O PCdoB de Salvador deu um passo histórico e importante com a criação do Coletivo de Luta Anticapacitista. A cerimônia de instalação aconteceu na noite desta quinta-feira, (03/08), no auditório do Sinpojud, em Nazaré, e reuniu pessoas com diversos tipos de deficiência (física, motora, intelectual e sensorial) e de várias formações profissionais (engenheiros, advogados, cientistas sociais, entre outros), militantes e convidados que lutam para promover igualdade de acesso, mobilidade e oportunidades.

Na ocasião, a presidenta do Comitê Municipal, Aladilce Souza, falou da importância da luta conjunta e chamou a atenção para a participação da militância neste processo que exigirá esforço coletivo. “Instalamos oficialmente o Coletivo Anticapacitista do PCdoB. Um Coletivo que vai reunir de maneira organizada as pessoas com deficiência para lutar pelos seus direitos, por inclusão, contra o preconceito, contra a discriminação e para garantia de políticas públicas que façam com que estas pessoas sejam incluídas socialmente. Porque a eles e elas têm sido negados diversos direitos. Salvador é uma cidade que não é acessível, é uma cidade onde você não tem rampas, não tem acessibilidade nas calçadas, o sistema de transporte também não observa as normas de acessibilidade. Temos restaurantes, espaços de diversão, cinemas e estabelecimentos comerciais que também não observam as normas de inclusão. Nós vamos nos organizar para que estas pessoas possam lutar de maneira coletiva e que todo o partido possa voltar os seus olhos e entender que é preciso lutar por uma sociedade inclusiva. Isso é uma tarefa de todo militante, em qualquer frente. Estou muito feliz porque a reunião foi um sucesso, muito participativa, muito potente e muito representativa.”

Após os debates, que tiveram como tema principal o combate ao capacitismo, foi eleita a direção do Coletivo, que terá Marleide Nogueira como secretária de política; Adelmare Santana de finanças; Maira Cavalcante de formação; Felipe Barros de comunicação e Jailson Carvalho (Jailson Cadeirante) na secretaria de organização.

Militante comunista no PCdoB há cerca de 13 anos, Marleide é mãe de Igor Nogueira, um jovem autista de 28 anos que é campeão mundial de Jiu Jtsu (2018/2022), e sempre conviveu com as barreiras e limitações impostas pela sociedade. Ela falou da luta enfrentada cotidianamente e o que representa a criação do Coletivo.

É uma luta árdua, é uma luta para reafirmação da nossa existência, é uma luta desumana, cruel e perversa justamente porque é uma sociedade capacitista. É uma das opressões que oprime, que violenta e que sentencia todos os dias a pessoa com deficiência. E a criação do Coletivo dentro do PCdoB é uma grande vitória. Significa construção coletiva, significa a desconstrução e a construção. Desconstruir mitos, desconstruir capacitismo e expressões capacitistas e construir algo coletivo observando primeiramente que são pessoas e não as deficiências, focar nas pessoas, nas suas habilidades e não nas suas limitações. Porque, afinal de contas, estamos falando de pessoas, é uma coisa óbvia. E todo ser humano tem limitação. Para mim a criação do Coletivo tem um gosto de uma conquista inexplicável, dentro do meu partido, um partido humano, um partido acolhedor, um partido de lutas humanitárias. Eu me sinto muito honrada. É um divisor de águas, é um marco. Estamos fazendo história.”

Para Adelmare Santana (Júnior), que é cadeirante, possui tetraplegia parcial e atua como Coordenador do Núcleo de Paradesporto da Sudesb, a luta coletiva colabora na compreensão e visibilidade junto à sociedade. “A luta anticapacitista é extremamente importante pra gente dar força e visibilidade à pessoa com deficiência de modo geral e ela entender de certa forma o seu local na sociedade como um todo.”

Números importantes:

Segundo o IBGE, no Brasil cerca de 46 milhões de brasileiros (24% da população total) apresentam algum tipo de deficiência (auditiva, visual, motora, mental ou intelectual). No ranking das deficiências, a visual apresenta maior incidência, afetando 18,6% da população. Em seguida vem a motora, com 7%; a deficiência auditiva, 5,10%, e, por último, a deficiência mental ou intelectual, em 1,40%, segundo dados da Cartilha do Censo 2010 Pessoas com Deficiência. Em Salvador, são cerca de 700 mil pessoas com algum tipo de deficiência física, cerca de 24% da população.