General Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA

O mundo está entrando em uma era de maior instabilidade estratégica, com três centros de poder – EUA, Rússia e China – emergindo no sistema de relações internacionais, disse o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto do Pentágono.

“Estamos entrando em um mundo tripolar no qual Estados Unidos, Rússia e China são grandes potências. Na minha opinião, estamos entrando em um mundo que será potencialmente mais volátil do ponto de vista estratégico se comparado, por exemplo, com o passado 40, 50, 60 ou 70 anos “, afirmou Milley durante o Fórum de Segurança Aspen.

O comandante militar do Pentágono também frisou que será de grande importância “manter a paz entre as grandes potências ”, acrescentando que Washington, Moscou e Pequim e todos os demais aliados devem ser “muito cuidadosos” em termos de como atuam uns com os outros no futuro.

O que essa observação tem a ver com as provocações no Mar do Sul da China ou no Estreito de Taiwan, ou no Báltico e no Mar Negro fica para ser entendida em outra oportunidade.

Em relação à Otan, Milley destacou que a aliança deve manter o diálogo com a Rússia e a China. “Acredito que neste momento estamos em um período de paz entre as grandes potências. E queremos que continue assim […] A última coisa de que o mundo precisa, os Estados Unidos e qualquer outro, é uma guerra entre as grandes potências”, assinalou.

Nesse sentido, Milley destacou que é necessária “a comunicação mútua com a Rússia, a China ou qualquer outro país”, que poderá ser realizada por meio de intermediários ou diretamente. “Acho que é a abordagem certa”, disse ele.

Foi o general Milley que ligou para seu homólogo do ELP, o general Li Zuocheng – tanto antes das eleições de 2020 como depois da invasão do Capitólio pelos trumpistas em 6 de janeiro – para tranquilizá-lo sobre a democracia americana.

A declaração do general Milley foi considerada pelo articulista do portal RT, Nebojsa Malic, como uma “admissão surpreendente” já que no passado Washington falou de Moscou e Pequim como potências regionais, na melhor das hipóteses, embora com arsenais nucleares que representam uma “ameaça existencial” para os EUA.

Agora, observou, Milley está chamando a China de “desafio número um” para os EUA, à luz dos testes de mísseis hipersônicos chineses recentemente relatados.

Pentágono quer mais dinheiro

Para Malic, a explicação mais simples para isso é o velho ditado, “siga o dinheiro”. O próprio Milley falou em Aspen sobre robótica, inteligência artificial e munições de precisão, representando uma “mudança fundamental no caráter da guerra”.

Tradução: os EUA precisam gastar mais, muito mais, em novos armamentos de alta tecnologia. Palavras que são música para os ouvidos do complexo militar-industrial dos EUA.

Depois da derrota desastrosa no Afeganistão e da perda de tudo que foi “investido” lá nos últimos 20 anos, o Congresso dos Estados Unidos aumentou o orçamento de “defesa”, mas os militares ainda reclamam que não têm dinheiro suficiente, acrescentou Malic.

Enquanto Milley falava, o Pentágono anunciava que suas estimativas do arsenal nuclear chinês haviam “aumentado drasticamente”, acrescentando que Pequim poderia ter até 1.000 ogivas em 2030. Tradução, complementa o jornalista: “os EUA precisam de mais dinheiro para uma corrida armamentista atômica”.

Ele chamou a atenção para a abordagem chinesa sobre a questão, resumida por Hu Xijin, editor-chefe do jornal Global Times, que é um porta-voz oficioso de Pequim:

“Eu sei que os Estados Unidos podem destruir a China 10 vezes, mas vamos ASSEGURAR que temos plena capacidade para destruir os Estados Unidos UMA vez”, tuitou Hu recentemente. Porque, quando se trata de armas nucleares, isso é mais do que suficiente.