PCdoB reúne-se com embaixadores do Irã, Rússia e Síria
O novo secretário de Política e Relações Internacionais e vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino, visitou, no final de agosto, as embaixadas do Irã, da Rússia e da Síria. Em todas estas visitas, relevantes pontos de vista foram compartilhados entre os comunistas e os representantes diplomáticos destes países.
Irã: Brasil fortaleceu sua influência internacional quando favoreceu o multilateralismo
Na visita à embaixada da República Islâmica do Irã, o embaixador Seyed Ali Sagheyan pediu informações sobre a situação política do país, sobre a sucessão presidencial e fez questão de conhecer a opinião do PCdoB. Mostrou um interesse especial sobre a situação em que se encontra o ex-presidente Lula, considerado por ele um grande amigo do Irã e um chefe de estado que contribuiu muito para a solução do impasse do programa nuclear iraniano.
O embaixador Seyed Ali Sagheyan disse que o Brasil e o Irã mantêm relações diplomáticas há mais de 100 anos, mas que elevou o seu nível de relações diplomáticas depois da Revolução Islâmica e especialmente durante os dois mandatos do ex-presidente Lula. O auge foi quando da proposta brasileira de resolução da questão nuclear iraniana.
Destacou também que houve um incremento da cooperação entre o governo brasileiro e o governo iraniano, mas que o intercâmbio comercial atualmente ainda é relativamente pequeno, dado o potencial dos dois países. A balança comercial está na casa dos 2 bilhões e meio de dólares.
No campo político, considera que o Brasil atingiu um alto nível de projeção internacional quando fortaleceu o multilateralismo, destacando que o Irã sempre contou com o apoio brasileiro nas resoluções do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O embaixador iraniano lembrou o bom relacionamento que sempre existiu com o PT e o PCdoB.
O embaixador, em nome do governo iraniano, fez um convite para que o Partido Comunista do Brasil faça uma visita oficial ao país persa, para conhecer de perto a realidade política, econômica, social e militar, quando se avizinha a data em que se celebrará os 40 anos da Revolução, a ser comemorada em fevereiro de 2019.
Walter Sorrentino agradeceu a recepção calorosa e as palavras amigas do embaixador Seyed Ali Sagheyan, destacando que assumiu recentemente a tarefa de Secretário de Política e de Relações Internacionais e se comprometeu a continuar as boas relações do PCdoB com a embaixada do Irã em Brasília — elevando sempre a novos patamares as relações de cooperação e de solidariedade.
Sorrentino disse que o PCdoB dá muita atenção a grandes países do mundo como a China, o Irã, a Rússia e a Índia entre outros, que são países que almejam o desenvolvimento soberano, para construir um mundo de paz e de cooperação compartilhada. Por estas razões, as relações do Partido não são apenas de nível ideológico, mas de caráter humanitário, cooperativo e de solidariedade.
Rússia: Brics é o núcleo de uma nova configuração das relações internacionais
Walter Sorrentino também visitou a Embaixada da Federação Russa. Ao encontrar-se com o embaixador russo Sergey Akopov, apresentou-se e à sua equipe em Brasília, dizendo que “países como os nossos poderão trilhar caminhos de autodeterminação, de soberania e de desenvolvimento”, disse Sorrentino, “pois afinal vivemos sob a ofensiva imperialista dos Estados Unidos, E acho que podemos dizer que este é o nosso inimigo em comum, pela guerra comercial e o protecionismo que promove contra a China e outros países e pelas tentativas de hegemonizar o mundo, e pelos bloqueios que insistem em manter contra a Rússia, contra o Irã, contra Cuba. Esperamos intensificar o nível de troca de informações entre nós, para que possamos lutar por nossos interesses em comum”.
