(FILES) In this file picture taken on November 10, 2020 the head of the Peruvian Congress, Manuel Merino (R), waves after being sworn in as interim president in Lima, a day after the Congress voted to impeach and oust President Martin Vizcarra over corruption allegations. - Peru's President Manuel Merino resigned on November 15, 2020, just five days after taking office, sparking wild street celebrations in the capital Lima after protests against his rule. (Photo by Cesar Von BANCELS / AFP)

Poucos dias depois das enormes manifestações que deixaram dois falecidos e mais de 100 feridos no país, o novo presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, anunciou uma renovação da cúpula da Polícia, e o início de um processo de reforma para “modernizar” a instituição, que tinha sido comprometida com a repressão desatada contra o povo que se opunha nas ruas ao efêmero governo anterior, encabeçado por Manuel Merino.

Em sua primeira mensagem à nação, Sagasti pediu perdão “pelos abusos do Estado” às famílias de Bryan Pintado e Inti Sotelo, dois jovens de 25 anos que morreram durante as manifestações marcadas pela repressão, segundo denúncias de organismos de Direitos Humanos.

Em sua reforma, o governo nomeou um novo comandante e enviou 15 generais que estavam comprometidos com atos violentos e ilegais para a reserva. “Tomei a decisão de designar como novo comandante de Polícia o general César Augusto Cervantes”, anunciou em mensagem ao país exibida na televisão seis dias após assumir o poder. “Estas medidas têm por finalidade fortalecer a polícia”, assinalou.

A crise que o país ainda não superou totalmente teve como estopim a destituição do ex-presidente Martín Vizcarra sob acusações de corrupção, no dia 9 de novembro, poucos meses antes das eleições, marcadas para abril do próximo ano. As manifestações não tiveram como objetivo central a defesa daquele governo, mas impedir que a forma irregular do processo permitisse a instauração de um golpe que adiasse as eleições. Indicado como resultado da formação de ampla frente no Congresso contra o golpismo da direita fujimorista, Francisco Sagasti prometeu manter as eleições na data já fixada.

Cervantes substituiu o general Orlando Velasco, que estava no comando das forças de segurança desde 7 de agosto. A mudança ocorre apesar de Velasco estar de licença médica durante os protestos contra o presidente anterior, Manuel Merino.

O ministro do Interior, Rubén Vargas, afirmou que “queremos uma polícia que continue defendendo a democracia e os direitos fundamentais, que nos devolva a segurança e as garantias”.

Sagasti criou ainda uma comissão, liderada por Vargas que, em 60 dias, deve apresentar propostas para modernizar e fortalecer a instituição. O presidente interino disse que com a reforma pretende “conectar a polícia com os cidadãos”.

Além das duas mortes e dos mais de 100 feridos, vítimas do uso de espingardas que disparavam balas de chumbo e bolas de cristal no centro de Lima, mulheres detidas em delegacias apresentaram denúncias de abusos sexuais.

O Ministério Público abriu uma investigação penal preliminar contra Merino e dois de seus ministros pela repressão descontrolada.

“Tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre a situação no Peru por meio de nossa observação direta e do diálogo franco com seus protagonistas”, incluindo parentes dos dois jovens falecidos, disse Jan Jarab, chefe da delegação e representante da ONU para os Direitos Humanos na América, presente em Lima.

Depois de assumir o poder em 17 de novembro, Sagasti introduziu várias mudanças na direção do Ministério do Interior, sob cuja estrutura está a Polícia.

O presidente disse que esta reforma visa dar “transparência e integridade” à instituição, aludindo a alegados atos de corrupção durante a pandemia.

A gravidade da situação é preocupante: os contaminados pela pandemia de coronavírus se aproximam de um milhão e os mortos já ultrapassam os 35 mil – para uma população de 32 milhões de habitantes -, proporcionalmente, pior do que o Brasil. E no primeiro semestre o PIB peruano caiu 17,4%, um dos piores desempenhos do mundo.