PCdoB celebra 20 anos da Escola João Amazonas
Entre os dias 19 e 21 de maio, a Escola Nacional de Formação do PCdoB João Amazonas reuniu professores e professoras de todo o país para discutir as perspectivas para o próximo período. Foi uma oportunidade para abrir a fala a todos os que vieram a São Paulo, assim como os cerca de 200 participantes remotos.
O Encontro ocorreu em meio aos 20 anos de trabalho da Escola, celebrando os milhares de dirigentes e militantes formados na teoria marxista-leninista. Participaram com apresentações a presidenta nacional e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o primeiro vice-presidente Walter Sorrentino, a secretária de Organização, Nádia Campeão e o presidente da Fundação Maurício Grabois e secretário de Formação e Propaganda, Adalberto Monteiro. Além destes representaram suas regiões Caio Botelho (BA), Maria Pereira (CE), Edval Campos (PA), Joan Edesson (Nordeste II), Aloisio Sérgio Barroso (Núcleo de Economia Política e Desenvolvimento), Nereide Saviani (coordenador pedagógica) e Ilka Bichara (Núcleo Filosofia Marxista).
Em entrevista, o diretor da Escola, Altair Freitas, avaliou os resultados do encontro pela riqueza das intervenções e debates de atualização curricular que surgiram, diante do cenário superado de bolsonarismo, e a nova governabilidade de Lula, além de todas as tecnologias que avançam atropelando a política.
Veja e leia abaixo o que disse Altair Freitas:
Como se expressou a avaliação desses 20 anos de Escola Nacional de Formação neste encontro?
Este encontro é feito no ano em que comemoramos 20 anos da reorganização de um trabalho sistemático de formação do PCdoB, no período 2003-2023, o sentimento que presidiu o encontro foi dizer e apontar que temos um trabalho bastante exitoso, que envolveu mais de 35 mil militantes e quadros dirigentes do nosso partido nas diversas atividades de formação, em especial nos nossos cursos.
Esse período também representou um processo muito intenso de formação de quadros que passam a dirigir o partido nas suas diversas instâncias nesse período. Um Partido Comunista precisa ter quadros bem formados, teoricamente capacitados e, evidentemente, filiados com conhecimento básico sobre marxismo, sobre a realidade brasileira e mundial, sobre a trajetória histórica.
O pensamento no encontro foi muito unitário nesse sentido. Esses vinte anos foram muito importantes para a permanência e desenvolvimento do PCdoB.
O encontro sentiu necessidade de atualizar o currículo?
A versão atual do nosso currículo é de 2016. Repare que foi o ano do golpe contra Dilma. De lá pra cá, o país e o mundo passaram por um conjunto de lutas intensas. Nós vivenciamos no Brasil a ascensão do fascismo, não só no Brasil, como em outras partes do mundo. Tivemos o golpe, a eleição do Bolsonaro, e tivemos a eleição do Lula em 2022.
Tudo isso nos motiva a olhar para o currículo que nós divulgamos e começamos a trabalhar na sua segunda versão, em 2016, e veio a necessidade de incorporar novos temas, novos pensamentos que se desenvolveram no âmbito do Partido, nesse período, e atualizar, também, porque todo currículo tem uma parte de conjuntura e política. Estamos falando de oito anos e vamos fazer uma revisão e atualização.
O mérito deste encontro é poder ouvir as pessoas de todo o país. Que ansiedades e insuficiências compareceram nas intervenções?
Quero destacar que, antes da pandemia, as atividades presenciais, e pelas condições, o número de participantes sempre foi muito limitado. Este encontro foi formado por cerca de 200 camaradas inscritos (remotamente), representando 21 comitês estaduais do partido por todo o país, então foi um encontro grande com camaradas que são dirigentes do partido, professores e professoras, atuam na frente de formação e de organização, como de comunicação.
Então foi um debate riquíssimo, surgiram propostas de atualização do currículo muito profundas. Os problemas do país são muitos, como também do PCdoB, sempre temos uma postura muito crítica e autocrítica ao desenvolvimento do Partido.
Então as angústias são no sentido de cursos que precisam existir, cursos que precisam tratar de outros temas. Vamos remeter essas ideias e propostas para o nosso grupo de trabalho sobre atualização do currículo que foi apresentado. Vamos ter até março do ano que vem para apresentar ao coletivo partidário um currículo atualizado e conectado com esses novos fenômenos, desses últimos oito anos, e também vendo as condições para colocar na nossa grade de curso, da nossa programação de atividades de formação, um conjunto de outras propostas que foram apresentadas no encontro.
Houve sugestões para ampliar a formação nas bases, com o PCdoB focando seu trabalho no fortalecimento da relação com a sociedade?
O trabalho de base a gente sempre tem feito. O debate nacional agora é revigorar o partido pelas bases, ampliar o volume das nossas bases militantes e orgânicas e vamos compor materiais mais simples e relacionados com esse trabalho de base. Vamos estabelecer uma parceria muito profunda com a Secretaria Nacional de Organização, com a Secretaria Nacional Sindical e de Juventude, buscando compor instrumentos de formação que sejam voltados mais diretamente para esse trabalho de base.
O PCdoB participando da governabilidade de Lula altera o papel da formação, após um longo período de resistência a golpismos e fascismo?
