Trump acabou, exige o povo na eleição de maior participação nos EUA em mais de um século

O funcionário dos Correios dos EUA Richard Hopkins voltou atrás em seu depoimento e confessou ter forjado a suposta evidência que provaria fraude na contagem de votos na Pensilvânia, estado cujo resultado deu a vitória ao democrata Joe Biden sobre o presidente Donald Trump no Colégio Eleitoral.

Na última terça-feira (10), o jornal norte-americano The Washington Post, publicou uma reportagem revelando a retratação de um funcionário dos Correios, que anteriormente havia afirmado a existência de fraudes nas eleições na Pensilvânia, estado onde Joe Biden conquistou delegados o suficiente para vencer a eleição presidencial.

O desmentido de Hopkins foi noticiado na terça-feira pelo jornal Washington Post, com base em entrevistas com três investigadores. Na quarta-feira, os democratas do Comitê de Supervisão da Câmara confirmaram o furo de reportagem.

Os investigadores disseram ao Comitê que Hopkins “que não explicou o porquê de ter assinado um depoimento falso”. Ele assinou a invencionice na sexta-feira (6) e se retratou na segunda-feira (9).

Na versão inicial de Hopkins, um supervisor do Serviço Postal de Erie, uma cidade da Pensilvânia, teria ordenado que os integrantes de sua equipe adulterassem algumas cédulas, alterando o horário de chegada, para torná-las válidas mesmo postadas em atraso. Nos EUA o voto pelo correio é totalmente legalizado e tradicional, mas as regras variam de acordo com cada estado.

História que se encaixava como uma luva nas alegações de Trump, desencadeadas antes mesmo da eleição ter começado, de que haveria fraude em massa no voto pelo correio, e depois, de que, pelos “votos legais”, ele estaria reeleito.

O presidente bilionário jamais apresentou qualquer prova de suas acusações, que tem usado para se recusar a reconhecer a derrota nas urna para Biden.

A invencionice de Hopkins serviu, ainda, para que o líder do Comitê Judiciário do Senado, e da tropa de choque de Trump no Congresso, o republicano Lindsay Graham passasse a “exigir” uma investigação federal.

O ministro da Justiça – cargo que nos EUA é chamado de procurador-geral geral -, William Barr, autorizou promotores federais nos estados a realizarem investigações antes da conclusão da contagem dos votos, subvertendo – claramente em favor de Trump – o procedimento legal no processo eleitoral.

Arbitrariedade que levou o principal responsável pela apuração de crimes eleitorais do Departamento de Justiça, Richard Pilger, a renunciar. Ele denunciou a violação da política em vigor há 40 anos de não-intervenção nas eleições, o que se concretiza em que investigações criminais só são realizadas após a homologação e certificação dos resultados.

SEM PROVA

Até agora, Trump já foi rechaçado nos tribunais em 16 ações mas segue investindo contra a eleição na Geórgia, Wisconsin, Minessota, Arizona, Nevada e Pensilvânia, sempre alegando fraude mas sem apresentar qualquer prova.

A lentidão da apuração nos estados-pêndulo tem relação com duas coisas: a participação na eleição, transformada em um referendo sobre a conduta de Trump diante da pandemia, que bateu um recorde de mais de um século, com 65%, e em decorrência da pandemia, a enorme votação antecipada e pelo correio – 107 milhões de votos.

A política negacionista de Trump diante da Covid-19 acabou empurrando o país para uma ‘guerra de postura’, com o eleitorado democrata usando máscara e acatando o distanciamento, e o eleitorado republicano se acotovelando por aí, convencido por Trump de que a pandemia ‘ia desaparecer’ ou ‘a vacina ia chegar logo’ .

Isso também se refletiu na forma de votação, com democratas preferindo o voto antecipado ou pelo correio, e os republicanos votando principalmente no dia 3.

Como os votos presenciais do dia foram apurados primeiro, deu ensejo à assim chamada ‘miragem vermelha’ [cor dos republicanos], que ia se dissipando à medida que os votos democratas chegavam, até à virada nos estados decisivos.

Foi esse fato que Trump tentou manipular, através de se declarar “vencedor” nos “votos úteis”, enquanto atribuía o resultado de Biden a “votos ilegais”, fraudados ou contados irregularmente, depois do dia final da votação.

Autoridades eleitorais tanto republicanas quanto democratas de 50 estados, ouvidas pelo jornal The New York Times desmentiram na terça-feira terem presenciado quaisquer indícios de fraude ou problemas generalizados na condução do processo eleitoral.

“Há uma grande capacidade humana de inventar coisas que não são verdadeiras sobre as eleições”, disse ao jornal Frank LaRose, um republicano que atua como secretário de estado de Ohio. “As teorias conspiratórias e rumores e todas essas coisas correm soltas. Por alguma razão, as eleições geram esse tipo de mitologia”, disse.

“Não houve quaisquer instâncias de irregularidades no processo de contar os votos, só alegações sem provas, especulação desenfreada, e teorias conspiratórias”, destacou a procuradora-geral do Michigan, Dana Nessel. “Deixe-me ser clara – as eleições de novembro transcorreram tão tranquilamente quanto sempre.”

DESINFORMAÇÃO

Há também a rede de mentiras em massa que cerca o trumpismo. Um portal do Departamento de Segurança Interna de combate aos rumores teve o trabalho quintuplicado nas eleições, precisando desmentir boatos como o da existência de um computador (“Hammer”), que usaria um programa (“Scoreboard”) para transferir votos de Trump para Biden na tabulação final.

Há também a alucinada #SharpieGate, que viralizou, segundo a qual existiria uma caneta especial – o voto nos EUA é no papel – cuja escrita sumiria, roubando votos … de Trump. E ainda #Maidengate (DonzelasGate), que alerta sobre pessoas transgênero que votam em um estado com o nome de batismo e, no estado do lado, com o nome social, por Biden.

Parte da desinformação vem do Brasil, segundo o Twitter, que detectou mais de mil contas bolsonaristas atuando durante o processo eleitoral nos EUA.

Já o vice-governador do Texas, o republicano Dan Patrick, estabeleceu um fundo de “recompensa” de US$ 1 milhão para os boateiros. A própria campanha de Trump abriu uma linha telefônica só para receber as “denúncias” que insufla.