O órgão federal responsável por apoiar a transição de poder nos EUA, GSA, informou a Joe Biden que formalmente o reconheceu como vencedor

O governador da Pensilvânia, o democrata Tom Wolf, anunciou nesta terça-feira (24) que o Departamento de Estado da Pensilvânia havia certificado os resultados das eleições e ele havia nomeado os eleitores ao Colégio Eleitoral para o presidente eleito, Joe Biden.

A certificação em favor de Biden já havia sido feita nos Estados da Geórgia e Michigan, após repetidas derrotas da campanha de Trump nos tribunais.

“Hoje [o Departamento de Estado da Pensilvânia] certificou os resultados das eleições de 3 de novembro na Pensilvânia para presidente e vice-presidente dos Estados Unidos”, registrou Wolf no Twitter. “Como exigido pela lei federal, eu assinei a Certificação para a eleição de Joe Biden e Kamala Harris”.

Sem a Pensilvânia, simplesmente não existe um caminho para Trump chegar a 270 votos no Colégio Eleitoral e se manter na Casa Branca.

Como diz o ditado popular, desgraça pouca é bobagem e também a Suprema Corte de Nevada certificou a vitória de Biden nesta terça-feira. Como consolação, a Carolina do Norte certificou a vitória de Trump no Estado.

No sábado, um juiz da Pensilvânia havia rechaçado como um “monstro de Frankestein” a indecorosa ação impetrada pelos advogados de Trump para cassar os votos da população do Estado – 6,8 milhões de votos – sob a alegação de que dois eleitores republicanos haviam tido seus votos pelo correio recusados. A equipe de advogados de Trump ainda pretende apelar, mas a certificação já está feita.

Na segunda-feira, a certificação da vitória de Biden – por 155 mil votos de vantagem – no Estado de Michigan foi sacramentada por 3 votos (dois democratas e um republicano) e 1 abstenção (de uma republicana), depois que a tentativa de cassar os votos de Detroit, cidade de maioria negra, fracassou pelo evidente caráter racista.

Também fora um fiasco a convocação de líderes republicanos do Michigan à Casa Branca, que não se deixaram convencer de que era politicamente viável rasgar o resultado das urnas (alegando a ‘fraude’) e eleger na assembleia uma chapa de delegados ao Colégio Eleitoral que mudasse o voto, para Trump.

À medida que as manobras jurídicas de Trump para reverter o resultado das urnas foram caindo uma após a outra, nem mesmo ele teve mais como adiar que o órgão federal responsável por apoiar a transição de poder nos EUA, a Administração dos Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês), formalmente reconhecesse, quase três semanas após a eleição, Biden como vencedor.

A admissão foi feita em incomum carta pessoal da nomeada de Trump, Emily Murphy, ao eleito, em que esta declara que irá finalmente por à disposição da equipe dele os locais e meios necessários para a transição, conforme determina a lei.

A existência da carta tornou-se pública assim que Trump, pelo Twitter, disse estar autorizando o início do processo de transição, mas que não estava reconhecendo nada, nem desistindo de ‘lutar’ para surrupiar a eleição de Biden.

“No melhor interesse do nosso País, recomendo que Emily e a sua equipe façam o que tem de ser feito em relação aos protocolos iniciais, e disse à minha equipe que fizesse o mesmo”, postou Trump, embelezando a rendição.

Antes, ele enfatizara que “nosso caso [de questionamento da eleição] continua FORTEMENTE, vamos manter a boa luta, e acredito que vamos prevalecer!”.

Declaração que não parece ter qualquer pé na realidade, e que busca disfarçar a derrota nas urnas, assim como o fracasso nos tribunais e a pressão de líderes republicanos cobrando que Trump acedesse e permitisse que a transição tivesse início.

