Ataques de perfil anticomunista refletem vigor das ideias socialista e crise estrutural do capitalismo.

Recentemente, o ex-embaixador dos Estados Unidos na China, Max Baucus, que representou o governo Obama de 2014 a 2017, disse que a retórica do governo norte-americano lembrava a era McCarthy, o período anticomunista que ficou conhecido como macartismo, no pós-Segunda Guerra Mundial. “Um pouco como Hitler na década de 1930. Muitas pessoas sabiam que o que estava acontecendo era errado. Eles sabiam que estava errado, mas não disseram nada. Sentiram-se intimidados”, afirmou em entrevista à rede de televisão CNN.

Por Osvaldo Bertolino*

A ofensiva contra a China insere-se na crise estrutural do capitalismo, potencializada por sua hipertrofia financeira, um contraste com a pujança da economia socialista. Sem recursos para competir no plano das ideias, os Estados Unidos, o epicentro da crise, procuram saídas valendo-se do seu poderio de hostilidades, que abrange a guerra midiática em larga escala e o seu imenso arsenal militar, combinação alicerçada nos instrumentos de imposição do seu modelo econômico em áreas sob seu domínio geopolítico, como o Brasil.

A Alemanha nazista é sempre uma referência por expressar a inflexão mais pronunciada do anticomunismo, no curso de uma grave crise capitalista e sob os escombros da Primeira Guerra Mundial, como relatou o embaixador norte-americano Joseph E. Davis e ficou registrado no livro Missão em Moscou, ao fazer uma longa descrição dos processos contra a “quinta coluna” na União Soviética pré-invasão das tropas de Hitler, onde servira de 1936 a 1938. “Todas as dúvidas foram resolvidas favoravelmente ao governo. Não havia quinta-colunistas na Rússia em 1941 (ano da invasão)”, relatou.

Já nos primeiros movimentos, ficou demonstrado que na União Soviética os combates seriam diferentes dos que haviam ocorrido na Europa, onde as debilidades dos exércitos e o trabalho de sapa dos colaboracionistas foram determinantes para o avanço nazista. No país socialista, as bases sociais para a organização de contrarrevolucionários não existiam mais — ao contrário do que ocorreu na guerra civil, após a Revolução de 1917.

O golpe e os ensinamentos de 1964

O exemplo de sabotagem nazista seria posteriormente intensificado pelos Estados Unidos por meio de um governo invisível, que conduz a espionagem e a rede de informações, um aparato maciço que emprega centenas de milhares de pessoas secretamente e conduz a política externa do país. Esse governo invisível emergiu das imposições dos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial, a chamada “Doutrina Truman”, um corpo de diretrizes das políticas externas e de segurança da Casa Branca.

Nesse âmbito, surgiram o Plano Marshall, de reconstrução da Europa, o sistema econômico de Bretton Woods, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), as intervenções na Coreia e no Vietnã e a cadeia de golpes na América Latina. As bombas atômicas no Japão – Hiroshima e Nagasaki – e o bombardeio de Dresden, na Alemanha, foram uma espécie de cartão de visitas da ordem capitalista-imperialista que emergiu das cinzas da Segunda Guerra Mundial.

No Estados Unidos, sob o pretexto de combater a “ameaça vermelha” propagada desde a Revolução Russa de 1917, verdadeiras atrocidades vinham sendo cometidas havia muito tempo. Os imigrantes passaram a ser amplamente considerados perigosos e presos sob a Lei da Sedição. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nipo-americanos foram considerados leais ao Japão e confinados em campos de internamento. Logo surgiu a onda de extrema direita, iniciada em 1947, a “era McCarthy” referida pelo ex-embaixador Max Baucus. As pessoas de esquerda foram consideradas inimigas e cruelmente perseguidas. As leis não foram alteradas, mas interpretadas de modo a forjar culpas e condenações.

O golpe militar no Brasil, em 1964, fez parte desse corolário ideológico anticomunista. Falando ao jornal O Estado de S. Paulo na ocasião, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, disse que “a revolução de 1964” estava entre os acontecimentos mais importantes para o “ocidente”, ao lado “do Plano Marshall, do bloqueio de Berlim e da derrota dos comunistas na Coréia”. Eram tempos de consolidação do modelo econômico do dólar como padrão financeiro mundial, das hostilidades na fronteira da Segunda Guerra Mundial chamada por Winston Churchill de “cortina de ferro” e da corrida armamentista da Otan.