O Embaixador da Federação Russa, Sergey Akopov, por sua vez, declarou esperar que o Brasil possa superar a atual crise. Contudo, salientou que apesar de todos os problemas, “os BRICS continuam a buscar o fortalecimento da soberania das nações. O maior problema dos Estados hoje é a questão da soberania. Por isso temos que lutar para quanto mais países sejam soberanos melhor. Nesse sentido acho que o mundo será mais justo e mais voltado para a cooperação e o desenvolvimento. O BRICS aponta para essa possibilidade de se criar um novo patamar e um novo sistema de governança do mundo”. O embaixador Akopov argumentou que “o grande problema da atualidade é essa administração Donald Trump, nos Estados Unidos, e a política que eles estão levando adiante, é o resultado de que o establishment dos EUA está perdendo terreno e luta para preservar seu poderio. Nós todos temos que fazer uma escolha: ou só nos resta ficar reféns dos Estados Unidos, como dizem alguns, ou ao contrário não queremos ficar dependentes e vamos viver de forma soberana. E se você escolhe este caminho teremos que lutar”.
Sorrentino, em sua análise geopolítica, estimou que os russos estão vivendo um fenômeno de renascimento nacional em vários campos do conhecimento e mais recentemente com a Copa do Mundo, inclusive com o bom desempenho da seleção russa, como bem lembrou o membro da Comissão de Relações Internacionais do PCdoB, presente na delegação comunista, Wevergton Brito, as manifestações de orgulho e de autoestima e de um florescimento da nação russa. Assim os turistas que lá foram puderam ver que a propaganda americana anti-russa não é realidade.
O fato é, disse Sorrentino, “que a Rússia hoje tem uma estratégia nacional. E o Brasil é ainda uma nação muito jovem – 500 e poucos anos – que não completou sua estratégia nacional. Isso se reflete na insuficiência de um ideário nacional, na construção de uma estratégia nacional”, completou o dirigente comunista. Independentemente das disputas políticas e ideológicas que se façam, o Brasil exige que o país tenha um rumo permanente, de afirmação, de desenvolvimento, de autonomia. O Brasil a cada eleição – lembrou Sorrentino – pode ir para o Norte ou ir para o Sul, dependendo do resultado. O que um presidente faz pode ser completamente desfeito pelo seguinte. Por exemplo, disse ele, “no alinhamento político internacional do Brasil poderemos ter uma política externa independente, progressista e de paz, de desenvolvimento e cooperação – o que ajudaria muito o Brasil – e de repente podemos ter um alinhamento automático com os Estados Unidos, como é agora neste atual governo”.
Sorrentino ponderou que “apesar de pequeno ainda, o nosso Partido tem uma vocação estratégica, e jogamos um papel protagonista muito grande. Os interesses do Partido devem ser os interesses da maioria da nação. E formamos ao longo destes últimos trinta anos, junto com outros partidos progressistas, um grande campo político e social”.
“No atual processo eleitoral, teremos que ter talento e estamos moderadamente otimistas”, insistiu Sorrentino, afirmando que “o melhor que poderemos fazer é vencer as eleições – e desta forma contribuir para o fortalecimento das relações internacionais com a Rússia. Para o Embaixador – e para a Rússia – “é muito importante que o Brasil seja um país forte e soberano. Juntos poderemos fazer a resistência aos que procuram intervir nos assuntos internos de outros países”, afirmou Akopov.
Wevergton, durante o debate, lembrou que “existem setores que consideram que as sanções dos EUA contra a Rússia estão provocando dissenções na Europa”, ao que o embaixador concordou, dizendo que “isso é verdade, estas sanções estão provocando descontentamento na Europa assim como a saída de Trump do acordo com o Irã, que o Brasil de alguma maneira ajudou a construir”. Mas Akopov constatou que “não devemos nos iludir com essas dissenções porque a Europa continua mantendo também as sanções contra a Rússia”. Por outro lado, ele constata que “os laços entre a China e a Rússia vão se tornando inquebrantáveis, pois vários projetos estratégicos estão sendo assinados com os chineses, na área de energia, no plano espacial, na esfera militar etc.”.
