O percentual de famílias que relataram ter dívidas (com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, entre outras), alcançou 67,4% em julho de 2020 – maior nível registrado na série histórica da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Para as famílias com renda até 10 salários mínimos, o percentual alcançou o recorde histórico de 69% contra 68,2% registrados no mês passado.
“As famílias não estão conseguindo quitar todas as obrigações e estão escolhendo quais contas vão pagar”, comentou a economista da CNC e coordenadora da Peic Nacional, Izis Ferreira, ao divulgar a pesquisa na última terça (28).
A inadimplência bateu novo recorde, ficou em 12% em julho, acima dos 11,6% registrados no mês passado e superior aos 9,6% alcançados em julho de 2019. Já o percentual de famílias com dívidas ou contas em atrasos aumentou para 26,3% em julho, na comparação com o mês passado, quando o indicador registrou alta de 25,4%. Frente a julho de 2019, o percentual cresceu 2,4 pontos percentuais.
Também foi registrado um crescimento no percentual de brasileiros que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, vão permanecer inadimplentes. O indicador passou de 11,6% em junho para 12% em julho – “a maior proporção desde novembro de 2012”.
Na avaliação da coordenadora da pesquisa, por conta da pandemia de Covid-19 que aprofundou o desemprego no País e rebaixou a renda do trabalhador, “as necessidades de crédito têm aumentado para as famílias com menor renda, seja para pagamento de despesas correntes, seja para manutenção de algum nível de consumo”, disse Izis Ferreira
A principal modalidade de dívida apontada pelas famílias endividadas continua sendo o cartão de crédito (76,2%), seguida por carnês (17,6%) e financiamento de carro (11,3%).
Dados do Banco Central (BC) divulgados nesta quarta-feira (29) apontam que o juro médio do rotativo do cartão de crédito continua nas alturas, 300,3% ao ano
A pesquisa aponta ainda, que as dívidas representam um terço do orçamento das famílias. A parcela média de renda comprometida alcançou 30,3% da renda, ante os 29,9% registrados no mesmo período do ano passado. “Também entre as famílias com dívidas, 21,6% afirmaram ter mais da metade da renda mensal comprometida com pagamento dessas dívidas em julho”, frisou a pesquisadora.
A economista considera, que por conta da crise econômica que o País vive, é preciso um esforço maior de alongamento de perfil de dívida, com prazos mais longos e parcelas mais baixas, para que o consumidor tenha mais condições de quitar as obrigações em dia. “Hoje, as pessoas estão lidando com um ‘emaranhado’ de contas”, comentou Izis Ferreira.
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional) é apurada mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com cerca de 18 mil consumidores.