Deputados estaduais sinalizaram de forma positiva à instauração do processo de impeachment de Wilson Witzel, em reunião do colégio de líderes na terça-feira (2). Deputados como o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), André Ceciliano (PT), Luiz Paulo (PSDB) e até mesmo Márcio Pacheco (PSC), que até a semana passada liderava o governo de Wilson Witzel no parlamento, são favoráveis ao processo de impedimento.
Witzel já enfrenta 10 pedidos de impeachment na Alerj, após denúncias de corrupção em menos de dois anos de gestão. Na mesma terça, dois deputados do PSDB protocolaram denúncia na Mesa Diretora para afastar Lucas Tristão, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais.
Tristão é amigo e ex-advogado do empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito. Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, Peixoto participou de contratos fraudulentos sem licitação no governo.
“De quinta até o dia de ontem, o governo fez um movimento de tentar nos enfraquecer aqui no Legislativo. Jogou toda a estrutura do governo em oferecimento de todo o tipo de secretarias, só não ouvi a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e o próprio Governo. O resto ofereceu. Ofereceu liderança, ofereceu de Secretaria de Segurança, da Polícia Civil, de Esporte, de Governo, de todo o jeito. O comentário que faziam no Palácio é que deputado é igual jujuba, em qualquer esquina pode se comprar”, disparou André Ceciliano.
“Não posso permitir que, no meu mandato, tenha o registro de que não respeitei o parlamento, não respeitei a Casa. Então me afasto em um momento em que algumas ações (de Witzel) demonstraram profundo desrespeito ao parlamento, aos líderes (de partidos). Não tenho condições de não defender o parlamento neste momento”, disse Márcio Pacheco justificando o real motivo de sua saída, uma vez que, na sexta, o deputado havia afirmado apenas que estava “cansado” de exercer a função.
O deputado Thiago Pampolha (PDT) disse que o governo perdeu a legitimidade e chamou Tristão de “governador em exercício”. “Tristeza ver o governador perder a capacidade de liderar. Ele abraçou Lucas Tristão e virou as costas para o parlamento e a população”.
O deputado Luiz Paulo é autor de três dos 10 pedidos de impeachment de Wilson Witzel. Na terça também, o deputado federal Otoni de Paula (PSC), outro aliado de Bolsonaro, também protocolou um pedido de afastamento – o primeiro incluindo o vice-governador Cláudio Castro (PSC). “Os dois se mostraram sem legitimidade para comandar o estado. Depois de tudo que está sendo revelado de irregularidade em meio a uma pandemia, é preciso que nos livremos dessa quadrilha instalada no Palácio Guanabara”, atacou.
AMEAÇA
Após receber nesta quarta-feira (3) um pedido de um apoiador sobre uma medida no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro disse que não vai conversar com o governador Wilson Witzel. Em seguida, insinuou que Witzel será “brevemente” preso.
O apoiador, que falou com Bolsonaro na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada, se apresentou como policial militar reformado. Ele pediu ajuda contra o pagamento de uma taxa previdenciária, cobrada da categoria pelo governo do Rio.
“Eu não vou conversar com o Witzel. Até porque, brevemente, já sabe onde ele deve estar, né?”, respondeu Bolsonaro.
Bolsonaro e Witzel foram aliados durante as eleições de 2018. Witzel chegou a ter como um dos principais apoiadores na campanha um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro.
Mas a relação entre o governador e o presidente se deteriorou nos últimos meses e eles se tornaram rivais políticos. Bolsonaro acusa Witzel de criticá-lo com objetivo eleitoral. O desgaste entre os dois se intensificou com as medidas de isolamento social, tomadas pela maioria dos governos estaduais, inclusive o do Rio, para a contenção do coronavírus. Bolsonaro é contra as medidas.
Na reunião ministerial de 22 de abril, cuja gravação foi divulgada por decisão judicial, Bolsonaro chamou Witzel de “estrume”, em um momento em que criticava as ações tomadas contra a pandemia. Quando o conteúdo da reunião se tornou público, Witzel respondeu: “Que num futuro breve o povo brasileiro entenda que, do que ele me chama, é essencialmente como ele (Bolsonaro) próprio se vê”.