PCdoB já deu imensa contribuição à área do Esporte, diz Nádia Campeão
Vice-prefeita de São Paulo na gestão de Fernando Haddad (2013 a 2017) e secretária municipal de Esportes na de Marta Suplicy (2001 a 2004), Nádia Campeão é representante do PCdoB no grupo de transição do esporte do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante dos desafios de realizar um diagnóstico da área e propor ações para o futuro governo, ela diz que a equipe terá que se “debruçar” sobre a recriação do Ministério do Esporte.
“O atual governo desmanchou o Ministério do Esporte como estava. Criou uma secretaria especial do esporte dentro do Ministério da Cidadania e, com isso, houve um esvaziamento. Na verdade, foi uma forma de desmonte ficando uma estrutura básica, mas muito longe daquilo que foi nos nossos governos”, disse Campeão.
De acordo com ela, a recriação da pasta será um debate importante no grupo, pois sempre há muita dificuldade de recursos no orçamento para criação de novas estruturas.
O PCdoB esteve no comando do Ministério do Esporte nos governos de Lula e Dilma. Essa experiência vai refletir nos debates?
A contribuição do PCdoB é fundamental, porque em todas as áreas dos grupos de transição, em todas elas a gente percebe que aqueles que estiveram envolvidos ou estiveram à frente de uma pasta estão inseridos nos grupos. Porque é realmente o pessoal que conhece por dentro e como funcionou os programas até 2016. Acho que o PCdoB na questão do esporte tem uma imensa contribuição. Nós temos não só o ex-ministro Orlando Silva, que hoje é deputado federal e pode ajudar bastante, mas o ex-ministro Ricardo Leiser, que ficou na reta final no ministério. É uma pessoa que mantém um vínculo com o esporte muito importante e ainda pode ajudar demais. Nós temos que partir dessa experiência, na qual o PCdoB teve o principal papel, eu diria.
Poderia nos relatar um pouco da sua experiência como gestora na área?
A minha presença nesse grupo do esporte responde por várias motivações. A principal delas é que eu fiz parte de um trabalho realizado pelo PCdoB no plano nacional por quase 16 anos, porque nós estivemos na frente do Ministério do Esporte nos governos Lula e Dilma. Essa é uma experiência do partido que teve um início meio casado entre São Paulo e o ministério. Em 2000, quando Marta se elegeu, assumi a Secretaria de Esportes de São Paulo. Foi uma primeira experiência do partido no esporte, a gente tinha pouca participação em gestão pública, até o começo do ano 2000 era tímida a nossa presença. Quando eu assumi no esporte foi uma coisa meio inusitada, como assim alguém do PCdoB no esporte? Então criou-se um certo estranhamento, dúvida se nós teríamos capacidade. E depois a vida mostrou que sim. Nos dedicamos, construímos uma política e fizemos muito diálogo no setor. Em 2002, o Lula nos convidou para o Ministério do Esporte que já tinha um pezinho. Antes disso, nós tínhamos pelos menos dois deputados que atuavam nessa área: Agnelo (Queiroz), que então era deputado federal pelo PCdoB aqui do DF, que era autor de vários projetos de leis na área do esporte, e Aldo Rebelo, que tinha um trabalho grande na CPI da Nike, ambos foram ministros. E daí pra frente o PCdoB se estabeleceu nessa área. Eu estive na secretaria de Esportes e acompanhei toda a trajetória nossa no ministério. Quando me tornei vice-prefeita, a primeira tarefa que o Haddad me deu na ocasião foi coordenar todas as ações da prefeitura pra realização da Copa do Mundo de 2014. Diria assim que eu nunca me afastei do esporte, das relações com o esporte, isso explica a minha presença no grupo.
O que esperar do grupo de transição?
Uma coisa está clara sobre o objetivo que foi informado a todos pelo coordenador-geral dos grupos, Aloizio Mercadante. Nesse período agora nós não vamos rever o programa. O objetivo é fazer um diagnóstico no que tem hoje no atual governo, como se estruturou o trabalho relativo a área do esporte, saber quais são os programas que tem, qual o orçamento que eles operam, a estrutura e o que está em andamento.
Quais são as possibilidades da volta da pasta do Ministério do Esporte?
Precisamos saber qual é a situação e o diagnóstico do que tem hoje. E com base nisso preparar um relatório. Até o final de novembro ter um diagnóstico e depois fazer um exame de quais seriam as providências das medidas que precisam ser tomadas pelo governo logo no seu início. A partir desse diagnóstico aprofundado, a gente poder fazer indicações imediatas. Então isso vai ser apresentado para o ministro, ministra ou secretário responsável pela frente do esporte. Então, se discutiu ao longo da campanha a necessidade de recriação do Ministério do Esporte. O grupo vai se debruçar sobre isso, vai analisar o que tem hoje e como e fazer indicações sobre isso. De todo modo, no primeiro momento sempre há muita dificuldade de recursos, em geral, no orçamento para criação de novas estruturas. Nesse caso, eu pelo menos penso que é um gesto [recriação] importante, mas a gente precisa ver o quanto, como e de que maneira. É uma decisão do presidente Lula e do Alckmin, mas o grupo vai ajudar a fazer essa discussão.
Há algum diagnóstico sobre o problema?
O atual governo desmanchou o Ministério do Esporte como estava. Criou uma secretaria especial do esporte dentro do Ministério da Cidadania e, com isso, houve um esvaziamento. Na verdade, foi uma forma de desmonte ficando uma estrutura básica, mas muito longe daquilo que foi nos nossos governos, quando o Ministério do Esporte adquiriu envergadura, incidência, protagonismo, muito diálogo com o setor.
Na sua avaliação, qual seria o perfil de um futuro ministro ou ministra na área?
Você ter compromisso político com aquele programa ao longo da campanha é muito importante, porque define um pouco as suas convicções após uma batalha muito decisiva como essa que ocorreu no Brasil, não foi qualquer batalha. Então o compromisso político e a clareza para aonde quer chegar são importantes a qualquer liderança que encabece o ministério. Agora é positivo também a pessoa ter uma capacidade de compreender as políticas públicas, ou seja, como ela se estrutura e se organiza, o papel dessas políticas e fazer a gestão do complexo. Porque quando você dirige uma pasta na área pública, no caso do ministério, você não dirige só aquele corpo de técnicos e pessoas, mas aquilo que é orientador do que acontece no Brasil, que se articula em muitos setores que atuam em benefício do esporte, além disso, todo o sistema dos estados e municípios. A gente vem defendendo que tenha um sistema nacional do esporte, que articule tudo isso. Então, ter a capacidade de dirigir esse complexo é importante. A gente sabe que muitas indicações tem um componente de composição política e isso é importante para afirmar uma base do governo, mas a gente sempre procura a relação com o setor.