No documento O golpe de 1964 e seus ensinamentos, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) constatou que, embora naquele momento não fosse uma organização poderosa, estava “chamado a desempenhar um destacado papel na condução da luta emancipadora do povo brasileiro”. “Pela clareza de seus objetivos, pela justeza de seu programa, pela doutrina em que se baseia, pela política que realiza e, enfim, por expressar os interesses do proletariado revolucionário, é a força que tem condições, no cenário político brasileiro, de vir a ocupar o posto de vanguarda da revolução”, afirmou.

Para atingir o objetivo seria necessário realizar um grande esforço para ampliar suas fileiras e estabelecer profundas ligações com as massas. “O PC do Brasil deve reunir em seu seio os melhores filhos da classe operária, os mais combativos trabalhadores do campo, jovens estudantes, homens e mulheres do povo, dispostos a todos os sacrifícios para redimir a pátria da opressão estrangeira e, no futuro, construir o socialismo. Forjar essa vanguarda é uma exigência impostergável do desenvolvimento histórico de nosso país”, resumiu.

Artífice de importantes acontecimentos

A síntese dessa formulação constou de um texto de Pedro Pomar, intitulado O Partido — necessidade histórica, seu último artigo de uma vasta produção defendendo o caráter revolucionário do Partido Comunista do Brasil, no qual militou desde 1934 até a sua morte, em 16 de dezembro de 1976, publicado na edição do jornal A Classe Operária de julho de 1972. Pomar comentou o documento Cinquenta anos de luta, redigido por Maurício Grabois e João Amazonas no Araguaia, na fase de preparação da Guerrilha, um resumo das lutas dos comunistas, desde 1922.

Para ele, no combate ao liquidacionismo revisionista de direita e de esquerda ganharam força questões teóricas e políticas de relevo, entre as quais a existência do Partido, de sua necessidade histórica, de suas perspectivas revolucionárias. Elucidar aqueles problemas não era fácil, requeria tempo, condições de estudos, pesquisas e debates, um clima arejado e não os de uma dura clandestinidade como a que viviam, registrou. Exigia, simultaneamente, maior amadurecimento teórico, ampla visão histórica e aguda percepção política.

A existência do Partido Comunista do Brasil naquele longo tempo, disse Pomar, dava a ideia da magnitude do empreendimento e da força das aspirações revolucionárias do proletariado brasileiro. De outro modo, não se podia compreender como o Partido tinha suportado tão duras perseguições e subsistido. Nunca seria demais relembrar a saga de heroísmo e sacrifícios de todos os que lutaram para que a chama da revolução e do socialismo, sustentada pelo Partido Comunista do Brasil, iluminasse sem cessar a marcha do povo brasileiro, escreveu Pedro Pomar.

Segundo ele, cinquenta anos eram, sem dúvida, mais que suficientes para avaliar a significação de uma corrente política e o destino que lhe estava reservado. Atuando em um período tão largo e dos mais agitados e fecundos da história do país e do mundo, a prática do Partido Comunista do Brasil não podia deixar de oferecer lições riquíssimas que permitiam julgar se sua existência havia sido ou não necessidade imperativa das condições concretas brasileiras e do movimento operário.

Um partido político só se revela historicamente necessário quando fadado, pelas condições objetivas, por interesses reais, por seu programa, sua conduta e sua direção, a tomar o poder e a edificar um novo regime político e social, afirmou. No momento em que se escrevesse a história completa do Partido Comunista do Brasil — asseverou —, melhor se comprovaria que sua existência obedecia à lógica férrea da evolução social brasileira, se tornava parte integrante, inseparável, da história do proletariado e do povo brasileiro.

Naqueles cinquenta anos, lembrou Pedro Pomar, o Partido Comunista do Brasil, além de expressar politicamente a presença da classe operária na vida do país, havia sido o principal artífice de importantes acontecimentos. Promovera grandes movimentos e campanhas políticas e chegara a dirigir a insurreição nacional-libertadora de 1935. Tais sucessos tiveram enorme ressonância, elevaram o nível da consciência anti-imperialista e democrática das massas populares e contribuíram para desmascarar o caráter reacionário e traidor das classes dominantes, enfatizou.

Na sua reorganização de 1962, disse Pedro Pomar, a polêmica comprovara mais uma vez que a existência de um partido político se relaciona com a presença de um núcleo dirigente, elemento principal entre os que confluem obrigatoriamente para a sua constituição. O Partido Comunista do Brasil teve a vantagem de contar com um núcleo de camaradas de certa experiência política e organizativa, unido em torno dos princípios marxistas-leninistas e da luta para aplicá-los criadoramente à realidade brasileira, que vinha se consolidando, ampliando-se com quadros jovens.

