Peru: Sagasti é o novo presidente provisório e promete estabilidade
Em meio a uma grave crise política e enormes manifestações que deixaram dois mortos e mais de duzentos feridos, o deputado Francisco Sagasti, do Partido Morado, assumiu transitoriamente a presidência do Peru até as eleições convocadas para abril do próximo ano, com um chamado ao diálogo no seio da sociedade peruana.
Suas primeiras palavras como presidente durante sessão do Congresso, na terça-feira (17), foram para reconhecer as massivas mobilizações em todo o país, marcadas pela participação de milhares de jovens que repudiaram o governo de seu antecessor, Manuel Merino, forçado a renunciar antes de cumprir uma semana no cargo, e também a setores políticos desacreditados por escândalos de corrupção.
A crise teve como estopim a destituição do ex-presidente Martín Vizcarra sob acusações de corrupção, no dia 9 de novembro, poucos meses antes das eleições. As manifestações não tiveram como objetivo central a defesa daquele governo, mas impedir que a forma irregular do processo permitisse a instauração de um golpe que adiasse as eleições no início do próximo ano.
“Não haverá impunidade”, afirmou Sagasti, engenheiro dedicado à docência universitária e à pesquisa que trabalhou na Unesco e outros organismos internacionais.
A indicação de Sagasti, na segunda-feira (16), resultou de uma ampla frente contra o fascismo fujimorista. Ele obteve 97 votos dos 130
membros do Congresso unicameral. Houve 26 votos contra, de fujimoristas e dos mais radicais da coalizão de direita e de deputados acusados de corrupção que apoiaram a imposição antipopular de Merino, de curta passagem.
Em sua colocação, o novo presidente rendeu homenagem aos dois estudantes falecidos nas manifestações e pediu à Promotoria que
aprofunde as investigações sobre a brutal repressão executada pelo breve governo reacionário que o precedeu. Citou os feridos nos protestos e disse que assumia o compromisso de encontrar os mais de 20 peruanos que estão desaparecidos.
“Não podemos devolver a vida destes jovens, mas sim podemos evitar que isto volte a acontecer. Podemos, ainda, apoiar os feridos, alguns deles com gravidade. Em nome do Estado, pedimos perdão a seus familiares, a eles e a todos os jovens que marcharam para defender a democracia, e que nos fizeram recordar o que é a vocação de serviço público”, disse.
Os pais dos estudantes mortos saudaram o novo presidente desde as galerias quando este se retirava depois de terminar seu discurso.
Sagasti afirmou que seu primeiro compromisso será garantir que as eleições sejam “realizadas sem contratempos e absolutamente limpas”. Ele também assinalou que o governo manterá “absoluta neutralidade no processo”.
Expressou que, no pouco tempo que ficará no governo, enfrentará “a grave crise causada pela pandemia na saúde e na economia”, com a disposição de promover serviços públicos de qualidade em saúde e educação, com ênfase especial na promoção da ciência e tecnologia como soluções para ambos os problemas.
“Mas a primeira coisa será redobrar esforços para encontrar aqueles que desapareceram (nos protestos) e instigar o Ministério Público a realizar mais investigações sobre as ações que causaram a tragédia.
Destacou que seu governo terá “gestão responsável das finanças” e que haverá “estabilidade econômica e equilíbrio fiscal”. “Estamos cientes das lições obtidas com as consequências de se deixar de lado esta condição fundamental para uma melhor distribuição da riqueza, estabilidade e equilíbrio fiscal”, disse.
“Cuidaremos dos assuntos mais urgentes, e o faremos respondendo à estabilidade e ao equilíbrio, porque, se não o fizermos, todo o país perde. E, se perdermos, teremos desemprego e inflação”, acrescentou.
Indicou que a pandemia tinha revelado de forma mais crua as carências do país em questões como saúde e outros serviços básicos, como educação, e era necessário melhorar a atenção do Estado. A pandemia provocou até agora mais de 930 mil contagiados e mais de 35 mil mortos. A queda do PIB para este ano se estima entre 12 e 14%.