Pedro Castillo fala a apoiadores da sacada da sede do partido Peru Livre

“O povo falou”, declarou o candidato a presidente do Peru, Pedro Castillo, ao comemorar a vitória sobre a candidata Keiko, herdeira da ditadura fujimorista.

Em uma disputa voto a voto, a avaliação de Castillo e demais líderes de sua campanha, não há mais condições de reversão com a quantidade de votos que restam ser apurados.

O professor e líder comunitário se dirigiu aos ativistas que permanecem desde o começo da apuração reunidos em frente à sede do partido, em Lima, e o receberam aos brados de “Pedro! Pedro!” em Lima, para anunciar – com o chapéu que vestiu durante toda a campanha na mão e os braços abertos – que sua vitória sobre sua adversária Keiko Fujimori é irreversível.

Com 99,820% das atas processadas, o professor tem 50,193% dos votos contra 49,807%, o que representa mais de 77 mil votos de vantagem sobre Fujimori até o fechamento desta matéria nesta quarta-feira (9).

A Fujimori esperava reduzir essa distância na etapa final da apuração, com a chegada dos votos dos peruanos no exterior. Mas, ao mesmo tempo, foram computadas as atas de regiões mais remotas do Peru, onde Castillo recebeu um apoio maciço.

“De acordo com o relatório de nossos representantes, já temos a apuração oficial do partido, onde o povo se impôs nesta façanha, a qual saudamos. Por isso, peço também que não caiam na provocação”, disse no início da sua fala.

Com os resultados que mostravam sua visível derrota, Keiko Fujimori começou a se pronunciar já na noite de segunda-feira (7) para falar de “irregularidades” e “fraude”.

Ela lançou a acusação sem provas em uma entrevista coletiva na qual não respondeu a perguntas. Foi uma reclamação que soou mais como um esperneio, um ato desesperado de quem é derrotado. Antes da votação, com as pesquisas contra, a mídia ligada a Fujimori começou a criar um cenário para denunciar fraudes se o resultado não os favorecesse. Na segunda-feira, Keiko usou esse cenário.

O partido de Pedro Castillo, contestou essas acusações. “Rejeitamos as declarações da candidata da Fuerza Popular, lembrando-lhe que o Peru Livre nunca recorreu à fraude eleitoral, pelo contrário, sempre foi vítima dela e, apesar de tudo, soubemos enfrentar e vencer”.

O órgão eleitoral ainda não se pronunciou oficialmente, entretanto, o cientista político Fernando Tuesta, ex-chefe do ONPE, considerou que os argumentos usados por Fujimori para falar de uma suposta fraude “são desprezíveis”.

“A Sra. Fujimori já tem um histórico de desconhecer os resultados. Há cinco anos, isso levou o país a níveis de ingovernabilidade e instabilidade”, disse, referindo-se à última eleição de 2016 que a candidata perdeu para Pedro Paulo Kuczynsky e negou-se a reconhecer a derrota.

Os observadores internacionais felicitaram o organismo eleitoral pela condução do pleito.

A crise que o país vive está sendo utilizada para prejudicar a candidatura de Castillo. O sol, a moeda local, caiu nos últimos dias perante a incerteza de um país já habitualmente agitado, com quatro presidentes na última meia década, que registra a maior taxa de mortalidade do mundo pela pandemia, com mais de 185 mil mortes em uma população de 33 milhões de habitantes e queda de mais de 11% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2020.

“Estão nos passando algumas rasteiras, como a alta do dólar, que amanhã vai subir alguns pontos mais, o preço do pão, o preço do frango, o preço da cesta familiar, como se fosse por causa da nossa candidatura. Mentira! O que acontece é que há certa incerteza, mas o povo já não acredita”, disse Castillo.

Além desse apelo a denúncias de fraude para gerar instabilidade, Keiko não se caracteriza por práticas honestas na sua ação política. Ela ainda é investigada pelo Ministério Público pelo caso de receptação de pagamentos ilegais da empresa brasileira Odebrecht, um escândalo que afetou quatro ex-presidentes peruanos. Ela já ficou 16 meses em prisão preventiva por este caso.

O professor Castillo relatou ter mantido contatos com empresários, setor que, durante a campanha, estavam alinhados com Fujimori e manifestava rejeição à sua candidatura. “Acabo de ter conversas com o empresariado nacional que está mostrando seu respaldo ao povo. Faremos um governo respeitoso com a democracia, com a Constituição atual. Faremos um Governo com estabilidade financeira e econômica”, assinalou.

A apuração ainda não concluída mantém o Peru em vigília desde a noite de domingo. Para que o resultado final seja oficializado, é preciso que o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol) compute todas as cédulas, incluindo as que chegam do exterior. O Tribunal Nacional de Eleições resolverá posteriormente as impugnações apresentadas por ambos os lados, e depois disso diplomará o vencedor. A se confirmar o prognóstico de Castillo, Fujimori teria sido derrotada pela terceira vez consecutiva em um segundo turno das eleições presidenciais. A última, em 2016, também foi por uma margem muito estreita.