Segundo ele, todos os inimigos haviam compreendido que a existência desse núcleo dirigente era uma premissa essencial para tornar o Partido Comunista do Brasil apto a cumprir sua grandiosa tarefa revolucionária. Atacaram-no furiosamente e continuavam empenhados em eliminar esse núcleo por todos os meios a seu alcance. Não obstante, assim agindo eles ajudavam a demonstrar a importância decisiva, para o Partido Comunista do Brasil, de uma direção que procurava se colocar, teórica e politicamente, à altura de suas responsabilidades históricas.

Mentalidade pequeno-burguesa, de sectarismo

A tese de um núcleo de dirigente como um estado-maior revolucionário era antiga. Na década de 1940, Pedro Pomar publicou um longo trabalho, intitulado “Por uma justa política de quadros”, em três edições sucessivas do jornal A Classe Operária.  A sorte da linha política dos comunistas dependia, segundo Pedro Pomar, de comunistas responsáveis, ativos e inteligentes. Enfim, de quadros experimentados. Onde encontrá-los? Eram essas as questões que, segundo Pedro Pomar, mereciam considerações e preocupações. Depois de constatá-las, cabia à direção do PCB encontrar meios para respondê-las.

Pomar recorreu a Lênin, citando que o líder soviético asseverava que a sociedade engendra, a todo momento, novos lutadores que por um motivo ou outro ingressam no grande exército de luta do proletariado. Alguns trazendo sua experiência e quase todos adquirindo a consciência de elementos de vanguarda, assimilando a teoria revolucionária, aprendendo que é impossível vencer sem a construção de um instrumento suficientemente unido, poderoso e disciplinado, um forte partido comunista, livre de ideologias pequeno-burguesas, firme e corajoso, isento de aventureirismos e de sectarismos que impediam sua sólida ligação com as mais vastas massas trabalhadoras.

O Partido, resultado da inteligência e da coragem do proletariado e do povo brasileiro, escreveu Pomar, filho das grandes lutas travadas pela emancipação nacional e pelos direitos democráticos, contava com membros abnegados, inclusive um núcleo de dirigentes provados e fiéis, mas que precisavam elevar o nível político e ideológico. O problema decorria da ausência de uma política de quadros e estava sendo corrigido com a instalação de uma “Comissão de Quadros”.

Para Pomar, os cursos eram fundamentais, mas os membros do PCB deveriam recordar a fórmula de Lênin de “que cada um pense pela sua cabeça”. Ou a de Maurice Thorez, líder do Partido Comunista Francês, que pedia para as bocas se abrirem. A realização daquela política de quadros — enfatizou — exigia uma mentalidade nova, especialmente dos dirigentes. A política de quadros precisava ser fundamentada no conhecimento profundo dos militantes e pelo carinho com os problemas individuais, na assistência constante ao seu aperfeiçoamento e na sua conservação, velando para que não se extraviassem do caminho por eles mesmos escolhido voluntária e conscientemente, recomendou.

Segundo ele, existia no Partido, principalmente entre os militantes antigos, uma mentalidade pequeno-burguesa, de sectarismo, terrível mal que corroía as fileiras comunistas e que poderia gangrená-las. Era a presunção da autossuficiência, da altaneria ridícula, anticomunista, dos que pensavam ser velhos marxistas e nada mais tinham a aprender com seus companheiros e com as massas. Lembrou Stálin, que sempre causticou os falsos comunistas, tolos que se bastavam e se recusavam a aprender com o povo. Era preciso ver as pessoas tal como eram e não como se desejava que elas fossem. Vê-las como indivíduos, “como unidades”, e não em blocos. Tais eram os conselhos dos mestres em relação ao problema dos quadros, comentou.

Alguns desses comunistas estavam em cargo de direção, impedindo a formação de novos quadros, porque se julgavam insubstituíveis, disse. O espírito audaz daquele tipo de comunista era substituído pelo compadrismo, o mesquinho critério de confiança pessoal, do bom amigo, apontou. Segundo Pomar, esses e outros defeitos comprometiam o centralismo democrático, a unidade orgânica, ideológica e política, sem a qual era impossível ter o instrumento de luta e de emancipação, que era o Partido Comunista.

