PCdoB se fortalece no Rio de Janeiro com pré-campanha e novas filiações
Uma feijoada popular na zona norte, no último dia 19 de março, mostrou a força da pré-candidatura do advogado e ativista Roberto Monteiro, do PCdoB, a vereador no Rio de Janeiro. Cerca de 800 pessoas participaram da atividade – a maior de sua pré-campanha.
“Domingão de feijoada, de canto pela democracia, samba e reencontros. Receber centenas e centenas de pessoas de todo o canto da cidade do Rio me alegrou enormemente”, postou Roberto em suas redes. Entre as lideranças presentes estavam o deputado federal Lindberg Farias (PT-RJ), a deputada estadual e pré-candidata a prefeita Dani Balbi (PCdoB-RJ), a ex-deputada Enfermeira Rejane (PCdoB-RJ) e o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer.
A eleição municipal de 6 de outubro se tornou uma espécie de “Dia D” para o PCdoB no estado do Rio de Janeiro. É nessa data que 13 milhões de eleitores vão às urnas para definir prefeitos e vereadores das 92 cidades fluminenses. Em meio ao processo de revigoramento partidário e a uma campanha estadual de filiação, os comunistas começam a tirar do papel o projeto eleitoral de 2024. O apoio à pré-candidatura de Roberto Monteiro é uma das boas notícias deste período.
“Dos 40 municípios onde vamos disputar as eleições, temos pré-candidaturas mais competitivas em 20. Mas a prioridade – o centro do nosso projeto – é voltar a ter representação parlamentar na capital”, resume Daniel Iliescu, presidente estadual do PCdoB.
Concentração
A Câmara Municipal do Rio é a segunda maior do País, com 51 cadeiras de vereador, quatro a menos que São Paulo (SP). Além de Roberto Monteiro, o Partido apresenta a pré-candidaturas da assistente social Rafaela Albergaria. É a primeira vez em décadas que o PCdoB lança apenas dois nomes na eleição ao Legislativo carioca.
A tática de concentração é considerada inevitável para garantir uma vitória que não é alcançada desde 2008. O último comunista com mandato no parlamento carioca foi justamente Roberto Monteiro, vereador de 2007 a 2012. Sua atuação combativa lhe rendeu votações sempre crescentes: ele passou de 5.678 votos em 2004 para 14.061 em 2008 e 17.535 em 2012. Nesta última disputa, porém, o PCdoB não alcançou o coeficiente eleitoral, o que se repetiu em 2016 e 2020.
Desta vez, o sentimento é de otimismo. Um conjunto de fatores novos favorece o campo progressista em geral e a esquerda em particular nas eleições 2024, a começar pelo retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. Nos dois últimos pleitos municipais (2016 e 2020), o Brasil estava sob governos ultraliberais e direitistas.
Outra novidade: as federações partidárias – que, para fins eleitorais, funcionam como as antigas coligações – vão “estrear” na batalha às prefeituras e às câmaras municipais. Ao lado de PV e PT, o PCdoB compõe a Federação Brasil da Esperança (FE Brasil). O bloco soma cinco vereadores no Rio – quatro do PT e um do PV. Dirigentes acreditam que, além de reeleger os vereadores atuais, a FE Brasil tem condições de conquistar mais duas ou até três cadeiras na Câmara.
“A criação das federações partidárias foi uma grande conquista contra o retrocesso democrático”, avalia Daniel Iliescu. “Podemos dizer que a federação é uma ‘coligação permanente’, que nos dá maior viabilidade eleitoral. Isso se reflete no número de filiações recentes ao Partido, especialmente de lideranças.”
Mais filiações, mais bases
O caso carioca é emblemático: Roberto Monteiro regressou ao PCdoB neste ano, e Rafaela Albergaria também se filiou recentemente. A chegada dos dois pré-candidatos ajudou a impulsionar uma onda de adesões ao Partido em todo o estado. “Nos últimos três meses, registramos 320 novas filiações”, conta o presidente do PCdoB-RJ. “Vamos chegar a 600 até junho ou julho.”
Na opinião de Iliescu, essa expansão se deve às “posições firmes” do PCdoB, o partido “da luta pelo socialismo”, que “tem a classe trabalhadora como referência”, com “linha própria e visão ideológica” claras. “Ao mesmo tempo, defendemos uma frente ampla para construção de um país democrático, soberano e desenvolvido, com emprego, saúde, moradia e outros direitos”, afirma. “E buscamos cada vez mais a representatividade, o que nos torna uma alternativa para mulheres, negros e outro segmentos.”
