgada foi feita na França e analisou 26 pacientes, mas excluiu 6 deles com uma piora do quadro após o uso do medicamento. Mesmo que alguns infectados tenham apresentado uma melhora no quadro, a retirada do pequeno grupo dificultou a interpretação dos dados. A pesquisa foi bastante criticada pela comunidade científica.

O protocolo da cloroquina foi motivo de atrito entre Bolsonaro e os últimos dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em menos de um mês, os dois deixaram o governo. O texto do ministério mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio. A cloroquina não está disponível para a população em geral.

Dados da pesquisa: 96.032 pacientes internados foram observados; Idade média de 53,8 anos e 46,3% eram mulheres; Pacientes são de 671 hospitais em 6 continentes; 14.888 pacientes receberam 4 tipos de tratamentos diferentes com a cloroquina e a hidroxicloroquina; As hospitalizações ocorreram entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020. Publicação: The Lancet.