Ao analisar a Conferência Nacional Extraordinária que reorganizou o Partido em 1962 n’A Classe Operária, Pomar afirmou que ela fora convocada para debater e enfrentar graves problemas do movimento comunista no Brasil. Não seria possível compreender o significado da Conferência sem estabelecer conexão com os acontecimentos anteriores, sobretudo os dos anos 1950. Fora um período difícil para o país — constatou ele —, que exigiu dos comunistas esforços para vencer os obstáculos “que o Partido teve de transpor para cumprir sua missão revolucionária”.

Por que o Partido venceu

Em outro momento decisivo do Partido, o processo de reconstrução após a fase aguda de ataques da Ditadura do Estado que se consolidou com a Conferência da Mantiqueira, de 1943, João Amazonas constatou que foram anos de luta contra o liquidacionismo. “É preciso dizer que a desvantagem era grande. Vencemos porque a verdade estava do nosso lado”, afirmou. A nova equipe que assumia a defesa do Partido — registrou Amazonas — eram pessoas desconhecidas quase completamente. “Afinal, essa nova equipe — Arruda, Grabois, Pomar, eu etc. — eram pessoas que não tinham nenhuma posição no Partido, na época, a não ser locais, naqueles lugares onde tínhamos atuado”, disse.

Apesar de seriamente atingido, o Partido existia e lutava, escreveu Maurício Grabois mo jornal Voz Operária. “O Partido palpitava pleno de vida na figura heroica de seu provado chefe, o camarada Prestes, que encarcerado diante dos algozes do Tribunal de Segurança, a 7 de novembro daquele ano, saudava o povo brasileiro pela passagem de mais um aniversário do maior acontecimento da história da humanidade – a Grande Revolução Socialista de Outubro. Com sua atitude, Prestes mostrava que o Partido não morrera. Onde está um comunista, está o Partido”, afirmou.

Ao comentar os 65 anos do PCdoB em artigo no jornal A Classe Operária em 1987, Amazonas disse que no combate ao revisionismo o Partido aprofundou seus conhecimentos teóricos, compreendeu mais a dialética da luta de classes, percebeu melhor a relação entre o que é e o que deve ser, entendeu o mecanismo de vinculação da tática à estratégia – a tática enquanto atuação preparatória dos momentos decisivos, e a estratégia como realização, em condições amadurecidas, do objetivo maior visado.

Por que venceu o Partido?, indagou. “Antes de tudo, pela justeza da sua orientação política e pela fidelidade ao marxismo-leninismo, doutrina imortal da revolução proletária. O partido soube dar corretas indicações no campo político em constante mutação, acompanhando passo a passo a evolução dos acontecimentos, sem cair no voluntarismo nem no empirismo cego que negam a realidade. O Partido venceu, também por saber interpretar, em diferentes momentos, o sentimento das grandes massas da população, traduzir em termos políticos o que pensava a maioria do povo”, respondeu.

Suas palavras de ordem correspondiam a situações concretas, facilitavam a mobilização popular contra a ditadura, disse Amazonas. “Fomos dos primeiros a levantar a voz por uma Constituinte livre e soberana; a reclamar a anistia para os presos e perseguidos políticos, a exigir o fim das leis de exceção, a clamar por eleições diretas como meio de acabar com o regime militar; a proclamar a ampla união do povo”, escreveu.

O Partido venceu, além disso, porque esteve sempre em ação, buscando o contato com as massas e com as diversas correntes políticas, visando a luta e a mobilização popular. O combate ao sectarismo, à estreiteza pretensamente revolucionária, ao exclusivismo autossuficiente ampliou os horizontes partidários e ajudou a ligação com os trabalhadores e as demais camadas sociais. “Organismo vivo, o Partido somente se fortalece e cumpre sua missão se se mantém permanentemente em luta nos mais diversos níveis, de acordo com a situação e o meio em que a realiza, de mãos dadas com todos os que almejam as transformações sociais”, asseverou.

O Partido venceu pondo em prática os ensinamentos leninistas de que na luta concreta é necessário ter sempre um aliado de massas “ainda que seja um aliado temporário, vacilante e instável, pouco seguro, condicional”. É o meio de utilizar as brechas que surgem inevitavelmente entre os adversários da revolução ou trabalhar com aqueles que, por incompreensão, não se situam ainda no campo revolucionário. Nas circunstâncias de uma ditadura militar fascista, essa orientação se fazia imprescindível e foi amplamente aplicada pelo Partido”, escreveu.

