Torre de Controle da Base Área norte-americana de Ramstein, na Renânia, Alemanha.

Entidades antiguerra norte-americanas denunciaram que os Estados Unidos têm mais bases militares no exterior do que embaixadas e consulados. Incrível, mas é verdade: são 800 bases militares, enquanto as representações diplomáticas são 257 (163 embaixadas mais 93 consulados).

Ao mesmo tempo, os EUA têm o maior orçamento bélico do mundo (US$ 778 bilhões em 2020), gastando mais que os seguintes dez maiores gastadores juntos, segundo os números do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).

O que não impede que os EUA venham sofrendo derrota atrás de derrota, como o ‘Momento Saigon’ em Cabul de fevereiro sublinhou de forma tão eloquente – a dita ‘maior máquina de guerra do mundo’ surrada por camponeses afegãos armados essencialmente com Kalashnikovs e bombas improvisadas.

200 mil soldados dos EUA estão posicionados no exterior e os EUA não só mantém as velhas estruturas agressivas oriundas da Guerra Fria, como a Otan, como ainda cria novas sempre que pode, caso da recém criada aliança Aukus (Austrália, Reino Unido e EUA), ostensivamente voltada contra a China.

Quanto a como as populações locais vêem tais bases, é só olhar os protestos que se repetem ano após ano em locais como Okinawa, no Japão, ou na Coreia do Sul, exigindo “go home” [volte para casa] e denunciando os tratados desiguais que isentam de culpa marines que cometem estupros ou homicídios no país ‘anfitrião’.

Ao longo dos últimos 20 anos, as incursões militares norte-americanas levaram o caos e a destruição a países inteiros no ‘Oriente Médio Expandido’ e no norte da África – Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iêmen e Somália, entre outros -, empurraram multidões de refugiados para fora de seus lares, assassinaram e mutilaram centenas de milhares de civis.

Execuções extrajudiciais com drones, decididas por um presidente ‘Nobel da Paz’, se tornaram o símbolo dessa ‘nova ordem’ unipolar. Por sua vez Trump exigiu que a taxa da “proteção” fornecida pelo Pentágono tinha de se elevada para pelo menos 2% do PIB do país ocupado – claro, a ser gasto com encomendas de armas e serviços norte-americanos.

Nem por isso a decadência amainou. Enquanto os EUA torravam US$ 8 trilhões com guerras sem fim e assalto ao petróleo, a China cuidava de se tornar, de forma pacífica, a segunda maior economia do planeta e a ‘fábrica do mundo’, acabava com a pobreza extrema, criava a infraestrutura mais avançada do mundo e desenvolvia a tecnologia e a conquista do espaço.

Agora, Washington diz que a China – além da Rússia – é que é a “a nova e grande ameaça” – apesar de ela há décadas não entrar em guerra com ninguém, ter um arsenal de dissuasão nuclear que é uma fração do norte-americano e ser notoriamente adepta da paz, da Carta da ONU, da não-intervenção e da cooperação ganha-ganha.

Às vésperas do último dia da retirada de Cabul, os EUA deixaram suas digitais de sangue, ao executar com drone uma família de dez, sete delas crianças – o que investigação do Pentágono concluiu que não houve erro e ninguém a ser punido por crime de guerra. Digitais já vistas em Faluja e Abu Graib (Iraque), El Chorrilo (Panamá), Mi Lai (Vietnã), Nogun-ri (Coreia) e Hiroxima e Nagazaki (Japão), estas, com bombas atômicas, cujo propósito essencial foi abrir a Guerra Fria.

Em tempo: com todas essas bases, com milhares de veículos queimando combustível, aviões, navios, submarinos, intervenções a rodo e essa parafernália toda, sem qualquer surpresa o Pentágono é tido um dos maiores poluidores do planeta.