PCdoB na eleição: falar de problemas locais, ligá-los à pauta nacional
A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, defende que os comunistas enfatizem, na campanha eleitoral de 2020, os temas de interesse local. “O desafio é resolver os problemas do povo, focar no enfrentamento das questões concretas”, afirmou a dirigente, nesta sexta-feira (9), na abertura da reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB. “Precisamos falar dos problemas locais e ligá-los à pauta nacional.”
Um exemplo, nesse sentido, foi a participação de Manuela d’Ávila no debate com candidatos a prefeito de Porto Alegre (RS) promovido pela Band. “Nossa Manuela falou dos problemas concretos da população, apresentou soluções, dialogou diretamente com os eleitores”, disse a dirigente comunista. Ex-deputada e candidata a vice-presidenta em 2018, Manu expressa, segundo Luciana, a audácia do projeto eleitoral do PCdoB: “É a afirmação de nossa projeção nacional. Essa candidatura tem grande simbolismo político.”
Na opinião de Luciana, os debates na Band, realizados na noite de 1º de outubro, foram um marco para o PCdoB: “Deu orgulho ver tantos camaradas participando, debatendo, apresentando nossas ideias e propostas.” Só nas capitais, o partido lançou 12 candidatos a prefeito, 14 a vice-prefeito e 967 a vereador. Das 90 maiores cidades do País, o PCdoB disputa a prefeitura em 40.
Além de Manuela em Porto Alegre, sobressaem as candidaturas de Rubens Júnior em São Luís (MA) e Olívia Santana em Salvador (BA). Dois outros candidatos a prefeito do PCdoB em capitais, Orlando Silva (São Paulo) e Wadson Ribeiro (Belo Horizonte), cumprem importante papel político, conforme a avaliação de Luciana. É o caso também da presença de Enfermeira Rejane como vice na chapa encabeçada, no Rio de Janeiro, por Benedita da Silva (PT).
Fora das capitais, a presidenta do PCdoB chama a atenção para os nomes de Inácio Falcão em Campina Grande (PB), João Paulo em Olinda (PE), Doutor Getúlio em Ribeirão das Neves e Marcivânia em Santana (AP). “São candidatos a prefeito com chances de surpreender”, diz Luciana. Ela destacou também a representatividade das candidaturas comunistas às câmaras municipais. Dos mais de 10 mil candidatos pela legenda do PCdoB, 37% são mulheres. Além disso, 67% se declaram pardos ou pretos.
Luciana diz que a eleição entra, nestes dias, em novo patamar, com a divulgação das primeiras pesquisas mais abrangentes de intenções de voto e o início, nesta sexta (9), da propaganda em rádio e TV. “Teremos uma disputa marcada pela pulverização de candidaturas, fruto de uma legislação eleitoral equivocada, com restrições como a o fim das coligações proporcionais e a cláusula de barreira. A máquina vai contar mais que o normal.”
Mas só a “máquina” – pondera Luciana – não será suficiente para alavancar a candidatura à reeleição de prefeitos como Marcelo Crivella no Rio e Nelson Marchezan Júnior em Porto Alegre, que estão com a popularidade em baixa. A contrapartida, em favor da direita – e, sobretudo, da extrema-direita –, pode ser o apoio mais aberto do presidente Jair Bolsonaro, que já se comprometeu com Celso Russomanno em São Paulo e o próprio Crivella no Rio. Até aqui, registre-se, esse apoio não redundou em percentuais melhores das pesquisas aos candidatos sob o manto bolsonarista.
Turbinado pelo impacto do auxílio emergencial – do qual era inicialmente contrário –, o presidente recuperou sua popularidade e vai à batalha eleitoral com influência forte. “Sob ameaça de isolamento e com revezes no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro foi obrigado a mudar de posicionamento. Como uma ‘metamorfose ambulante’, ele se afastou da retórica golpista e reorganizou o consócio que o apoia – tudo para avançar em seu projeto de poder”, afirma Luciana.
Depois de “abandonar abertamente a Lava-Jato”, “deixar de lado Paulo Guedes” e “ampliar o casamento com os militares”, o presidente fez “movimentos cirúrgicos na esfera do Judiciário” e mexeu em sua base no Congresso. Saiu “a tropa de políticos novatos” – que não impediu derrotas vergonhosas para o governo–, entram os “chamados políticos profissionais”, encarnados pelo Centrão.
Mas Bolsonaro, na visão de Luciana, mira sobretudo 2022, e não 2020. “É um presidente-candidato em busca permanente pela manutenção do poder. Faz entregas no Nordeste com base nas heranças do ciclo político de Lula e Dilma. Usa a pandemia desde o primeiro dia, seja para responsabilizar os oponentes, seja para capitalizar projetos. Não à toa, está determinado a aprovar uma novo programa de renda que faça frente ao impacto do auxílio emergencial.”
Com mais de 66 milhões de beneficiados, o auxílio deve ser extinto em dezembro e vai impulsionar o desemprego, hoje na faixa dos 14%. “Após o auxílio emergencial, o desemprego será estrutural, e não apenas um surto. Esse cenário, mais o teto de gastos, deve agravar a crise”, aponta Luciana. Um dos efeitos mais devastadores da crise é a carestia. “Precisamos denunciar a subida no preço dos alimentos, que leva pessoas e famílias para a situação de rua, para os semáforos.”
Na reunião da Comissão Política, Luciana citou versos da canção A Bandeira do Meu Partido, de Jorge Mautner, que se tornou um hino do PCdoB: “Mas a bandeira do meu Partido / vem entrelaçada com outra bandeira / a mais bela, a primeira / verde-amarela, a bandeira brasileira”. Para a presidenta do PCdoB, é mais um ensinamento sobre a conexão entre os temas locais e nacionais.
“A falta de estratégia e de planos do governo Bolsonaro para enfrentar a crise devasta a condição de vida nas cidades. São improvisações em cima de improvisações”, afirma Luciana. “Devemos ir às eleições tal como somos e reforçar nosso lugar político – o campo da democracia e da vida. Vamos pautas as questões sociais, falar do emprego, lutar por cidades mais democráticas e humanas.”