Reação violenta aos ideais progressistas

São formulações que enfatizam o sentido da existência do PCdoB, naquele princípio do Manifesto do Partido Comunista, como organização de uma classe fundamental, os trabalhadores, para a sua emancipação social. Mais do que em uma instituição, conforme a definição de Lênin, os comunistas se organizam politicamente como classe por seus objetivos. Isso dá a substância da afirmação de Pomar de que o Partido Comunista do Brasil é uma necessidade histórica. Os frutos de sua luta estão inscritos sobretudo nas constituições de 1946 e de 1988, resultado da atuação em diferentes frentes e dos combates às ditaduras de 1937 e de 1964, traduzidos pela atuação combativa de suas bancadas.

Algo que se assemelha à afirmação do Partido Comunista da China em seu centenário, de que seus êxitos escreveram um novo capítulo na história dos direitos humanos e criaram um milagre no esforço mundial pelo combate à pobreza. O mesmo pode ser dito das experiências socialistas, mesmo com suas limitações, tendo a União Soviética à frente. Outros processos políticos de Estado de bem-estar social são também derivações de ideias marxistas, o que lhes dão a configuração de antípodas às mazelas do capitalismo, em todas as suas variações.

Consequentemente, os ataques anticomunistas, em todos os tempos, são sempre carregados de ódio e violência. Começam pela propaganda ideológica e, não raro, se transformam em agressões abertas. A repressão à Guerrilha do Araguaia é uma manifestação dessa prática, com precedentes na Comuna de Paris, na Guerra Civil na Rússia no imediato pós-Revolução de 1917, na Segunda Guerra Mundial, na Guerra da Coreia, na Guerra no Vietnã, entre outras.

A reação violenta aos ideais progressistas é a arma do sistema que, em decadência, não encontra força moral para se manter. Lênin, o líder da Revolução Russa, analisou o fenômeno numa vasta produção, demonstrando que a guerra é um recurso essencialmente de quem já não possui condições para se manter diante da acumulação de contradições. “Os socialistas também reconhecem inteiramente o caráter legítimo, progressista e necessário das guerras civis, isto é, das guerras da classe oprimida contra a classe opressora, dos escravos contra os escravistas, dos camponeses servos contra os senhores feudais, dos operários assalariados contra a burguesia”, disse ele.

As guerras de libertação nacional marcaram o século XX, sendo a mais aguda a que liquidou a máquina militar nazifascista. Na Coreia e no Vietnã, a guerra do povo também legou importantes feitos para a humanidade. Naquele contexto, a “Nova Ordem” de Adolf Hitler fora sucedida pela “Doutrina Truman”.

Raízes fundas na história do Brasil

O PCdoB definiu o caminho da guerra popular com base na teoria de Lênin sobre a organização revolucionária. Seria a guerra do povo, um longo caminho para a libertação nacional dos ditames que Lincoln Gordon explicitou na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Esse caminho indica, sem margem para dúvidas, que a Guerrilha do Araguaia faz parte da essência leninista do PCdoB, como registraram Maurício Grabois e João Amazonas no documento A atualidade do pensamento de Lênin, escrito em 1970 na selva amazônica.

Os ensinamentos de Lênin sobre o partido, a luta ideológica, o papel das massas, a violência revolucionária e o internacionalismo, entre inúmeros outros, constituem poderosos meios nas mãos dos revolucionários, diz o documento A atualidade do pensamento de Lênin. “O pensamento de Lênin sobre o papel do partido e das massas impregna a orientação do PC do Brasil”, prossegue.

Para Lênin, conforme mostra sua vasta produção revolucionária, a organização partidária é central. A obra Que fazer? é a fonte inicial da teoria política de partido de novo tipo. O assunto esteve em suas avaliações sobre os revolucionários da Comuna de Paris, partindo do que dissera Karl Marx. Não havia um partido operário, não havia uma séria organização política do proletariado, nem fortes sindicatos, nem grandes cooperativas, disse Lênin.

A teoria leninista de organização partidária era muito cara para a Guerrilha do Araguaia, assunto que esteve também no centro dos debates que perpassaram a segunda metade da década de 1970 e o início da década de 1980. O desfecho se deu no 6º Congresso, em 1983, depois dos debates no Comitê Central até a Chacina da Lapa em 1976 e na 7ª Conferência, concluída em 1979.

O fim da ditadura militar encontrou o PCdoB firme na luta pelo socialismo, empunhando a bandeira da união do povo, da democracia, do desenvolvimento e da soberania nacional. Com essas raízes fundas na história do Brasil e no terreno da construção da emancipação social da humanidade, o PCdoB, como diz a marcha de bloco do compositor pernambucano Capiba, sempre lembrada e cantada nos dias de Carnaval do Recife e de Olinda, é madeira que cupim não rói.

 

*Jornalista, escritor e historiador.