Trump também agradeceu de público a Emily Murphy, que chefia a GSA, por sua “firme dedicação e lealdade”, de quem disse ter sido “assediada, ameaçada e abusada” por descumprir as normas e os costumes referentes à liturgia da transição no arcaico e pouco democrático sistema eleitoral norte-americano.

Nas palavras do New York Times, Trump – sem conceder a eleição – reconheceu “nos termos mais explícitos” de parte dele até aqui “que seu tempo na Casa Branca está chegando ao fim”.

Depois das últimas derrotas nos tribunais, Trump, de acordo com o portal Politico, voltara a fazer consultas com aliados que – com exclusão de Rudy Giuliani – o aconselharam a “dar luz verde ao processo de transição enquanto continua a procurar opções legais para desafiar o resultado eleitoral”.

Outro fator de desgaste provém do agravamento em curso da pandemia e iminente fim da ajuda emergencial no final de dezembro – este, em função da recusa dos republicanos e da Casa Branca de chegar a um compromisso, entre o que a Câmara já aprovou, de socorro às famílias e aos desempregados, de apoio às pequenas e médias empresas e aos Estados – que sustentaram o grosso do combate à pandemia, enquanto a arrecadação despencava -, bem como às escolas, e ao sistema hospitalar e à vigilância epidemiológica, e o ‘não’ do Senado sob controle republicano.

A carta bastante atrasada da senhora Murphy foi recebida com alívio pelo diretor-executivo de transição de Biden, Yohannes Abraham: “um passo necessário para começar a enfrentar os desafios que a nossa nação enfrenta, incluindo o controle da pandemia e o relançamento da nossa economia”.

Segundo Abraham, sua equipe irá utilizar os próximos dias para “discutir a resposta à pandemia, ter uma contabilidade completa dos nossos interesses de segurança nacional e obter uma compreensão completa dos esforços do governo Trump para esvaziar as agências governamentais”.

TRANSIÇÃO

Nesta segunda-feira, Biden anunciou os nomes de Anthony Blixen para a Secretaria de Estado e a ex-chefe do Federal Reserve durante o governo Obama, Janet Yellen, para o Tesouro. Ele já havia indicado Ron Klain para seu chefe de gabinete.

Mesmo entre os senadores – cujo controle, republicano ou democrata – será decidido no segundo turno de duas vagas na Geórgia, e que, portanto, no caso dos republicanos, precisam do apoio de Trump nessa batalha, vozes se levantaram contra a negação da transição, como fez o republicano Mike Lee.

Também o senador republicano de Ohio, Rob Portman, havia apelado ao início do processo de transição, além de destacar que “não há, até aqui, provas de qualquer fraude ou irregularidades generalizadas que possam alterar o resultado em qualquer Estado”.

Por sua vez, a equipe de advogados de Trump teve de anunciar o afastamento de Sidney Powell, que ao lado de um Rudy Giuliani derretendo de suor e tintura de cabelo barata, havia protagonizado a patética cena na sede do Diretório Nacional Republicano em Washington, em que culpou o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, morto há sete anos, Cuba, e o dinheiro da ‘China Comunista’ – mais George Soros – pela ‘fraude generalizada nas eleições de 2020’. Com tal enredo, fica difícil de ganhar em qualquer tribunal que seja e até escritórios de advocacia renomados andaram desistindo de atuar para Trump.

Até o dia 11 de dezembro – cada Estado tem uma data específica – os Estados têm de certificar o vencedor, sendo que no dia 14 os parlamentos estaduais oficializam os votos que correspondem aos 538 delegados ao Colégio Eleitoral, que são enviados a Washington. No dia 6 de janeiro de 2021, o Congresso dos EUA se reúne e bate o martelo. A posse de Joe Biden e Kamala Harris, que venceram Trump-Mike Pence por 306 a 232 votos no Colégio Eleitoral, será no dia 20 de janeiro. Na votação popular, Biden alcançou o recorde de todos os tempos de 80 milhões de votos, numa eleição em que a participação foi de 65%.