Por fim, o embaixador Akopov argumentou que “o mundo está mudando e achamos que o BRICS é o núcleo de uma nova configuração das relações internacionais. A última reunião na África do Sul mostrou que os BRICS continuam seu caminho de integração e a cada reunião vão sendo aprofundadas as relações de cooperação. Agora mesmo uma agência do Banco do BRICS será inaugurada no Brasil. E temos que abrir caminho para um sistema financeiro internacional que não esteja baseado apenas no dólar e sim numa cesta de moedas”. O embaixador destacou que as reservas internacionais hoje em dia são calculadas em dólar, por exemplo. Mas ele informou que cerca de 2/3 das reservas russas já estão lastreadas em ouro e não em dólar. E que o maior banco russo é praticamente estatal, com mais de 50% das ações de propriedade do Estado, sendo que o seu presidente é nomeado pelo governo russo. Os bancos mais fortes são estatais hoje em dia na Rússia. Praticamente toda a economia é controlada por empresas estatais, finalizou o embaixador russo.
Embaixador da Síria: PCdoB esteve conosco nos momentos mais difíceis
No caso da visita à embaixada da República Árabe da Síria, o vice-presidente nacional e secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB, na companhia de Emília Fernandes, dirigente nacional do PCdoB, e Marcos Tenório, do Cabrapaz, também encontrou-se com o embaixador Mohamad Khafifi, que agradeceu a visita do grupo de comunistas e se disse feliz em recebê-los, por se tratar da representação de um partido que tem apoiado decididamente a luta da Síria contra os ataques terroristas que já duram sete anos. “Nós estamos vencendo a guerra e o PCdoB faz parte dessa vitória, porque está junto com a Síria desde o início da guerra. Esteve conosco nos momentos mais difíceis”, disse Khafifi.
O embaixador Mohamad Khafifi demonstrou interesse em ter uma visão precisa da conjunta brasileira, sobre a situação do presidente Lula e as perspectivas eleitorais.
Sorrentino demonstrou que a “vitória do campo popular é possível e que o nosso candidato tem boas chances de ir para o segundo turno das eleições”. Segundo ele, o cenário é o de que o candidato do PSDB Geraldo Alckmin, em aliança com outros partidos de centro-direita liberal, também poderá ir ao segundo turno, mas para isso terá que deslocar o candidato do PSL Jair Bolsonaro, que é de tendência fascista aberta, da ultradireita. Que o dilema hoje em dia das classes dominantes é que o candidato Alckmin não deslanchou ainda nas pesquisas, e se esse problema continuar estes setores dominantes poderão dar força total à candidata Marina Silva, da Rede.
“Achamos, no entanto, que não existe esta possibilidade pois a eleição presidencial está muito polarizada. Neste caso apenas um representante de cada campo político é que se viabilizará para o segundo turno. E em último caso existe a possibilidade de todos os setores de centro direita apoiarem o candidato Jair Bolsonaro”, disse o dirigente comunista.
O embaixador Mohamad Khafifi agradeceu pelas informações, que permitem a ele ter uma visão mais concreta sobre a situação política por que passa o Brasil. E mais uma vez agradeceu a solidariedade do PCdoB à Síria. Disse que desde 2011 a Síria vem enfrentando uma guerra contra grupos terroristas que são apoiados e financiados por países que não desejam a paz e a soberania dos povos. Uma guerra que já custou mais de 400 bilhões de dólares e que matou mais de 350 mil pessoas, além de mais de 5 milhões de sírios que foram obrigados a deixar o país e se refugiar em vários países do mundo.
Agradeceu ao Brasil e ao povo brasileiro pela acolhida que vem dando aos refugiados sírios, que hoje totalizam cerca de 3 mil pessoas.
Khafifi relatou que a guerra está praticamente vencida pela Síria, junto com seus aliados russos, libaneses e iranianos e com uma larga solidariedade internacional. E que, em breve, a Síria dará início a uma nova etapa, que é o processo de reconstrução do país. Segundo ele, o Brasil está entre os países que deverão participar do esforço de reconstrução da Síria.