A vitória do Lula abre uma nova quadra histórica. Uma campanha eleitoral profundamente difícil, em que o PCdoB jogou um papel espetacular na propositura, desde o início do governo Bolsonaro, de uma resistência, a partir de uma grande frente política. Nosso partido desenvolveu o raciocínio que para derrotar o fascismo e o governo Bolsonaro era necessário compor em torno da liderança do presidente Lula uma frente ampla. E isso foi feito.
A vitória de Lula abre uma nova quadra histórica. Nós vamos nos debruçar sobre estes caminhos que o Brasil vai adotando a partir do novo governo. Com certeza isso tem impacto no conjunto do Partido e também no trabalho de formação.
Do ponto de vista estrutural do nosso trabalho de formação, nossa decisão é sempre que a escola do PCdoB é voltada para militantes e quadros no sentido da compreensão da teoria marxista, do método de análise e interpretação da realidade, criado por Marx e Engels, e desenvolvido por Lenin e os intelectuais marxistas vinculados ao nosso campo, além dos intelectuais do próprio PCdoB. Evidente que algumas ações do trabalho de formação precisam dinamizar, e eu estava me referindo à construção de novos produtos de formação voltados para o trabalho de base e para determinadas frentes de atuação do partido.
Com certeza será um período desafiador para o país, para o nosso Partido, que conta com a presença da nossa presidenta Luciana Santos no Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação. A partir desse encontro encerrado, nós vamos nos debruçar sobre tudo isso para desenvolver uma nova etapa de formação que tem um tempo, que é até o nosso 16o. Congresso. Até 2025, nós temos um conjunto e elementos para desenvolver e reforçar no trabalho de formação.
Com a pandemia, a tecnologia acelerou seu desenvolvimento no ensino remoto e na inteligência artificial. A tecnologia comparece como potência na formação ou como limitação?
A tecnologia é potência. Aliás, é tradição dos Partidos Comunistas ter muita conexão com aquilo que se desenvolve na tecnologia de ponta. Isso surgiu no nosso encontro. Como o nosso Partido e a nossa Escola se apropria mais desse tecnologia avançada que vem se desenvolvendo no âmbito do capitalismo? É preciso ter essa conexão com o desenvolvimento tecnológico e científico.
No caso especifico da formação, é aquela contradição: a pandemia nos remeteu para ficar em casa por um período prolongado, e ao mesmo tempo tivemos o desenvolvimento bastante acelerado de novas tecnologias de comunicação, de reunião e de desenvolvimento de cursos. Nós conseguimos nos apropriar do centro dessas tecnologias. Ganhamos uma escala espetacular, possibilitando atividades de formação, recursos especiais que alcançam o Brasil inteiro, que alcançam centenas de militantes do Partido com um custo baixíssimo.
Então, a gente vai agora, nessa próxima fase, sofisticar. Fizemos um balanço mais real sobre o alcance e a efetividade desse trabalho remoto, mas a gente tem certeza que esta é uma dinâmica que veio para ficar e o nosso desafio, agora, é sofisticar e aprimorar estes instrumentos e colocá-los a serviço da formação do PCdoB.
Como estão as perspectivas para ampliação da escola nos estados? O que você destacaria dessas experiências regionais?
Nossa expectativa é sempre construir no âmbito de cada comitê estadual as sessões estaduais da escola. É uma dinâmica complexa, porque temos estados com variáveis graus de desenvolvimento econômico e do próprio partido, com lutas muito específicas em determinados estados. Então, isto agrega complexidade ao trabalho de formação.
Neste período de 2021 para cá, nós reconstruimos e reorganizamos as sessões regionais Nordeste II, que engloba cinco comitês estaduais na região Nordeste, a sessão Norte I, que engloba sete comitês estaduais, a Sessão Sul, com três, e vamos agora construir, de imediato, passado o encontro, a Sessão Centro-Oeste e uma parte da Sessão Sudeste, envolvendo o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
A experiência do trabalho regional é muito positiva. Porque no trabalho regional, aquelas sessões da escola que têm mais desenvolvimento e têm mais tempo de desenvolvimento de atividades de formação, contribuem com aplicação de cursos naqueles comitês estaduais e municipais que têm mais dificuldades para realizar os processos formativos. Então é uma experiência muito bacana.
Inclusive, no sentido de estimular os estados e as nossas regiões a debater problemas estaduais e regionais. Porque o processo de formação não pode se dar apenas em torno das atividades nacionais da Escola, mas também observando a realidade local, os fenômenos locais, as contradições dos estados e regiões. Isso possibilita ao nosso partido acumular mais conhecimento e intervir na luta política local e regional de modo mais qualificado e mais profundo.
Quer deixar um recado para a militância?
Convido e convoco o conjunto da militância partidária a se apropriar dos instrumentos e materiais da Escola Nacional do PCdoB. São materiais ricos e didáticos. Nós temos uma plataforma de ensino à distância que precisa ser mais conhecida, em que, só de cursos, temos dez. Temos quase 30 vídeos e documentários com conteúdo progressista, coisas do PCdoB, longa-metragens, documentários de grande conteúdo histórico… É um instrumento muito poderoso que a nossa escola tem e que nossa militância precisa conhecer mais, usar mais para fazer o estudo individual e o coletivo.
Passado esse encontro, temos uma tarefa grande de recomunicar o coletivo partidário sobre a Escola, sobre o próprio encontro e sobre os instrumentos, fortalecendo o trabalho da nossa militância na base e dos nossos quadros dirigentes em todos os níveis de direção do PCdoB.
(por Cezar Xavier)