Pence diz que “não exclui uso da 25ª Emenda” para tirar Trump
A CNN afirmou que o vice-presidente Mike Pence já não descarta a hipótese de invocar a 25ª Emenda para depor Trump caso ele se torne “mais instável”. As informações até aqui eram de que Pence estava contra.
De acordo com a fonte ouvida pela CNN no sábado, há temor dentro da equipe de Pence de que Trump possa conduzir ações que colocariam os Estados Unidos “em risco”, e os eventos desta semana mostraram que tal opção tem que estar “em cima da mesa”.
A presidente da Câmara dos deputados, Nancy Pelosi, em entrevista ao programa “60 Minutes” da rede de televisão CBS no domingo, disse que a Câmara tentará aprovar uma resolução por consenso unânime na segunda-feira de manhã solicitando que Pence e o gabinete de Trump invoquem a 25ª Emenda e retirem Trump do cargo.
Se a resolução não for aprovada por unanimidade – o que não é provável de parte dos republicanos – então a medida será levada ao plenário para uma votação completa na terça-feira. A resolução chamará Pence para responder dentro de 24 horas e, se não, a Câmara se moverá para encaminhar o impeachment de Trump.
“Ao proteger nossa Constituição e nossa Democracia, agiremos com urgência, pois este Presidente representa uma ameaça iminente a ambos. Com o passar dos dias, o horror do contínuo ataque à nossa democracia perpetrado por este Presidente é intensificado, assim como a necessidade imediata de ação”, enfatizou Pelosi.
Nos últimos dias, vêm pululando nos esgotos digitais frequentados pelos adeptos de Trump – supremacistas brancos, nazistas, delirantes da seita Qanon e negacionistas da Covid – convocatórias para um “segundo round” da Marcha a Washington, agora no dia de posse de Biden.
Essas incitações foram uma das razões para o Twitter banir Trump do aplicativo. A 25ª Emenda permite que o vice-presidente assuma o poder, caso a maioria dos membros do ministério ateste ao Congresso que o presidente está incapacitado para desempenhar suas funções.
De acordo com a CNBC, até mesmo o Secretário do Tesouro Steven Mnuchin chegou a discutir com o Secretário de Estado americano Mike Pompeo a aplicação da 25ª Emenda, mas, sem surpresa, teriam ‘concluído’ não restar tempo útil.
Novas pesquisas de opinião na sexta-feira mostram que 57% dos norte-americanos são a favor do afastamento de Trump.
Pelosi chegou a se comunicar com os altos mandos militares dos EUA, advertindo sobre o risco de Trump com os códigos das armas nucleares.
Até mesmo setores republicanos já admitem que é preciso uma ação forte contra os rompantes fascistas de Trump. Um parlamentar republicano – sob anonimato – disse à CNN que o processo de impeachment poderia ser feito rapidamente. “Nós experimentamos o ataque”, disse ele.
“Não precisamos de longas audiências sobre o que aconteceu”.
A senadora republicana pelo Alasca, Lisa Murkowski, disse que queria Trump “fora”, “ele já causou danos suficientes”. Ela inclusive ameaçou até mudar de legenda se o partido seguir como um joguete de Trump.
O senador republicano Patrick Toomey, da Pensilvânia, disse no sábado ao “The Journal Editorial Report” da Fox News que Trump tinha “cometido ofensas passíveis de impeachment” no assalto de 6 de janeiro ao edifício do Capitólio.
Ele acrescentou que o “comportamento do Sr. Trump esta semana o desqualifica de servir”, mas expressou dúvidas sobre a eficácia do impeachment dado o estreito prazo.
Por sua vez, o Senador Ben Sasse, republicano de Nebraska, disse que consideraria artigos de impeachment da Câmara contra Trump.
Também o deputado republicano Adam Kinzinger repudiou o papel de Trump na invasão do Capitólio, assinalando que ele precisar sair já.
“Apresentaremos o Artigo de Impeachment nesta segunda-feira durante a sessão pro forma da Câmara”, disse o deputado democrata Ted Lieu, que assina com seus companheiros de bancada David Cicilline e Jaimie Raskin o pedido, que é co-patrocinado por 180 deputados.
“Donald Trump incitou voluntariamente seus apoiadores a invadir o Capitólio dos EUA e interromper a transição pacífica do poder. Ele deve ser impedido e removido”. As acusações contra Trump incluem, ainda, “abuso de poder”.
Rascunho do documento assinala, também, que os comentários de Trump naquele dia foram “consistentes com seus esforços anteriores para subverter e obstruir a certificação dos resultados das eleições presidenciais de 2020”, sublinhando que Trump “permanecerá uma ameaça à segurança nacional, à democracia e à Constituição se autorizado a permanecer no cargo”.
O líder da maioria, o republicano Mitch McConnell, declarou que sob as regras do Senado um julgamento só poderia começar após o fim do recesso parlamentar, na véspera da posse. Ou então, os democratas teriam que obter 100 votos para mudar o calendário oficial do Senado.
Mas nem isso impede que a Câmara discuta e vote em questão de dias o pedido, desencadeando o julgamento no Senado, que poderia ter lugar mesmo depois que Trump deixasse o cargo. Condenado Trump, o Senado poderia votar também o impedimento a que exerça novamente a presidência.
Uma das alternativas que vem sendo discutida na Câmara é abrir e votar o processo de impeachment antes da posse, mas só abrir a fase final, no Senado, depois dos 100 primeiros dias de governo de Biden, para que as questões urgentes que afligem o país, a ajuda emergencial e a vacinação em massa contra a Covid-19, sejam garantidas. Mas há ampla maioria favorável a que Trump não pode ficar sem punição.
Embora dizendo que qualquer decisão sobre Trump é de competência do Congresso dos EUA, o presidente eleito Biden chamou-o de “um dos presidentes mais incompetentes da história dos EUA” e o acusou de “ter ativamente encorajado” a violência de quarta-feira.
Falando a repórteres de seu escritório em Delaware, Biden descreveu os assaltantes do Capitólio como “um bando de bandidos, insurrecionistas, supremacistas brancos, anti-semitas”.
“16 M não é o bastante’, como pode isso?”, acrescentou Biden, se referindo à camiseta usada por assaltantes do Capitólio de apologia do genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas na II Guerra Mundial.
“Vocês conhecem estas camisetas que eles estão usando. São uma turba de bandidos, bandidos, e são terroristas – terroristas domésticos”, indignou-se, convocando os promotores a submeter essa escória ao braço longo da lei.
No sábado, o invasor do Capitólio que ficou conhecido como “o louco de chifre” e virou símbolo da vandalização do Congresso e assalto à democracia nos EUA, entregou-se ao FBI, dizendo-se um “patriota” que apenas atendeu o chamado do presidente a Washington.