"Sempre tivemos papel construtivo em promover negociações”, diz o porta-voz da chancelaria da China, Zhao Lijan

“Os Estados Unidos têm espalhado informações falsas contra a China sobre a questão da Ucrânia recentemente, com intenções sinistras”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, na segunda-feira (14), respondendo à pergunta de um repórter estrangeiro sobre se a China ajudará a Rússia com armas, como propalaram relatos da mídia ocidental.

“A posição da China sobre a questão da Ucrânia é consistente e clara, e sempre desempenhamos um papel construtivo em persuadir a paz e promover negociações”, acrescentou.

Zhao também pediu às partes beligerantes que exerçam moderação e diminuam as tensões em vez de alimentá-las, exortando a que todos pressionem por uma solução diplomática.

Fake news do Financial Times

No domingo, o Financial Times divulgou a mentira de que Moscou pedira à China “equipamentos e outros tipos de assistência militar não especificada” para apoiar sua operação militar na Ucrânia.

Segundo o FT, a Casa Branca estaria “preocupada” com que “Pequim possa minar os esforços ocidentais para ajudar as forças ucranianas a defender seu país” se optasse por conceder o pedido inexistente.

Perguntado ainda no domingo, um porta-voz da embaixada chinesa em Washington reagira, dizendo que “nunca ouvi falar nisso”.

Como se sabe, é a Rússia que tradicionalmente exporta armas para a China e não o contrário.

Por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, refutou o exercício de ficção do porta-voz dos banqueiros londrinos, assinalando que a Rússia tem recursos militares suficientes para realizar a operação na Ucrânia sem solicitar ajuda de outros países.

“Os jornais escrevem muita coisa hoje em dia. Não se deve tomá-los como uma fonte primária. A Rússia tem um potencial independente para continuar a operação que, como dissemos, está se desenvolvendo de acordo com o planejado e será concluída no prazo e na íntegra”, afirmou.

Desnazificação

A operação da Rússia para “desnazificar” e “desmilitarizar” a Ucrânia e impedir a instalação de armas de ataque da Otan na sua fronteira já chegou ao 19º dia. Por iniciativa de Kiev, foram postergadas para amanhã a reunião por videoconferência dos negociadores dos dois lados originalmente prevista para esta segunda-feira.

A ação russa teve lugar depois de oito anos tentando fazer com que o regime de Kiev cumprisse com os acordos de Minsk para autonomia do Donbass e oito anos depois do golpe CIA-nazis em 2014. E após a intensificação, pelas forças ucranianas amontoadas na zona de contato, em fevereiro, dos bombardeios sobre os civis de fala russa.

Também três anos após a Ucrânia romper o status de neutralidade ao inscrever a meta de entrar na Otan na constituição, em votação no parlamento controlado pelos radicais.

E após a Rússia formalizar em dezembro do ano passado aos EUA e a Otan a exigência de que a aliança bélica interrompesse a expansão até às fronteiras russas, que já dura 23 anos, apesar de todos os compromissos assumidos quando da reunificação alemã. As propostas russas foram recusadas.

E três anos após Trump retirar os EUA do Tratado INF, que proibia mísseis de curto e médio alcance, tratado que durante três décadas impedira a hecatombe nuclear no teatro europeu.

Biolabs do Pentagono

A desinformação sobre as “armas chinesas” para a invasão russa também visa se contrapor à ação da China questionando os biolaboratórios do Pentágono operando na Ucrânia, descobertos e denunciados por Moscou.

Analistas viram ainda na fake news da China “entupindo a Rússia de armas” uma cínica inversão da panfletagem de armas que EUA e países subalternos vêm cometendo na Ucrânia, depois de terem instigado os extremistas e empurrado Kiev para a provocação do ingresso da Ucrânia na Otan. Também uma maneira de pressionar a China para que não apoie a Rússia contra o tsunami de sanções.

Sobre a questão, o jornal Global Times, que é um porta-voz oficioso do governo chinês para questões internacionais, assinalou que a China “não irá aliviar as tensões com os EUA em prejuízo das relações China-Rússia”.

Na semana passada, na mesma declaração em que rechaçou a tentativa de Washington de “criar uma Otan do Indo-Pacífico”, o chanceler chinês Wang Yi destacou que a Rússia é o “parceiro estratégico mais importante”, acrescentando que as relações China-Rússia são “cruciais” no mundo e “conducentes à paz mundial, estabilidade e desenvolvimento”.