Medida do presidente Vizcarra sustando manobra da corrupção fujimorista para escapar das grades tem apoio popular crescente - foto AFP

A popularidade do presidente do Peru, Martín Vizcarra, chegou aos 75% depois do embate com os adeptos do ex-ditador Alberto Fujimori que o levou a suspender o parlamento e convocar eleições legislativas para janeiro. 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Peruanos publicada na segunda-feira, 7, revelou que 84% respalda a dissolução constitucional do Congresso e apenas 8% está em desacordo com essa medida.

Nas ruas, a população saiu a comemorar a suspensão de um Congresso identificado com a proteção da corrupção.

O Congresso peruano foi suspenso quando uma medida do governo enviada aos deputados lhes impedia a manipulação do supremo, o Tribunal Constitucional, através da nomeação a toque de caixa de adeptos do fujimorismo – mergulhado em acusações de corrupção e com sua chefia, Keiko Fujimori presa – como juízes para soltar a delinquente e livrar seus cúmplices de julgamento.

Os fujimoristas tentaram afrontar o presidente com uma atuação autoritária, abertamente revanchista com o governo, grosseiramente defensora da corrupção praticada nos espaços onde atuam e, reunindo 86 parlamentares de um total de 130, declararam vaga a Presidência do país (apesar de que o fizeram sem um julgamento político, o que seria necessário para tal medida, e sem os 87 votos, ou 2/3 do Congresso unicameral, número necessário para a destituição do presidente).

Ato contínuo, declararam a vice-presidente, a congressista Mercedes Aráoz, como “presidente interina”.

A grande maioria dos peruanos respalda o “desempenho público” de Vizcarra, um político pouco conhecido quando assumiu o poder em março de 2018, após a renúncia do presidente Pedro Pablo Kuzcynski, preso por corrupção depois que a Odebrecht revelou pagamentos a duas empresas vinculadas a ele – Westfield Capital e Firts Capital – por assessorias para operações financeiras enquanto era ministro do presidente Alejandro Toledo, também condenado por operações similares.

O enfrentamento foi acirrado quando os fujimoristas tentaram às pressas, indicar como juízes elementos seus para fazer maioria do TC, no afã de escapar da condenação por corrupção que está em vias de acontecer depois que o agente da Odebrecht, Jorge Barata, começou a ser ouvido por promotores do país, que chegaram ao Brasil, depois que ele prometeu revelar os nomes verdadeiros de 70 peruanos que constam com apelidos nas planilhas que a Odebrecht usava como indicativo de sua contabilidade de subornos no setor denominado de “Operações Estruturadas”.

Aráoz, que os fujimoristas indicaram no desafio ao presidente Vizcaarra, chegara à vice-presidência com a renúncia do ex-presidente Pablo Kuczinsky, também envolvido em corrupção. Uma vez consumada a renúncia de Kuczinsky, quem assumiu a Presidência foi o seu vice, Martín Vizcarra, que segue no cargo de presidente. Conforme as normas do país, Aráoz foi indicada pelo Congresso para o cargo de vice-presidente ao qual acaba de renunciar.

Na semana passada, ela anunciou sua renúncia à Vice-Pesidência deixando assim descartada a possibilidade de exercer a presidência, mesmo nos termos da manobra fujimorista, que decretavam a vacância presidencial, aliás, medida adotada quando o Congresso já estava dissolvido. A decisão de Aráoz consolida a posição do presidente Vizcarra e dá um fim à jogada que tentava instaurar um duplo poder.

Os adeptos de Fujimori transformaram o respaldo que tinham conseguido no Parlamento em uma rejeição de cerca de 90%.

Na situação emergencial criada, o presidente Vizcarra governará por decreto até que se instale o novo Congresso que se elegerá em 26 de janeiro. Ele prometeu seguir adiante no apoio total aos processos de indiciamento, julgamento, condenações e aplicação das penas correspondentes aos envolvidos no esquema de corrupção que, também no Peru, teve a Odebrecht como epicentro do escândalo.

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