O Partido também deliberou que a campanha de filiação será “casada” com os planos de estruturação partidária no estado. “Temos uma meta: a cada dez filiações, construir duas novas bases”, afirma Graziele Monteiro, secretária de Organização do PCdoB-RJ.
Segundo ela, houve importantes filiações de lideranças em cidades como Queimados, Volta Redonda, Angra dos Reis, Cabo Frio e Duque de Caxias. “Em 6 de julho, faremos um ato estadual da Federação Brasil da Esperança. A orientação é que todos os nossos pré-candidatos participem, bem como as lideranças que vieram agora para o PCdoB.”
Dos 80 comunistas que devem concorrer a vereador em todo o estado, a dirigente chama a atenção para nomes como Leonardo Giordano e Walkíria Nictheroy (Niterói), Lívia Miranda (Petrópolis), Isaac Ricalde (São Gonçalo) e Igor Corrêa (Maricá). “São pré-candidaturas muito consolidadas, que vamos priorizar”, diz Graziele.
Na capital
A preocupação de associar a pré-campanha ao revigoramento partidário está igualmente no radar do PCdoB na cidade do Rio de Janeiro, onde o comitê municipal é presidido por Rodrigo Weisz, o Digão. De acordo com ele, como as pré-candidaturas de Roberto Monteiro e Rafaela Albergaria trafegam “em raias diferentes do eleitorado”, o Partido vai dialogar com diversos nichos do eleitorado em 2024.
“O Roberto, além de liderança vascaína, é um quadro político, que já foi conselheiro da OAB-RJ e diretor do Sindicato dos Advogados”, afirma. “Um vereador como ele – que tem propostas para mobilizar os trabalhadores e para derrotar o neofascismo – fortalecerá uma posição mais avançada em uma Câmara onde Carlos Bolsonaro é vereador.”
Sobre Rafaela, idealizadora do Observatório dos Trens e articuladora do Mulheres Negras Decidem, Digão destaca suas “contribuições muito qualificadas” sobre temas como a mobilidade urbana. “A Rafaela é a principal referência do Rio nesse debate sobre o transporte público e a mobilidade.”
Sua opinião é compartilhada pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Rafaela Albergaria é exatamente o que precisamos agora na política: pessoas que ousem sonhar com uma cidade melhor e um mundo mais justo”, afirma a parlamentar. Após participar de um encontro com Rafaela na residência do antropólogo Luiz Eduardo Soares, Jandira elogiou as “pautas arrojadas” da pré-candidata, como a tarifa zero no transporte público.
Digão acrescenta que, já em 2022, os comunistas tiveram um ótimo desempenho eleitoral na cidade. “Só com os 45 mil votos que recebeu na capital, a Jandira já teria sido eleita deputada federal. Foram 10 mil votos a mais do que em 2018”, ressalta o presidente municipal do PCdoB. Da mesma maneira, em quatro anos, a votação de Dani Balbi no município saltou de 7.119 para 46.431.
Boletim e QR Code
Para criar raízes numa cidade com mais de 6,2 milhões de moradores, conforme o Censo 2022, o Partido investe em comitês distritais e organismos de base, aproximando-se dos locais de moradia, estudo e trabalho. “Atualmente, temos dez comitês distritais e diversas bases em funcionamento”, afirma o secretário municipal de Organização do PCdoB, Rodrigo Lua. “Realizamos agora conferências distritais no Méier, na Zona Norte e na Zona Oeste. Em 15 de junho, vamos promover o Encontro Municipal de Quadros de Base.”
O PCdoB Rio mantém, ainda, a tradição de instalar banquinhas nas ruas para conversar com as pessoas e convidá-las a se filiarem ao PCdoB. A Secretaria Municipal de Comunicação, a cargo de Ana Paula Brito, lançou o boletim “Comuna Carioca” para ser distribuído especialmente nessas atividades. A edição de maio inovou com um QR Code que facilita a filiação do leitor ao Partido.
Todos esses esforços dão novas perspectivas para o PCdoB-RJ. “Entendemos a importância de fazer de 2024 um ano de avanço da democracia contra a extrema-direita”, afirma Daniel Iliescu. “Contra a extrema-direita, as milícias, o crime organizado e o fundamentalismo, é preciso trazer para o Rio de Janeiro a oportunidade que o povo brasileiro garantiu ao País na eleição de 2022: um ciclo de mais crescimento, desenvolvimento, progresso e políticas públicas.”