Grupos pró-colonialismo exibem bandeiras dos EUA em Hong Kong e clamam por intervenção estrangeira. (Foto: Reuters/Jorge Silva)

Em termos enérgicos, o governo chinês repudiou a aprovação, na Câmara dos Deputados dos EUA, de projeto de lei para interferência escancarada em Hong Kong, zona administrativa especial dentro do princípio de “uma só China, dois sistemas”, e que vem vivendo uma onda de confrontos há quatro meses. A lei ainda precisa ir à plenário no Senado e da assinatura de Trump. Ex-colônia britânica, Hong Kong foi arrancada da China por meio da Guerra do Ópio e só devolvida um século depois.

Pequim advertiu que tomará fortes contramedidas contra qualquer tentativa de violação de sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento e instou Washington a recuar desses atos imprudentes.

A legislação pretende estabelecer uma chantagem permanente sobre a China, via ‘exame’ anual da ‘autonomia de Hong Kong’ a cargo dos deputados norte-americanos, podendo declarar sanções e outras provocações.

“Expressamos nossa forte indignação e oposição resoluta à insistência da Câmara dos Deputados dos EUA em adotar a chamada “Declaração de Direitos de Hong Kong sobre Direitos Humanos e Democracia”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang.

Como ele enfatizou, “Hong Kong é Hong Kong da China, os assuntos de Hong Kong são puramente assuntos internos da China e nenhuma força externa pode intervir. Aconselhamos os EUA a reconhecer a situação, interromper imediatamente a promoção do projeto de lei sobre de Hong Kong e interromper imediatamente a intervenção nos negócios de Hong Kong e nos assuntos internos da China”.

Geng reiterou que a questão que atualmente aflige Hong Kong “não é a chamada questão dos direitos humanos e da democracia, mas a questão da interrupção da violência, da restauração da ordem e da manutenção do Estado de Direito o mais rápido possível”.

O diplomata denunciou que a Câmara dos Deputados dos EUA “ignora os fatos, inverte o preto e o branco e chama de direitos humanos e democracia a crimes graves como incêndio criminoso, vandalização de lojas e agressões violentas”.

O que classificou de “padrão duplo, que expõe completamente certas pessoas nos Estados Unidos e sua hipocrisia extrema e intenções sinistras de minar a prosperidade e estabilidade de Hong Kong e conter o desenvolvimento da China”.

Geng advertiu que, se persistirem na aprovação, isso não apenas prejudicará os interesses do lado chinês, mas também prejudicará as relações sino-americanas, além de minar seriamente os interesses dos Estados Unidos.

Nos últimos dias, Pequim tem posto a nu o apoio financeiro, político e operacional fornecido por Washington, com os fatos mais notórios sendo a ida de delegação ao EUA antes do início dos distúrbios, as vinculações de certos magnatas de Hong Kong com o establishment ianque e até com o arrivista Steve Bannon, além do flagra à luz do dia numa ‘conselheira da CIA’ (Julie Eadeh) com os ‘líderes’ das ‘mobilizações’.

Vários desses líderes apareceram na fracassada ‘revolução dos guardas-chuvas’ de 2014 – que a BBC, na maior indiscrição, revelou ter sido preparada com mais de um ano de antecedência por uma fachada da CIA.

Também são notórias as bandeiras norte-americanas e britânicas e até um hino de ‘Glória a Hong Kong’ debutou nos tumultos, com pescadores de águas turvas tentando inventar um ‘movimento separatista’ sob encomenda.

Provavelmente não se trata de uma coincidência que a votação da ingerência sem qualquer pudor ocorra no mesmo momento em que Trump, com as eleições se aproximando, acena com alguma trégua na guerra comercial que socorra sua base de votantes entre os fazendeiros falidos.

Além dessa lei, os deputados norte-americanos aprovaram mais três provocações. A primeira, proíbe a venda de armamento e gás lacrimogêneo dos EUA à polícia de HK – como se os chineses, que são a ‘fábrica do mundo’, precisassem.

A segunda ‘determina’ que a China não deve ‘interferir’ nas relações de ‘Washington com Hong Kong’. A última é uma resolução parabenizando o governo canadense pelo sequestro da diretora da Huawei, Meng Wanzhou, atendendo ‘pedido’ de extradição apresentado pelos EUA (como parte da guerra à alta tecnologia da China).

O Comissariado da chancelaria chinesa em Hong Kong advertiu que a tentativa dos EUA de jogar a ‘carta de Hong Kong’ não irá a lugar algum e está fadada ao fracasso.

“Alguns políticos dos EUA têm endossado abertamente os arruaceiros anti-China, testando a linha vermelha do princípio ‘um país, dois sistemas’, interferindo grosseiramente nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos internos da China como um todo, e atropelando a lei internacional e as normas básicas que governam as relações internacionais”, destacou.

 

A autoridade de Hong Kong concluiu dizendo que tais atos “novamente expuseram a mentalidade hegemonista e lógica de gângster” desses deputados norte-americanos.